No dia 1° de novembro de 2015, mesmo alcançando o principal objetivo no ano, que era o acesso à Série C do Brasileirão, todos os torcedores do Clube do Remo ficaram tristes pelo fato do time ter empatado em 0 a 0, no estádio Mangueirão, em Belém, com o Botafogo-SP. O resultado em campo acabou tirando a chance azulina de disputar a decisão da Série D naquele ano. No entanto, na mesma data, algo muito pior ocorreu na sede social da agremiação, fazendo com que a eliminação passasse batido, no fim das contas. Por volta das 19h, um grupo de ladrões invadia a instituição remista e roubava um valor superior a R$430 mil.

 Na próxima quarta-feira (1º), o roubo vai completar 2 anos e, após o caso ter sido arquivado por falta de provas concretas, a certeza de resgatar o dinheiro, ou de ao menos dar sequência nas investigações, são quase inexistentes.

Enquanto boa parte dos remistas estava focada na partida das semifinais do Brasileiro da Série D, sete elementos aproveitaram a brecha para entrar na sede social, na Avenida Nazaré. Depois de render dois seguranças que estavam de plantão, o grupo arrombou todas as salas do local, arrombando o cofre que guardava o montante, na sala do departamento financeiro. O valor roubado era referente a uma parte das vendas dos ingressos do jogo, que seria destinado ao pagamento da Justiça do Trabalho, Federação Paraense de Futebol (FPF) e funcionários, além do elenco de futebol.

REGISTRO POLICIAL

Após o ocorrido, Marco Antônio Pina, na época, diretor jurídico do clube, registrou boletim de ocorrência na Policia Civil para a investigação do caso. Todos os funcionários do local, sem exceção, foram ouvidos em depoimentos. No entanto, mesmo após 2 anos, absolutamente nada foi resolvido.

De acordo com Manoel Ribeiro, atual presidente do clube e que já exercia a função em 2015, a instituição segue tentando resolver o caso. Porém, de acordo com nota encaminhada pela Policia Civil, “o inquérito instaurado para apurar o roubo na sede do Clube do Remo, pela Divisão de Repressão a Furtos e Roubos, foi concluído sem definir a autoria do crime por falta de provas”. O delegado Thiago Silva, que estava à frente da situação, encerrou o caso no segundo semestre do ano passado.


Polícia tinha pistas, mas arquivou o caso

Todos os representantes do Clube do Remo ouvidos pela reportagem criticam a Polícia Civil pelo arquivamento do caso. Para o ex-presidente André Cavalcante, o clube agiu até onde era o seu limite de atuação, tendo, inclusive, dado possíveis pistas ao delegado Thiago Silva.

“Fizemos tudo o que era necessário. Até pedir para o delegado Thiago comparecer ao Conselho Deliberativo (Condel) para explicar o andamento, mas ele no seu direito preferiu não ir. Inclusive um benemérito, chamado Orlando Ruffeil, disse saber quem roubou a sede para o delegado”, relembrou Cavalcante.

Acionado pela reportagem, Orlando Ruffeil confirmou a informação. “Um antigo aluno meu, sabendo da minha participação junto ao Remo, me disse saber quem tinha participado dessa situação. Me passou endereço e tudo. De imediato informei ao Condel e repassei ao delegado responsável pelo caso. Mas nada foi feito e não sei por quais motivos”, destacou. O delegado Thiago Silva preferiu não se manifestar.

Manoel Ribeiro afirma que está empenhado em solucionar caso, mas departamento jurídico não tem ordem para agir (Foto: Irene Almeida)

Sem provas, ocorrência foi dada como sem solução

Arquivado há mais de um ano, o caso envolvendo o roubo à sede social do Clube do Remo não vislumbra mesmo solução. Embora o presidente Manoel Ribeiro reitere o posicionamento de que, “procedimentos estão sendo feitos para o conhecimento geral, de forma oficial, da situação do sumiço do dinheiro”, nada de concreto existe para se chegar aos envolvidos.

Isso fica claro quando o departamento jurídico admite não ter nenhuma orientação para tratar do assunto. “Desde que assumi o jurídico do Clube do Remo, nada me foi repassado para atuar ou dar sequência em qualquer aspecto desse assunto”, destacou Gilmar Nascimento, advogado do Leão.

Além do próprio Manoel Ribeiro, que estava à frente do Leão na época; em 2016, André Cavalcante era quem encabeçava o Conselho Diretor (Condir). Tanto Ribeiro quanto Cavalcante, em dois mandatos, não conseguiram reaver o valor e achar os culpados.

André Cavalcante afirma que, no pouco tempo em que esteve à frente da instituição, tentou inúmeras vezes apurar o caso, mas sem êxito. “Acontece que o Remo foi a vítima, por isso não pode fazer o papel de polícia e investigar. No 3° dia da minha gestão, fui ao encontro do delegado Thiago para adiantar a situação, mas com o tempo ele decidiu arquivar, já que o caso não tinha provas. Mesmo tentando ajudar, o Remo não podia exercer a função de polícia, já que o próprio doutor Thiago disse que essa não era função nossa”, explicou.

“Foi algo realmente inexplicável”

O roubo à sede do Clube do Remo foi ao melhor estilo de filme americano: sem deixar rastros ou indícios. Dessa forma, sem materiais para, de fato, dar sequência a qualquer investigação, o caso nem na justiça foi parar, já que o inquérito arquivado trata-se apenas de um procedimento administrativo (pré-processual).

Segundo o ex-diretor jurídico da agremiação, Marco Antônio Pina, em toda sua carreira como advogado criminal, nunca tinha presenciado tal feito. “Foi algo realmente inexplicável. Tentamos coletar imagens com as câmeras de segurança dos prédios da frente, dos lados, mas nada foi útil. Como não teve o suporte de materiais necessários para averiguação, o delegado responsável arquivou o caso sem chances de poder ir à justiça”, explicou Pina, que acompanhou os procedimentos iniciais da situação.

O QUE DIZ A LEI

– O roubo é descrito na lei como subtração mediante grave ameaça ou violência. A pena prevista é de 4 a 10 anos e multa.

– A lei também prevê aumento de pena para o cometimento de crime sob certas circunstâncias como, utilização de arma, auxílio de mais uma pessoa, restrição de liberdade da vítima, entre outras.

(Matheus Miranda/Diário do Pará)

 

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