Reencontro com a elite nacional
Justo no “Re-Pa do Século”, como o jogo ficou conhecido, quis o destino que o Remo conquistasse o sonhado acesso à Série B, depois de 13 longos anos de espera. As lutas e os solavancos desse período ajudaram a forjar a caminhada deste ano de pandemia, quando era pouco provável que o time alcançasse êxito na Série C.
Como o futebol não é ciência exata, as coisas muitas vezes se ajustam ao sabor do imponderável. Quando Remo e PSC se classificaram para a segunda fase da competição ficou a clara impressão de que ambos poderiam se atrapalhar, dificultando um evento acesso duplo.
Se houve alguém que se atrapalhasse foi o PSC, que perdeu os clássicos desta etapa. O Remo aproveitou os dois confrontos com o rival para acumular seis pontos dos 10 que somou até a 5ª rodada.
No primeiro duelo, o Remo saiu perdendo e virou para 3 a 1, com autoridade e competência. Na batalha de ontem, caracterizada mais por garra e coração do que pela criatividade, a frieza azulina para se impor em momento crucial do jogo garantiu a vitória magra, mas importantíssima, seguramente a mais memorável deste século pelo valor da conquista.
Felipe Gedoz, criticado pelas faltas mal cobradas desde que entrou na equipe, acertou o pé na execução de um tiro livre da intermediária, aos 34 minutos. A bola saiu forte e com efeito assustando o goleiro Paulo Ricardo, que espalmou para a frente, onde estava Salatiel, que só fez tocar rasteiro em direção às redes.
O placar não foi mais movimentado, mas o clássico teve momentos de grande emoção e dramaticidade. Teve uma bola que esbarrou em Jansen e se encaminhava rumo às redes quando Vinícius, num movimento de puro reflexo, mudou a direção do pulo e tocou para escanteio evitando o gol.
Teve, antes, no fim do primeiro tempo, um cabeceio de Nicolas no canto direito da trave azulina que encontrou como último obstáculo o pé do volante Lucas Siqueira, um dos nomes mais destacados de toda a campanha do Remo na Série C.
Lucas normalmente estaria junto a um dos atacantes postados na área remista no momento do escanteio, mas, como não encontrou a quem policiar, foi se postar na linha fatal. Decisão sábia e providencial.
Depois, quando o PSC atacava insistentemente e o Remo se recolhia, Diego Matos cruzou bola na área como muito perigo e Jefinho cabeceou no canto. Vinícius, para variar, estava lá, bem posicionado e firme. Um gigante embaixo da trave.
Houve um chute cruzado da direita que Nicolas quase conseguiu tocar, mas a bola saiu pelo fundo. Vinícius acompanhou com o olhar. Goleiro bom também tem a sorte ao seu lado.
Quando Mateus Anderson entrou na área, após bola passada por Nicolas, lá estava o guardião azulino para abafar a jogada e anular o lance. O PSC seguiu insistindo, até porque o Remo cedeu o próprio campo depois que Tcharlles, Hélio e Gedoz foram substituídos por Dioguinho, Carlos Alberto e Eduardo Ramos.
Até Micael virou ala direito e andou cruzando sobre a área. A típica jogada de uma nota só, previsível e bem anulada pelo comportamento irrepreensível dos zagueiros Rafael Jansen e Fredson. Com a ajuda de Charles e Lucas, formaram uma muralha na grande área remista.
O PSC teve bola e campo, mas não teve ideias a desenvolver. O Remo cedeu espaço, aceitou a pressão e tinha um projeto a cumprir. Paulo Bonamigo correu riscos, mas alcançou o objetivo pretendido. Na lógica cartesiana da Série C, tudo acabou bem porque a vitória foi obtida.
No gramado do Mangueirão não houve sinais de brilhantismo, raros lances de categorias, mas os honraram suas campanhas, com luta e persistência até os minutos finais. O Remo foi ligeiramente melhor, por isso venceu e alcançou a glória do acesso.
Segunda vaga ainda em aberto, todos têm chances
O PSC é o time mais próximo de conquistar o acesso, pois depende exclusivamente de uma vitória sobre o Ypiranga no próximo sábado para alcançar os 10 pontos. O Londrina, que empatou ontem com o Ypiranga e deixou o Remo em posição de não mais ser ultrapassado, também segue acreditando. Tem seis pontos e virá a Belém em busca de uma vitória.
Por fim, até o Ypiranga ainda tem razões para sonhar com o acesso. Tem quatro pontos, mas, se vencer o PSC, chega a sete e ultrapassa os bicolores no saldo de gols. Ficará dependendo de um insucesso do Londrina perante o Remo.
A motivação azulina pela chance de decidir a Série C depois de 15 anos (foi campeão em 2005) é o principal combustível para que o time de Paulo Bonamigo lute pela vitória e, com isso, acabe por favorecer o PSC, caso este empate em Erechim.
Gestão foi fundamental para a caminhada azulina
No ano castigado pelos flagelos da pandemia, sem torcida nos estádios para gerar renda e sérias dificuldades orçamentárias, o Remo caminhou com segurança e competência ao longo da Série conquistando o acesso com uma rodada de antecedência e uma campanha brilhante.
Foram até aqui 11 vitórias em 23 jogos, 41 pontos conquistados e a presença quase certa na final do campeonato. A serenidade e a capacidade agregadora do atual presidente, Fábio Bentes, reeleito para novo mandato, estão na base do êxito sacramentado ontem.
É a prova de que grandes vitórias começam, quase sempre, fora das quatro linhas do gramado. Esforço, abnegação e ousadia podem valer tanto quanto os gols marcados na competição.