Em meio a uma brecha no vidro de alambrado do Baenão, Geraldina Silva Brito chamou o até então técnico azulino, Josué Teixeira, para uma conversa. “Falei pra ele que não podia escalar, de jeito nenhum, o Eduardo Ramos, porque eu vi o vídeo dele indo pra farra enquanto o resto do time jogava. E isso não se faz com o clube! Ele me respondeu só ‘não se preocupe’”, relembra a torcedora.

O episódio não é nada demais para uma torcedora fanática e ativa. Chama atenção apenas o fato da senhora em questão manter-se ativa e fanática aos 75 anos de idade, como é o caso de Geraldina. Alegre, expansiva e expressiva, Geraldina encanta desde a primeira troca de palavras. Cearense de nascimento, chegou a Belém em 1965, vinda de Manaus, e conheceu o Remo quase por acaso – o estádio azulino ficava ao lado de sua casa. Daí iniciou uma relação de amor que nunca cessou com o clube.

Literalmente em todo jogo, em Belém, ela está lá, acompanhando o time do Leão Azul. “Jogo no início e metade de mês entro na fila e compro, mesmo tendo direito à gratuidade. Tudo para ajudar o Remo”, relata. “Às vezes, no final do mês, eu dou uma furada na fila das gratuidades para pegar a minha, porque aí já pesa”, admite a torcedora.

DOR E AMOR


Geraldina diz que até hoje só não se associou ao clube, porque não vê vantagem aos associados. “Tínhamos uma sede campestre tão linda. Cheguei a visitar várias vezes, adorava. Foi uma tristeza muito grande ver como ela foi abandonada e a perdemos por má gestão. A situação do patrimônio do clube hoje é muito triste”, lamenta.

Mas a paixão é maior. “Se me perguntam como está o meu clube, eu digo está lindo. Não importa se está em último lugar, se não tiver competição pra disputar. É o Remo!”, afirma. “Se acabar tudo e o clube ficar disputando só competições de cuspe à distância, eu com certeza vou estar lá torcendo e gritando – vai rapaz! Cospe mais longe! ”, descreve, entusiasmada.

LIÇÃO

ESSA AZULINA ACHA É GRAÇA DE PROBLEMAS

Quem vê como Geraldina é alegre e cheia de energia não imagina as batalhas que ela enfrenta. “Olha, eu tenho enfrentado um câncer nos últimos anos, mas é o que dizem. Eu digo que não sinto nada e para mim essa doença nem existe. Afinal, vou me abater para quê? Com a idade que eu tenho, temos mais é que viver. A hora de viver é agora” comenta a torcedora.A doença é uma batalha de 5 anos da azulina. Foram 25 sessões de quimioterapia, radioterapia entre outros procedimentos. Mas nada disso a afastou dos estádios.”Numa das sessões de quimioterapia, meu cabelo começou a cair. Fui ver um treino lá no Baenão e, ali mesmo, raspei a minha cabeça e assumi a careca”, conta. “Depois, quando meu cabelo começou a crescer, tingi todo de azul marinho! E assim foi, começava a cair eu raspava e pintava de azul marinho”, lembra.

TORCEDORA VIP

O câncer não aguentou o ritmo e a energia da torcedora. Regrediu. Segundo os médicos, sumiu. Mas a ideia de pintar o cabelo de azul marinho ficou, e ela está se preparando para estrear uma nova tintura numa excursão para o jogo contra o Fortaleza, na capital cearense, na estreia azulina no returno da Série C. “O grupo de torcedoras Leoas Azulinas veio me procurar para participar da excursão com elas. Eu já queria ir, como fui várias vezes, mas agora foi especial porque elas vieram aqui na minha casa pra fechar o pacote da viagem. Acho que vai ser uma grande festa” se anima.

(Taion Almeida/Diário do Pará)

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