Além da fundação do DIÁRIO, o ano de 1982 também é especial para o torcedor do Paysandu. Após uma década, o time bicolor voltava a dominar o futebol local. Se nos anos 70 o torcedor bicolor sofreu vendo o Remo emparelhar 3 tricampeonatos seguidos (os 3 últimos de forma invicta), na década de 1980, o papão brilhou. Começando com a sequência de títulos entre 1980-82, na primeira vez que o time conquistou três títulos seguidos desde a Era Quarentinha.

E coube ao jornal a missão de cobrir e fazer o registro desse feito histórico, o primeiro registro jornalístico e esportivo nas suas páginas. “Lembro que no início dos anos 2000 a revista Placar fez uma edição especial só com os times mais fortes a conquistar o título estadual por cada um dos grandes clubes no século XX”, comenta Samuel Cândido, camisa 5 bicolor na época e, hoje, treinador. “E aquele time do Paysandu, foi eleito o Campeão do Século. Definitivamente era o time, tecnicamente, mais forte onde eu já joguei”.

O mesmo diz o ex-atacante Careca, eleito revelação e craque daquela competição. “A gente dizia que naquele ano o Paysandu tinha, entre banco de reservas e titulares, 3 times do mesmo nível”, diz. “Era uma competição interna muito grande, porque se você não ia bem, não faltava gente de qualidade pra te barrar”. Realmente não faltavam nomes marcantes naquele time campeão, como Cabinho, quarto maior artilheiro da história do clube com 127 gols. Ao lado dele, atacantes como Patrulheiro (campeão cinco vezes pelo Paysandu), Nilson “Diabo” Santos, e Mesquita, multicampeão por Tuna e Remo e artilheiro do campeonato do ano anterior. E também, claro, Careca.

CONFIANÇA

Conquistar o tricampeonato na sequencia de um tri do maior rival foi um feito de lavar a alma para torcida e direção alviceleste. “Houve uma certa tensão e nervosismo antes do último jogo. Lembro que a euforia foi tão grande que recebemos o troféu das mãos do governador do estado na época, Alacid Nunes – que também era o nome do estádio”, relembra Samuel Cândido. “Jogávamos por dois empates, mas eles conseguiram empatar no último minuto o jogo na primeira decisão. Então havia a questão da rivalidade, superação. Fomos mais concentrados que o normal para aquele último jogo” relembra o ex-atleta. Em um elenco que era uma verdadeira reunião de craques da história bicolor, coube a um dos atletas menos badalados do time fazer o gol da vitória – Zezinho, o “Siri na Lata”. O placar Final: 1 x 0 contra o maior rival, o Clube do Remo. O primeiro jogo havia sido 0x0.


A importância dos tricampeonatos

– Ao longo de sua história o Paysandu se sagrou 5 vezes tricampeão paraense. Em cada ocasião, o feito marcou uma época. Além dos 5 tris o Papão conquistou ainda um pentacampeonato entre 1942-47 e um tetra entre 1920-23.

– 1º TRI (1927-1929 – Marcou o momento em que o Paysandu começou a encostar na marca de conquistas azulinas, que começaram a disputar o torneio bem antes. Ao final do tricampeonato o placar de títulos era de 10 para os azulinos contra 7 dos bicolores.

– 2º e 3º TRI (1961-63 e 1965-67) – As duas séries de conquistas marcam o início e auge da chama Era Quarentinha – período em que muitos historiadores atestam que a torcida bicolor atingiu o tamanho que tem hoje. O clube montou alguns dos times mais fortes da sua história comandados em campo por Paulo Benedito Braga, o Quarentinha, ídolo maior bicolor.

– 4º TRI (1980-82) – Reunindo atletas prata da casa, de outros estados já adaptados ao futebol pararaense e importante poucas peças, o Paysandu montou um time fortíssimo e devolveu o amargor dos dois tricampeonatos azulinos na década anterior com essa conquista.

– 5º TRI (2000-2002) – Marcou a chamada Era Givanildo, período mais vitorioso da história do Paysandu com conquistas em nível estadual, regional (Copa Norte 2002) e nacional (Série B de 2001 e Copa dos Campeões 2002). Era uma época de jogadores como Lecheva, Jobson, Luis Carlos Trindade e o atacante Vandick – que futuramente se tornaria presidente do clube.

Mesquita: ídolo no 3 grandes clubes de Belém (Foto: Mauro Ângelo)

E a travessia acabou virando história

Antes mesmo do início do Campeonato Paraense de 1982, o nome em destaque do time já era o de Raimundo Nonato Mesquita, ou simplesmente “Mesquita”. Campeão pela Tuna Luso, em 1970, e multicampeão pelo Remo ao longo da década, o meia-atacante foi procurado pela direção azulina ao lado do alambrado do Baenão para ser avisado que seria negociado com o Paysandu. “Eu não planejava sair do clube, estava há tantos anos, queria permanecer por lá” relembra o ex-atacante, 64 anos, que hoje em dia é engenheiro Agrônomo e toma conta do gramado do Mangueirão.

Na época alguns dirigentes azulinos diziam que o atleta, com 32 anos, já estava “velho demais” para permanecer no Remo. As insinuações deixaram Mesquita furioso, e a travessia ganhou ares de vingança. “Me dediquei de corpo e alma enquanto estive no Paysandu e nas vésperas de RExPA, eu me dedicava o dobro. Com cada jogada, cada assistência e gol eu queria mostrar pra quem me chamou de velho”, lembra. Ele tinha sido artilheiro no ano anterior e foi vice-artilheiro, de novo, aquele ano.

Embora tenha atuado por 8 anos no rival, Mesquita não esquece que foi contratado pelo Paysandu com status de ídolo da torcida. “Havia muitos repórteres e fotógrafos cobrindo a minha assinatura de contrato. Nunca me senti tão valorizado” relembra o ex-atacante, que, até hoje, guarda a camisa que recebeu na assinatura de contrato. Autor do gol do título do primeiro turno, num clássico contra o Remo, Mesquita assumiu, de cara, a faixa de capitão bicolor. Quando o título da temporada chegou, ele foi o primeiro a erguer o troféu para a torcida. “Foi uma sensação muito gostosa aquele título. Foi uma passagem breve pelo Paysandu, durou apenas dois anos, mas fui muito feliz por lá” relembra Mesquita.

(Taion Almeida/Diário do Pará)

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