A década de 1990 viu uma série de transformações na sociedade brasileira. Da hiperinflação do início dos anos 90, a sociedade começou a conviver com um novo plano econômico a partir de 93, o Cruzeiro Real. Uma antecipação do Plano Real, que prometia acabar com a inflação. Custo de vida alto, poder aquisitivo baixo. A realidade ainda era retrata nas páginas em preto e branco do DIÁRIO. Quando olhamos para o recorte de tempo do Tabu de 33 jogos do Clube do Remo sobre seu rival Paysandu, iniciado em 31 de janeiro daquele ano, olhamos que, ao final desse período, as coisas eram bem diferentes.

Se em 93 a inflação era um pesadelo diário, em 97, com o Real estabelecido há 4 anos, ela era uma lembrança. E os fatos esportivos eram retratados em páginas coloridas no DIÁRIO. Assim foi com o último jogo do tabu de 33 jogos, uma emocionante virada por 3×1 do Remo sobre o Paysandu. Em seguida, o Paysandu quebrou o Tabu, numa vitória por 2×0, na final do campeonato paraense. Mas, no jogo seguinte, os azulinos devolveram a derrota, por 1×0, e ganharam o pentacampeonato paraense – maior sequencia de títulos seguidas do futebol paraense desde os anos 40.

Para o funcionário público Salim Wariss, 35 anos, lembrar daquele período é uma viagem no tempo. “Minha família toda é remista e quase toda mora no bairro do Canudos, bem próximo do Baenão. Aquela época foi uma época do final da minha infância e adolescência”, diz. “Eu vivia naquele estádio e que cada jogo também no velho Mangueirão, era certeza de alegria”, comenta.

LEGADO

O Tabu, de certa forma, também marcou o final de uma era na cobertura esportiva do jornal. Durante a disputa da Copa do Mundo da França, em 1998, o velho caderno esportivo deu lugar a uma publicação do tipo tabloide com mais imagens, textos mais ágeis e liberdade para usar mais humor na cobertura esportiva. Nascia o caderno Bola que persiste até hoje como referência em jornalismo esportivo na Região Norte. A supremacia azulina no futebol paraense, nos
anos 90, foi clara.

Entre 1990-999 o time venceu 8 dos 10 títulos disputados. Salim afirma que, no início, não parecia que a coisa se encaminhava para uma sequência histórica. Mas, a partir de 1995, tudo mudou. “A gente ia no Mangueirão já pensando de quanto seria a vitória. Até então, tinha aquela coisa, o Remo caiu pra Série B em 94, o eles estavam na Série A. Quando os dois ficaram na mesma divisão, aí o bicho pegou!”, comenta.

Vinte anos se passaram, e o legado que ficou daquela série de conquistas, infelizmente, é modesto. Salim lamenta profundamente isso. “O torcedor mais novo, que se acostumou a ver jogos pela TV, tende a achar que os feitos mais importantes foram os que ele viu. É uma tristeza que se você procurar, hoje, não encontra nenhum produto oficial relativo a essa conquista” relembra o torcedor azulino, que no início dos anos 2000 comprou uma camisa alusiva aos 33 jogos lançada pela fabricante de material esportivo do clube na época.

Números de um tabu 33 jogos depois…


–  Início – 31 de Janeiro de 1993 (Remo 0x0 Paysandu – Torneio Pará-Ceará)
– Fim – 7 de Maio de 1997 (Paysandu 2×0 Remo – Parazão 97)
– Duração – 4 anos, 6 meses e 24 dias

Resultados dos jogos

Vitórias do Remo – 21
Empates – 12
Gols do Remo – 49
Gols do Paysandu – 20

Técnicos que mais treinaram:

Waldemar Carabina – 7 jogos
Givanildo Oliveira – 6 jogos
Tata – 5 jogos

Atletas que mais jogaram
01 – Belterra – 32 jogos
02 – Marcelo – 25 jogos
03 – Agnaldo – 21 jogos
04 – Tarcisio – 17 jogos

Maiores Goleadores

Ageu Sabiá – 7 gols
Edil – 5 gols
Agnaldo – 4 gols
Rogério Belém – 4 gols
Tarcísio – 3 gols

Time que venceu o primeiro jogo do tabu, em 1993 (Foto: Teprodução)

Queda de alambrado e retiradas de campo estão no folclore das partidas

Em 30 de Julho de 1993, o Remo vencia o Paysandu por 1×0 na Curuzu, em jogo que decidia o Campeonato Paraense. Após uma queda da energia, que manteve o jogo paralisado por 30 minutos, o fato chocante ocorreu – parte do alambrado da Avenida do Chaco desabou.

Muitas pessoas ficaram feridas e a confusão tomou conta do local. Ao final da noite, a Federação Paraense de Futebol decidiu a anulação da partida, que se encontrava aos 29 do segundo tempo. Um novo jogo foi marcado para o Mangueirão, então fechado para obras e vencido pelo Remo por 1×0, gol de Agnaldo. O Tabu foi marcado também pelos abandonos de campo do Paysandu. A primeira foi já no segundo jogo, em Fevereiro de 93, na decisão do I Torneio Pará Ceará.

O Paysandu vencia por 1×0 quando, após uma marcação de penalidade questionável, mandou seu time abandonar o campo, dando a vitória automática por 1×0 pro Remo. A segunda vez foi em 26 de Maio de 96, quando aos 39 minutos o árbitro já havia expulsado 3 jogadores do Paysandu. Uma confusão tomou conta do gramado e o time bicolor, mais uma vez, abandonou o gramado e foi considerado derrotado por 1×0.

O metalúrgico Lucas Cruz, 50, era um frequentador assíduo das arquibancadas. “Ir nos jogos do Paysandu era o meu hobby. Todo final de semana estávamos lá e apoiávamos. Acho que desses 33 jogos eu fui em quase todos” relembra o bicolor. Lucas diz que lembra de vários jogos em que achou que o Tabu fosse cair, e que no dia que a vitória finalmente veio, no dia 8 de junho de 1997, com gols de Edinho e Vagner, foi comemorada como um título. “Vi o Paysandu ser campeão de muitos títulos, mas essa vitória é como se fosse um deles”, diz Lucas.

Remo e Paysandu: estatística de jogos na história dos clubes

PAYSANDU – 1914-2017  (até julho)

JOGOS – 4.334
VITÓRIAS – 2.239
EMPATES  – 1.015
DERROTAS  – 1.080
GOLS PRÓ – 8.705
GOLS CONTRA – 5.029
SALDO – 3676 gols

REMO – 1911-2017 (até julho)

JOGOS – 4284
VITÓRIAS – 2.305
EMPATES  – 1.015
DERROTAS – 938
GOLS PRÓ – 8.557
GOLS CONTRA – 4.645
SALDO – 3.919 gols

26 jogos tem resultado desconhecido.

(Taion Almeida/Diário do Pará)

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