Na próxima quinta-feira (6) a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará (OAB-PA) organiza o 1º Seminário Democratização do Acesso aos Estádios de Futebol em Belém do Pará, em parceria com os movimentos Remo Antifa e Paysandu Antifa – Frente 1914. Os movimentos dentro de organizadas da dupla Re-Pa vão além do embate aos discursos e práticas que emulam o Fascismo no Brasil dos últimos anos, visam também uma discussão de maior respeito a mulheres, negros, homossexuais, entre outras minorias dentro do universo do futebol paraense, em especial nos estádios.

Dentro de um cenário nacional, os clubes têm se movimentado em campanhas que visam o fim de comportamentos há anos arraigados nas arquibancadas. Óbvio que o estopim disso veio em forma de castigo, com os clubes recebendo punições por gritos homofóbicos, racistas ou simplesmente preconceituosos vindo das torcidas, mas a reação ganha eco em movimentos que, aos poucos, ganha mais visibilidade.

“Acima dos prejuízos dos clubes, há o prejuízo das pessoas atingidas por essas manifestações”, ressalta Renan Bezerra, diretor de marketing do Remo, setor responsável dentro do clube de gerir as pautas inclusivas.

No Pará, Leão e Papão iniciaram ações que visavam, inicialmente, uma aproximação do futebol com as classes mais carentes, com ações assistencialistas, promoções e campanhas de arrecadação de produtos para quem mais necessitava. Aos poucos, esse trabalho foi se ampliando.

Campanhas contra homofobia, misoginia, apoio a movimentos que vão desde a prevenção ao suicídio quanto à doação de sangue acabaram por se tornar fixos no calendário. Um hábito recente que, aos poucos, começa a sair de cena é o de usar de forma depreciativa o termo “bicha” aos goleiros adversários, que foi em parte abolido por causa de ações dos clubes. O receio de causar uma punição às agremiações teve seu lado didático.

RACISMO

Os casos de racismo são mais raros, pelo menos entoados por uma torcida ou grupo, já que em comentários individuais eles ainda são constantes e facilmente perceptíveis para quem frequenta os estádios. “No Norte, eventos nesse sentido são menores do que em outras regiões, mas é um debate nacional do qual não podemos e nem devemos nos esquivar. Precisamos discutir o racismo no Brasil. Dentro do Paysandu é um tema debatido constantemente”, vaticina Marcelo Maciel, diretor de responsabilidade social do clube.

Por mudança de atitude – Campanhas combatem intolerância


Parceiros da iniciativa da OAB-PA, movimentos feitos por torcedores de Paysandu e Clube do Remo que, no campo das ideias, combatem uma intolerância galopante dentro da sociedade brasileira nos últimos anos. Através das redes sociais, foram criados os grupos “Remo Antifascista” e “Paysandu Antifascista – Frente 1914” que promovem ações educativas e debates sobre o papel da torcida nessa mudança de comportamento.

“O movimento Remo Antifascista surgiu há cinco anos, quando ideias neofascistas começaram a ganhar força no cenário político nacional. Em princípio, nos organizamos pela internet, através de uma rede social. Mas, a partir do ano passado, começamos a ir para as ruas participar de atos políticos”, explica o cientista social Felipe Damasceno, membro da Remo Antifa.

Segundo ele, um dos objetivos do movimento é combater ideias fascistas, visando a manutenção do Estado Democrático de Direito. “Não somos uma torcida organizada, e sim um movimento social, no qual para se tornar membro basta preencher dois requisitos: ser remista e antifascista”, disse.

Membro da “Paysandu Antifascista – Frente 1914”, Flor Midi explica que a partir da polarização da última eleição presidencial, amigos e conhecidos com objetivos comuns, em especial a paixão pelo Papão, se reuniram. A ideia se consolidou com a união de três grupos já existentes nas redes sociais.

“O propósito da torcida é questionar as violências que existem no meio do futebol e que acabam sendo tidas como ‘normais’; é proporcionar um espaço de liberdade, portanto sem opressões racistas, machistas ou lgbtfóbicas entre torcedores, o que não significa retirar o tempero da rivalidade, que é algo fantástico e que representa muito bem o nosso futebol regional”, conta Midi.

O primeiro ato público da torcida foi justamente ao lado da Remo Antifa, em um ato em defesa da educação. “Nos apresentamos juntos para marcar que, apesar da rivalidade, temos que nos unir quando se trata de temas que todos nós podemos perder”.

“Torcer sem precisar agredir é uma urgência”

Um dos objetivos práticos do Seminário Democratização do Acesso aos Estádios, na próxima quinta-feira, é criar um clima de maior harmonia entre todos que acompanham o futebol. Respeito total a quem frequentar o estádio, seja para torcer ou para trabalhar. Além dos movimentos do clube, estarão no evento as comissões de direitos humanos, da mulher advogada, da diversidade sexual e LGBTI e a de esportes da OAB.

“Há de se haver um respeito nos estádios em todos os sentidos. A sociedade muda, avança e não é mais admissível que os estádios sejam mundos a parte. Por isso essa discussão entre as várias comissões e grupos de torcedores. Será o primeiro de muitos seminários sobre vários assuntos que têm que ser debatidos na sociedade. Torcer sem precisar agredir é uma urgência”, ressalta o advogado José Maria Vieira, vice-presidente da comissão de direitos humanos da OAB.

TORCIDAS MISTAS

Uma das discussões sobre o respeito pode descambar na sugestão da criação de um local para torcidas mistas nos estádios, em especial nos clássicos entre Paysandu e Remo. Já há experimentos nesse sentido em outros estados, em especial no Rio Grande do Sul, onde a rivalidade Gre-Nal é semelhante ou maior que a local. “É um caso que não seria tão difícil de ser solucionado, pois há no Mangueirão local para isso. Agora, é necessário boa vontade dos clubes, das autoridades e, obviamente, das torcidas”, diz Vieira.

PARA CONHECER

1º Seminário Democratização do Acesso aos Estádios de Futebol em Belém do Pará

Local: Auditório da Imprensa Oficial do Estado do Pará

Data: 06/02/2020

Horário: 18h às 21h

Público-alvo: Frequentadores de estádios e demais pessoas interessadas no tema

Haverá emissão de certificado

Inscrições gratuitas

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