A Tuna Luso de 1992 era um time cheio de atletas maduros. Mario Vigia e Ondino, ícones da história cruzmaltina, eram remanescentes do título da Taça e Prata em 1985 e dos títulos estaduais dos anos 80. Ageu Sabiá, o artilheiro, chegou ao Souza com anos de experiência no futebol santareno. Mas o herói da conquista era um jovem zagueiro recém saído da base do clube tunante – Juninho.

Jorge de Aguiar Freire Junior, 48, vivia em 92 sua primeira temporada como titular no futebol profissional. Chegou à Tuna em 89, já estourando a idade da categoria sub-20, e nos dois anos seguintes conviveria com dificuldades para jogar. Ora por lesões, ora por opção dos técnicos. Naquele ano, no entanto, se tornaria o cobrador oficial de penalidades do time, capitão por diversos jogos e uma das peças-chave na defesa da Lusa.

Retornou à Vila Olímpica, após muitos anos, para esta entrevista, e, se hoje vive uma vida longe de badalação, como profissional autônomo, que trabalha com logística, em sua visita voltou a ser tratado como um herói.

Foi cumprimentado e saudado por nomes importantes no clube, como o presidente João Rodrigues. “Sou filho do Seu Álvaro, que trabalhou na sua época”, comentou animado ao atleta. O eterno descobridor de talentos Capitão, o reconheceu com um olhar e abriu um sorriso. O ex-colega Joacy, de longe, o chamou com brincadeiras e provocações. Em meio a lembranças, Juninho reviu os espaços por onde conviveu e o troféu que ajudou a levantar. Confira o bate-papo.

NÉLIO PEREIRA

“Minha história no futebol começou com ele, que foi meu treinador na seleção paraense escolar. Na época, já tinha quase 20 anos e até trabalhava, mas ele viu potencial e me trouxe pra base em 89. Ao todo, ficamos até 96 no clube. Ele foi determinante para que eu viesse pra cá e apostasse na carreira de jogador”.

DIFERENCIAL

“A Tuna era uma equipe que tinha base. Tinha dirigentes muito talentosos em rodar pelo interior e trazer valores pro clube, além de colocar pra jogar os atletas formados no clube. Já naquela época era difícil para atletas da base de Remo e Paysandu se firmarem no profissional porque eram muitos atletas de fora contratados e eles vinham com prioridade. Como vêm até hoje. Talvez em outro clube minha história tivesse sido diferente”.


A BASE DO TIME CAMPEÃO

“Boa parte da base campeã em 92, já estava no clube em 91. Apesar do rebaixamento na Série B, a defesa daquele time, Altemir, Mário Vigia, Luiz Otávio e Joãozinho, era a espinha dorsal de qualquer técnico que chegasse no clube, assim como o Ondino e Ageu, do meio pra frente. A base da Série C foi o time vice-campeão paraense de 91”.

Autor do gol que deu o título nacional da Série C a Tuna, em 1992, o ex-zagueiro tem boas lembranças daquela época. (Foto: Octávio Cardoso/Diário do Pará)

DIVISÃO MENOR?

“Eu digo que na verdade não existe essa coisa de terceira divisão. Na época, tínhamos uma elite e o resto era como se fosse, tudo, uma Série B. Não havia essa diferenciação toda. E o nível técnico era alto, tínhamos grandes clubes disputando. Acho que era mais alto até do que atualmente o campeonato é”.

LOGÍSTICA DIFÍCIL

“Quando algum jogador hoje em dia reclama de viajar de avião dá até vontade de rir. O campeonato inteiro foi disputado com viagens de ônibus. E era ônibus pé-duro, não tinha ar-condicionado em leito. O único jogo que teve avião foi contra o Nacional porque não dava pra ir de ônibus para Manaus”.

INFERNO DO SOUZA

“Uma das estratégias que a Tuna usou por muitos anos era mandar os jogos às 10 da manhã no Souza e se aproveitar do efeito do calor nos adversários. Mas o jogo quase virou contra quando enfrentamos o Flamengo do Piauí. No Piauí, o calor é ainda maior que aqui, e sofremos um absurdo pra ganhar deles”.

JOGO A JOGO

“Na época, sabíamos que tínhamos um bom time. Não entramos pensando em ser campeões, mas jogo a jogo sentíamos que era possível e fomos nos animando. A torcida, então, a cada jogo abraçava mais o time. Ela participava de forma incrível”.

DRAMA NA SEMIFINAL

“O triangular semifinal foi muito equilibrado. No primeiro jogo eu sofri um lesão no rosto que, na época, poderia precisar de uma intervenção cirúrgica Corri o risco de não jogar mais o campeonato. Felizmente a recuperação se deu a tempo e eu fiz o gol da vitória, e classificação, contra o Auto Esporte”.

A DECISÃO

“Apesar da derrota no primeiro jogo, sabíamos que tínhamos qualidade para reverter. Quando eles empataram aos 42, estávamos cansados, mas não havíamos considerado, por um minuto que fosse, desistir de vencer. Pressionamos e conseguimos aquela virada inacreditável”.

5 MINUTOS DE AGONIA

“Quando o jogo acabou a torcida invadiu e arrancou minhas meias, chuteiras… Já tinha jogador quase sem roupa em campo quando o árbitro falou pra torcida sair e os times voltarem e jogarem aqueles 5 minutos denovo. Pedi material emprestado pra quem estava no banco. Joguei com a camisa ficou rasgada mesmo. Mas o pior era a cabeça, o emocional, o físico… Estávamos todos tão desgastados que eu não sei como terminamos o jogo. De alguma forma jogamos e seguramos o placar até o final definitivo”.

SENSAÇÃO QUE FICOU

“Vou te repetir uma coisa que eu falei para os repórteres logo depois daquela final da Série C. A emoção que bateu naquele dia, naquele momento, é uma coisa que eu não sei nem como explicar. Não sei nem se tem palavras para explicar”.

(Taion Almeida/Diário do Pará)

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