A Copa do Nordeste conta desde 2013 com algo que foge de suas tradicionais raízes: arenas modernas que buscam atender o chamado ‘padrão Fifa’ de conforto para torneios internacionais. Nesta edição, a Arena Fonte Nova, na Bahia, a Arena Castelão, no Ceará, e a Arena Pernambuco, que ainda não foi utilizada, são os estádios mais modernos da Copa.

A Arena Castelão foi reinaugurada no dia 28 de fevereiro, com um novo gramado. A última grande reforma aconteceu em 2013 para a Copa das Confederações e posteriormente para a Copa do Mundo de 2014. A arena passou a abrigar partidas do Ceará e do Fortaleza. O mesmo aconteceu com a Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, e a Fonte Nova, em Salvador (BA).

Nos demais estados, que não receberam jogos da Copa do Mundo ou da Copa das Confederações, são nulos os estádios que conseguem se equiparar às estruturas das modernas. O contraste entre os estádios e suas regiões torna evidente a disparidade de investimento no esporte durante a competição.

Os outros estádios não contam com o mesmo charme arquitetônico, mas chamam a atenção pela atmosfera e tradição.

Para o técnico Guto Ferreira, que chegou a três finais da Copa do Nordeste, venceu duas e passou pelas principais equipes, como Sport, Ceará e Bahia, a diferença entre a qualidade dos estádios ajuda a “equilibrar o jogo por causa das condições dos campos das regiões localizadas no interior, por exemplo”.


“Alguns dos clubes jogam em campos de primeira divisão, treinam em campos de grama Fifa que são campos bem menos desgastantes e dão mais velocidade. Quando vamos para esses tipos de campos mais modestos, por mais que façamos trabalhos de força, por não ter o hábito de jogar nesse tipo de campo, a maioria dos times acaba priorizando jogadores naturalmente com mais força porque, sem velocidade, acaba ficando um jogo focado no um contra um, no contato físico e acaba dando vantagem ao rival que está acostumado”, diz o técnico.

Guto cita o exemplo do atacante Jacarezinho, que, em 2021, atuava pelo Ceará e se lesionou na partida diante do Altos pela Copa do Nordeste, no Piauí. O atacante ficou oito meses fora dos gramados após detectada lesão ligamentar no joelho depois de pisar em um buraco no Albertão, a casa da equipe piauiense.

“Tinha feito uma partida muito boa no Brasileiro do ano anterior, estava começando o ano jogando partidas da Copa do Nordeste e quando foi jogar no estádio principal lá do Piauí, rompeu o cruzado por causa de um buraco. É mais difícil acontecer isso em um estádio padrão Fifa, não vou dizer que é impossível, mas é difícil”, ao comentar ao citar o contraste das regiões em que atuou pelo Nordeste.

“O poder aquisitivo, os valores. A manutenção de um campo não é barato e demanda muito dinheiro. Se é difícil ter um time, imagine um campo de qualidade para o time, então teria que exigir mais”.

FATOR SOCIOLÓGICO

O antropólogo, documentarista e professor do Centro Universitário Tiradentes, Pedro Simonard, argumenta que a gestão local do esporte, e consequentemente os espaços esportivos, são diretamente influenciados pelo nível econômico de cada estado nordestino.

Ele aponta que economias mais fortes, como as da Bahia, Ceará e Pernambuco, tendem a possuir estádios padrão FIFA, enquanto outros estados, não. No entanto, Simonard destaca que a desigualdade na gestão do futebol no Brasil também contribui para essa disparidade, e que essa questão reflete a realidade do futebol em todo o país, incluindo o sudeste. Assim, ele enfatiza que a desigualdade no esporte é uma questão de desenvolvimento econômico e é considerada comum.

“Não chega a ser uma questão de prioridade necessariamente, é uma questão de geração e circulação de dinheiro, geração de renda, então se a cidade é pobre, dificilmente vai ter um clube organizado e com condições até porque futebol também é um negócio”, explica Simonard, que é corroborado pela professora de Teoria Política da Uece e pesquisadora do Lepem/UFC, Monalisa Torres.

Para ela, a diferença de estrutura reflete principalmente a disparidade de investimento no esporte em regiões específicas do Nordeste.

“Um estado como o Ceará, uma cidade como Fortaleza, por exemplo, tem duas grandes equipes que se comparadas com os outros times que competem na própria liga estadual, por exemplo, tem uma disparidade absurda de investimentos em recursos. Então além do estádio em si, reflete essa desigualdade que alguns municípios ou estados dão ao esporte e isso reflete na infraestrutura”, afirma Monalisa.

A professora ressalta também o fato de muitos municípios nordestinos terem sua economia baseada nos valores repassados do Fundo de Participação dos Municípios. “Algumas prefeituras dependem do FPM, e essas mesmas prefeituras são em sua maioria as principais patrocinadoras de alguns clubes locais, então não existe uma expectativa de um investimento maior nas equipes ou em qualquer outro esporte e consequentemente nas praças esportivas”.

PRÓXIMOS JOGOS

Falta pouco para que os classificados às quartas de final sejam definidos. A sexta rodada do torneio será disputada neste fim de semana, com direito a quatro clássicos.

CSA x CRB jogam no sábado às 16h30, no estádio Rei Pelé. Uma hora depois, Náutico x Sport se enfrentam nos Aflitos. Bahia x Vitória e Ceará e Fortaleza acontecem no domingo, às 16h e 18h30, respectivamente.

OUTROS JOGOS

No sábado: Campinense x Ferroviário, às 17h30ABC x Atlético-BA, às 17h30

No domingo: Sergipe x Fluminense-PI, às 16hSanta Cruz x Sampaio Corrêa, às 18h30

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