O futebol não é feito só de chutes, gols e 22 atletas em campo. Todos que dizem que “não é só um esporte” têm razão. E para quem busca viver disso, chegar em um time profissional exige percorrer um longo caminho e vencer inúmeras dificuldades, muitas delas bem longe das quatro linhas. Além de cuidar do corpo para ter habilidade com a bola, é necessário um trabalho psicológico para lidar com os problemas – especialmente para quem enfrenta traumas da vida extra-campo.

Uma história que acende a importante discussão sobre saúde mental na base do futebol paraense é a de Victor Diniz, jovem atleta que precisou superar marcas físicas, emocionais e psicológicas da violência.

Formando na base do Paysandu, Victor, de recém completados 22 anos, já jogou em outros grandes clubes do país, como o Fortaleza, Bahia e Cruzeiro, sendo o artilheiro deste último na Copa São Paulo de 2022. De volta ao Pará, jogou por um tempo na Tuna Luso Brasileira.

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O jovem conta que desde o primeiro aniversário se familiarizou com a bola e não largou mais. “Comecei a ficar inquieto em casa jogando bola, driblando os móveis e quebrando coisas. Minha avó pediu pro meu pai me colocar em alguma escolinha pra ter espaço pra brincar. Na minha primeira semana de escola, o técnico Alan Nascimento chamou meu pai e pediu pra observar um treino meu, e foi aí que tudo começou, porque o treinador viu algo diferente em mim”, diz Victor, que desde 2019 retornou a Belém, estreando no futebol profissional pelo Paysandu.

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“Futebol pra mim é música e meu mundo aberto. É como escutar a música preferida e poder fazer o que eu quiser com a bola no meu pé”, completa o atleta.


ALÉM DO FUTEBOL

Se a carreira de Victor seguia um caminho para o sucesso, a vida pessoal dele sofreu um abalo irreparável. Tudo mudou completamente há 6 anos, quando aos 17, foi baleado e viu o pai ser assassinado em sua frente. A vida nunca mais foi a mesma para ele, tendo que lidar com um trauma muito grande e diariamente presente na memória do jovem. O fato o fez repensar os cuidados com a saúde mental por parte dos clubes, já que influenciou diretamente em sua carreira.

Numa noite de fim de maio de 2017, Victor e o pai foram a um bar confraternizar com os amigos de um time de futebol amador. No grupo, existiam outras pessoas supostamente envolvidas com crimes. Rogério Paiva Diniz, pai do atleta, não tinha relação nenhuma com isso. Mesmo assim, naquele momento se tornou uma vítima fatal da violência.

 











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Quatro homens entraram no bar atirando em um outro homem, acertando o pai de Victor, que morreu no local. “Eu caí no chão, mas consegui correr pra longe e nem percebi que tinha sido baleado. Quando senti um forte formigamento na perna, percebi que tinha sido atingido e gritei pelo meu pai pedindo ajuda, mas procurando ele, o vi somente no chão, atingindo por um tiro que atravessou os dois pulmões dele e resultou no óbito dele na mesma hora. Fui levado ao hospital, por amigos e conhecidos. Continuei assustado e confuso sem ter caído a ficha de tudo e com bastante dor na perna”, relembra o atleta.

Depois disso, Victor não sabia exatamente como lidar com o trauma da perda repentina de seu pai, maior incentivador na carreira. O apoio do clube que jogava teria sido fundamental, mas, segundo Victor, as coisas foram um pouco diferentes.

“Na minha época não teve ajuda psicológica por parte do clube, independente se tínhamos problemas ou não. A estrutura que tínhamos era bastante limitada.  Eu tive que me virar sozinho na parte mental e estar pronto para jogos e treinos, por força de vontade mesmo. Por ir em busca do sonho. Infelizmente diversos ocorridos, principalmente o do meu pai, me abalaram muito e acabei errando em diversas coisas, como pessoa e como atleta. Fiz escolhas erradas, creio que se eu tivesse suporte para cuidar da minha saúde mental, muitas coisas estariam melhores”, afirma Victor. “Muitos garotos se perdem por falta de atenção, oportunidade ou ajuda. O atleta é um produto, e todo produto tem sua validade e valor, independente do dinheiro que ganhamos, somos esquecidos com o tempo, os motivos podem ser vários: rendimento baixo por um tempo, parte mental, diversas lesões ou opções técnicas”.

Como seguir com uma carreira sem sua maior inspiração? Como amadurecer sendo um adolescente de 17 anos? Victor diz que ainda não sabe como responder essas perguntas, e mesmo fazendo visitas à psicólogos, tudo ainda é muito difícil.

“Depois deste dia nunca mas fui o mesmo. Meu pai era meu herói, meu jogador favorito e meu melhor amigo, era minha motivação diária e minha fonte de energia física. Resolvia meus problemas comigo, conversávamos como duas crianças, todos os dia. No momento que ele se foi, foi como ter partido com ele e deixado apenas um corpo aqui perdido”, explica Victor. “Hoje tento me reerguer e trazer orgulho para mim mesmo, realizar meu sonho e do meu pai. Depois de 6 anos, fico tranquilo pra falar sobre isso. Se eu vi Deus, ele era um homem negro, 1,92 e se chamava Rogério Paiva Diniz, meu pai”, conta.

Por isso, quando perguntado sobre o que quer para a vida, Victor é pontual. “Meu maior objetivo de vida é ter paz, estar bem com quem eu amo e estar orgulhoso de mim mesmo, sem me arrepender de algo que não fiz. Corrigir erros e potencializar meus acertos”, conclui.

CUIDE-SE

Assim como em outras áreas do corpo, a saúde mental é muito importante. O ser humano não pode dar conta de tudo sozinho e a nossa mente também precisa de cuidado.

Aqui no Brasil, qualquer pessoa que estiver sentindo tristeza profunda, em estado de depressão ou tendo crises de ansiedade, pode procurar ajuda de profissionais por meio do CVV (Centro de Valorização da Vida) ou pelo CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade.

O CVV (www.cvv.org.br) funciona 24 horas por dia pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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