Os trintões dominam a cena

O futebol volta neste fim de semana. Talvez não com a intensidade, força e velocidade de antes. Tende a ficar mais cadenciado, até por força da paralisação de 120 dias. A preparação física e atlética dos elencos foi bastante comprometida durante a quarentena. Para aumentar o desgaste, a etapa decisiva do Campeonato Estadual será disputada sob sol forte e alta temperatura, situação normal no período do verão.

Em campo, será possível avaliar o quanto o futebol pós-pandemia realmente mudou. Se a qualidade individual prevalecer, mesmo que parcialmente, será melhor para todos. O jogo ficará mais bonito de ver.

Correria desatinada e excesso de força na marcação individual tornaram as partidas feias e previsíveis, quase sem espaço para o drible ou a inventividade. Seria curioso se a tragédia da covid-19 contribuísse, indiretamente, para a redenção.

No Parazão, os times têm optado por contratar jogadores mais experientes. O Paragominas repatriou Aleilson. O Águia contratou Flamel. O Remo importou Zé Carlos, Lucas Siqueira, Gilberto Alemão e Marlon. O Bragantino foi buscar Ricardo Capanema e renovou com Esquerdinha. Em comum, o fato de que todos estão acima dos 30 anos.

Lá nos rebeldes anos 60/70, uma canção recomendava não acreditar em ninguém com mais de 30 anos. Os clubes regionais marcham em sentido contrário. Mesmo o PSC, que não dispensou ninguém durante a quarentena, baseia sua força em jogadores trintões – Gabriel Leite, Micael, Bruno Collaço – e tem na frente Deivid Souza e Nicolas.


Ninguém, porém, foi tão longe quanto o Remo, que abraçou a estratégia de contratar jogadores calejados. Já tinha Vinícius, Mimica, Fredson, Eduardo Ramos (foto), Djalma, Xaves e Packer, todos com mais de 30. Aí foi buscar mais três – Lucas, Zé Carlos, Alemão e Marlon.

É um critério que deve ser respeito e que tem como justificativa a preocupação em enfrentar os obstáculos da Série C e suportar as pressões da torcida. Ao mesmo tempo, revela a crescente dificuldade em adquirir reforços mais jovens, sempre valorizados no mercado.

Ramos, por sinal, é uma das poucas certezas na escalação do time para a partida com o Águia, hoje à tarde, no Baenão. Capaz de fazer a transição e organizar o meio-campo, o camisa 10 pode ser um atacante a mais,  dependendo do posicionamento de Zé Carlos, outro cotado para jogar.

Um salvo-conduto para distribuir botinada

Até quando vai o habeas corpus preventivo do lateral corintiano Fagner, o mais violento jogador em atividade no Brasil? Parece haver um édito oficial, passado em cartório, da comissão de arbitragem para não expulsá-lo nunca. O mais grave é que, além de queridinho de Tite (vive sendo chamado para a Seleção), conta com o descarado aval da mídia esportiva paulista, sempre compreensiva em relação a ele.

Contra o Santo André, Fagner voltou a mostrar recursos típicos do MMA. Baixou o sarrafo, merecia expulsão, mas o árbitro foi compreensivo. Se fosse um jogador do time interiorano, a decisão certamente seria outra.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 21h30, na RBATV. Em destaque, gols e lances da nona rodada do Parazão. Participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. O telespectador participa pelo Zap 99993-3736 e pelo Instagram @bolanatorre13.

Sem poder ter Pep, Flamengo se contenta com Domènec

A contratação de Domènec Torrent pelo Flamengo, confirmada na sexta-feira, põe fim à novela que se arrastava desde o adeus de Jorge Jesus. A aposta num técnico iniciante, cuja única experiência como comandante de um elenco foi no New York City na insossa liga norte-americana, tem uma explicação: foi o mais perto que os rubro-negros conseguiram chegar de Pep Guardiola, o sonho de 10 entre 10 clubes do planeta.

Como é impossível imaginar Guardiola aceitando uma proposta para trabalhar na América do Sul, longe demais das capitais da bola, o jeito foi fechar com seu auxiliar mais dedicado e elogiado. Domènec era o grilo falante de Guardiola no Barcelona e no Bayern de Munique.

Um livro sobre os métodos e estilo de trabalho do celebrado técnico do Manchester City joga luzes sobre o discreto Domènec, já apelidado de Dome pela mídia carioca. Em “Guardiola Confidencial”, de Martí Perarnau, fica claro o valor do auxiliar técnico.

Em tradução livre de algumas teorias de Guardiola, Dome costumava dizer aos jogadores – entre os quais, o brasileiro Rafinha – que a missão de fazer a bola chegar até o meio-de-campo é do esquema tático montado pelo treinador. A partir do meio, prevalece a liberdade criativa dos jogadores.

Jornalistas espanhóis dizem que Guardiola só se permitia discutir tática de jogo com o auxiliar, mesmo tendo Manel Estiarte como lugar-tenente. O livro revela que ao chegar à Alemanha o principal desafio do técnico foi moldar a maneira de atuar do Bayern às suas convicções.

Como sempre trabalhou dividindo o time por zonas em campo, sempre prontas a funcionar como defesa ou ataque, conforme a situação de jogo, Guardiola precisou domar as características mais verticais (e rápidas) do futebol alemão. Domènec foi fundamental na aplicação desses conceitos, a partir de exaustivos treinos de repetição.

O novo Flamengo certamente será moldado dessa maneira. E que ninguém tenha dúvida: a vinda de Dome é, de certo modo, uma maneira de ter Pep.

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui