Com a conquista do título memorável do Pinheirense pelo Brasileirão A2 feminino, o time paraense, além de trazer um grande holofote e visibilidade para o esporte estadual, também passou a servir como fonte de inspiração para outras equipes do Estado. Pois, assim como as icoaracienses, boa parte dos times ainda sofrem com a falta de investimento e pela limitação de calendário no decorrer do ano.

 Desse modo, com exceção das atletas de Icoaraci e da Tuna Luso – que também participou da Segundona feminina, e realizou uma excelente campanha no campeonato, sendo eliminada apenas pelo critério de gols -, o restante dos grupos femininos se planejam em cima de incertezas. Assim, a dedicação exclusiva com o futebol é quase inviável. Como é o caso de equipes como o Cabanos, de Ananindeua, e o Estrela, que, para não se limitarem no Estadual, competem em torneios amadores pelos interiores. Buscando manter um certo número de equipes representando o Pará, principalmente em torneios nacionais, a Federação Paraense de Futebol (FPF) tentará, junto à CBF, disponibilizar mais vagas através do Paraense. “Já estamos vendo isso. É algo que impulsiona o esporte feminino. O Pinheirense ajudou a expandir esse cenário e temos de continuar abrindo caminhos para o nosso futebol, independentemente da categoria”, destacou Adelcio Magalhães Torres, presidente da Federação.

 PARCERIA

Como ainda não possui um programa de incentivo ao esporte, algumas equipes buscam minimizar os empecilhos, através de integração com outros times. Como no caso do próprio Pinheirense, que contou com a comissão técnica do Paysandu e, com exceção de Pingo e Francy, todo o elenco do time bicolor para o Nacional. O mesmo aconteceu com a Tuna, que firmou parceria com a Esmac; e o Clube do Remo, com a UEPA. De acordo com o técnico e diretor de esportes da Esmac, e que dirigiu a Tuna na Série A2, Mercy Nunes, a integração é positiva, mas isso expõe as limitações com o esporte. “É benéfico poder contar com o apoio das equipes em prol do nosso esporte. Por outro lado, é necessário outros meios de incentivo ao esporte, como implementação de torneios sub-17 ou sub-19, até para promover novas atletas”, destacou Mercy, que é atual campeão paraense com a equipe.

Marcia Cristina preside e treina o Time Negra Carajás e espera que conquista do PEC traga bons frutos às equipes locais (Foto: Gabriel Lima)


Principal desafio ainda é a profissionalização

Além dos transtornos comuns atrelados ao futebol feminino, o principal entrave para o sucesso da modalidade em circunstâncias regionais, ainda é a profissionalização. Embora o Pinheirense, assim como a Tuna, tenha participado do Brasileirão e da Copa do Brasil em edições passadas, a modalidade ainda é vista com amadorismo.

O sonho de viver do esporte ainda está longe da realidade. Se comparado com o masculino, onde, mesmo em competições de pequeno porte a compensação financeira, por exemplo, é muito superior que no feminino, a atenção e o cuidado com os torneios são maiores ainda. De acordo com a jogadora Glazielli Perotes, volante campeã com o Pinheirense, os obstáculos com a categoria são muitos. “É importante frisar que mesmo com nossa participação em nacionais, ainda não somos profissionais. Embora defendamos times de camisa, nosso futebol ainda não tem o tratamento devido de um profissional. Seja em estrutura, financeiro, valorização. Acredito que esse ano servirá para muitas mudanças. É isso que esperamos”, reiterou a jogadora.

SOLUÇÃO

Para Marcia Cristina, presidente do Carajás e experiente na modalidade, a mudança para o profissional no futebol feminino só terá alterações se o processo de reformulação partir das federações em conjunto com os clubes. Pois, enquanto o trabalho for unilateral, a tendência é que essa realidade permaneça por um bom tempo. “Assim como qualquer esporte; basquete, vôlei ou tênis; todos os envolvidos têm de fazer o melhor para o esporte. Nós do feminino, precisamos de união. A Federação precisa contribuir cada vez mais e mostrar interesse. Ou então, a tendência é que fiquemos em um campeonato por ano e o resto parado”, pontuou.

Calendário vazio, agenda cheia: a rotina dos times

Independente de Tucuruí, Time Negra Carajás, Cabanos e Estrela. Essas são algumas equipes que participaram do Campeonato Paraense de futebol feminino da edição passada, e que se restringem a participar de apenas uma competição oficial no ano. Dessa forma, procurando manter o ritmo, os times se dividem em jogos amadores dentro e fora da capital.

Fundado há cerca de 7 anos, o Time Negra Carajás, que vem assiduamente participando do Estadual, é uma das equipes de grande notoriedade do futebol feminino. O grupo, que é presidido e treinado pela técnica Marcia Cristina Portal, 50, mesmo com a falta de opções em torneios oficiais, continua com a filosofia do time a risca, que é ajudar o futebol a evoluir no Pará. “Nosso objetivo com o esporte é primeiro fazer o esporte. Gostaria muito se tivéssemos mais competições e que, em cima delas, tivéssemos estrutura. Nós sempre estivemos aptas para ajudar no que for preciso para a evolução. Espero que a partir dessa temporada as coisas mudem”, explicou Marcia.

GARIMPAGEM

Para não desperdiçar o tempo estagnado, o Time Negra, que a partir dessa temporada voltará a ser chamado de Carajás Esporte Clube, devido à desvinculação com o Paysandu, participa de campeonatos semiprofissionais no Estado, sobretudo para descobrir novos talentos. “Nós mantemos nossa programação ativa, seja por competições oficiais ou não. Nosso foco é fazer futebol. Estamos participando desde o começo do ano em torneios pelos interiores, além de realizar alguns amistosos com equipes que fazem parte do Estadual, como o Cabanos. Nós fazemos esse rodeio pelo Estado, justamente para descobrir um talento que esteja escondido, porque esse é o real objetivo do Carajás”, justificou a responsável do time.

(Matheus Miranda/Diário do Pará)

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui