O recente episódio envolvendo o Paysandu, que teve uma torcida organizada denunciada ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), por prática de atos de homofobia, reacendeu a discussão em torno do comportamento dos torcedores nos estádios de futebol. O julgamento, na última quarta-feira (19), do caso inédito no futebol brasileiro e que acabou em absolvição dos bicolores, levantou a polêmica sobre até onde vai a liberdade de manifestação do público nas arquibancadas.
Para algumas pessoas, ligadas ou não ao futebol, os estádios devem servir apenas e tão somente como local para se torcer pelo clube do coração. Para outros, no entanto, as arquibancadas devem ser utilizadas não apenas para o torcedor incentivar as equipes dentro de campo, mas também como espaço de demonstração de engajamento em causas sociais e políticas, não só do público, mas também por parte dos principais protagonistas do espetáculo, os jogadores.
Na opinião daqueles que são contrários às manifestações nos estádios é que, em alguns casos, a liberdade excessiva acaba por extrapolar os limites. É o caso do advogado Luiz Carlos Medeiros, que costuma ir aos jogos torcer pelo Papão. “Nem sempre o torcedor tem consciência de até aonde pode ir com as suas manifestações”, acusa ele, dando como exemplo o que teria ocorrido no jogo entre Paysandu e Luverdense-MT, pelo Brasileiro, e que acabou levando o Papão às barras da justiça desportiva.
DIREITO DE OPINIÃO
Para outras pessoas, o torcedor deve ter assegurado o seu direito de opinião, seja ele político ou social, desde que essas manifestações não sejam ofensivas. “Não vejo nenhum problema no torcedor mostrar a sua insatisfação com relação, por exemplo, a uma decisão política, relacionada ou não ao futebol, já que quem está na arquibancada não é só o torcedor, mas também o cidadão comum”, alega o professor de História, Carlos Brandão.
EXCESSOS COIBIDOS
Embora divergentes em suas opiniões, torcedores prós e contra a total liberdade de expressão nos estádios concordam em pelo menos um ponto: os excessos devem ser coibidos, conforme ratifica Carlos Brandão. “O que não se pode permitir são manifestações racistas, preconceituosas e de outras naturezas nocivas”, aponta o professor.
Além da homofobia, injúria racial também domina os estádios
Até o envolvimento do Paysandu no caso de homofobia, fato inédito no futebol brasileiro, a última manifestação de preconceito registrada na história do futebol brasileiro foi no jogo entre Grêmio-RS e Santos-SP, pela Copa do Brasil de 2014, quando o goleiro Aranha, na época do Peixe, foi chamado de “macaco” por torcedores gremistas.
O episódio ocorrido na arena gremista, em Porto Alegre, resultou na eliminação do Tricolor do torneio por decisão do STJD. A torcedora Patrícia Moreira, flagrada pelas câmeras de TV cometendo o ato de injúria racial, assim como outros três torcedores, sofreram penas brandas: dez meses sem frequentar os jogos do Grêmio.
Vários outros casos de racismo já foram registrados no futebol brasileiro. De acordo com o Observatório de Discriminação Racial no Futebol, só este ano, de janeiro a abril, foram recebidas pela instituição mais de 30 denúncias de injúria racial. Marcelo Carvalho, criador e diretor do Observatório, afirma que este é um recorde em início de temporada desde 2014, quando a entidade foi criada.
(Nildo Lima)