Wallace Lorram (na foto com a mãe) é um garoto de apenas 13 anos que, como muitos no Pará, abriram mão ou foram esquecidos pelos clubes locais e decidiu bater asas. Notem bem a idade do garoto: 13 anos. E nessa idade já foi selecionado pelo Internacional (RS) para treinar na base do clube gaúcho. O sonho dele é ser jogador do Barcelona. Fã de Neymar e Gabriel Jesus, Wallace quer curtir seu momento. Ele foi observado por olheiros do clube gaúcho, enquanto treinava em uma escolinha de futebol em Marabá. Esse será, certamente, mais um profissional da bola que vai estourar em um clube grande fora do Estado e aí, do nada, saberemos que era um paraense, a exemplo de Jóbson, Pará, lateral do Flamengo, e outros jogadores que saíram do sudeste paraense rumo a outros caminhos do futebol.

Nada contra os garotos ou já marmanjos tentarem a sorte em outros locais. É da vida, ninguém é obrigado a ficar onde ninguém está lhe observando. Num território imenso como o nosso, é de se estranhar, porém, que nenhum clube de grande ou médio porte se interesse em colocar no radar garotos ou jovens promissores. Mão-de-obra barata, ao alcance e talentosa, que cai no ralo do esquecimento e é absorvida por clubes de fora com uma visão mais futurista. O Inter, como se sabe, é um dos clubes que mais revelam jogadores no futebol brasileiro. E tem uma estrutura invejável. Coisa que falta e muito aos nossos tradicionais clubes, que teimam em apostar em jogadores descompromissados e com potencial duvidoso.


Há muito tempo o futebol paraense revelava muita gente boa vinda do interior. Os olheiros eram fundamentais nessas descobertas. Até os anos 90 era comum ter seguidas gerações de puro talento e acima de tudo identificada com as camisas. Mário Vigia, Belterra, Chico Monte Alegre, Balão, e tantos outros que deixaram suas marcas na história de Remo, Paysandu e Tuna, time que mais abria as portas para a turma do interior. É uma prática que infelizmente se perdeu no tempo, em que pese ainda haver um manancial que nunca foi bem explorado. Eles perderam espaço para os jogadores que fazem parte do cardápio vasto dos empresários da bola. Os dirigentes, por seu lado, vão pelo que parece ser mais fácil, ainda que custe muitas dores de cabeça.

E, quando não encontram terreno fértil para desenvolver seu futebol, Wallace e tantos outros não pensam duas vezes antes de partir. Afinal, que tipo de identificação o garoto possui com Leão e Papão? Praticamente zero, mesmo tendo nascido no estado dessas duas locomotivas. Pior ainda, e não condenável, quando vimos que o sonho da vida dele é justamente jogar no Barcelona. Ou seja, nada de São Paulo, Vasco, Corinthians… Os sonhos são outros. Foi o tempo em que o ideal de qualquer jovem seria vestir a 10 do Remo ou ser o camisa 9 do Paysandu. Muito por culpa dos clubes, que viraram as costas ao produto local.

(Clayton Matos/Diário do Pará)

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