No decorrer do entra e sai de uma temporada para outra no futebol profissional paraense, um holofote ficou incandescente ao longo dos últimos cinco anos: a péssima condução no carro-chefe de Clube do Remo e Paysandu.

Com exceção da temporada 2020, ano que o Leão Azul ascendeu à segunda divisão nacional, os demais calendários futebolísticos foram marcados por fracassos e reprises de gestões que mais ficaram marcadas pela goela no microfone do que propriamente pelo êxito na construção de um planejamento vencedor. A consequência de tanto amadorismo é assustadora: eliminações precoces, lanternas seguidas no quadrangular decisivo e o olhar de igual para igual para equipes que costumavam ser observadas pela dupla Re-Pa pelo retrovisor, como as do futebol manauara, que também terá dois times na Série C 2023.

O retrocesso de Leão e Papão segue o mesmo molde de cenários de décadas atrás, com a ausência de uma profissionalização no seu departamento de futebol, ocupado por pessoas pouco gabaritadas para as funções. Para se ter uma ideia, a folha salarial dos dois titãs em 2022 eram superiores a grande parte de equipes que atuam hoje na Série B e que possuem receitas muito acima da dupla paraense.

O Londrina-PR, por exemplo, que flerta com o acesso à elite do Brasileirão, gasta um valor de pouco mais de R$ 500 mil mensais. Do lado de cá, azulinos e bicolores ultrapassaram a casa do milhão ao reiterar o péssimo investimento, com um sendo eliminado na primeira fase e o outro passando vexame pelo quarto ano na etapa decisiva.

Não à toa, para quem envergou a camisa das duas potências e viu de perto os dias de glórias do futebol do Pará, observar o que tem ocorrido recentemente é algo inadmissível.


De acordo com o antigo cabeça de área e ídolo do Leão Azul, Agnaldo de Jesus, o Seu Boneco, “Está faltando o respeito com o nosso maior patrimônio, que são os nossos torcedores. Infelizmente os dirigentes não estão tendo esse respeito”, diz ele.

“Pelo que eu vejo falta conhecimento maior deles: de mercado e de parcerias. Não adianta você entregar o futebol na mão de um executivo, porque todo mundo sabe que existe interesse por trás disso. Você colocar também gente que não é do ramo, mas por ser amigo do presidente garante vaga… Fico triste porque as duas maiores potências do Estado estão estagnadas há muitos anos, décadas, no mesmo lugar. Nós batíamos em Fortaleza e Ceará de manhã, de tarde e de noite. Olha onde eles estão e olha onde estamos? Batíamos em Sampaio e agora está há anos na Série B. Eles evoluíram em organização, estrutura, CT e em equipe altamente qualificada”, destacou.

Conforme análise de Agnaldo, os resultados de Remo e Paysandu em campo são reflexos dos atos efetuados pela diretoria e presidência, peças que de fato tomam as decisões. Desse modo, mesmo sendo equipes com camisas pesadas e de histórias tradicionais, Remo e Paysandu veem times sem tanta expressão os ultrapassarem em uma corrida sem tanta competitividade, já que tratam de tropeçar nas próprias pernas.

“O que falta é maior conhecimento dos gestores. Uma vez fui em uma reunião de um clube e perguntei qual dos diretores tinham saído de Belém para verificar a estrutura lá de fora e não tive o retorno. Não é preciso olhar os clubes de ponta, hoje, os de intermédio nos ensinam muita coisa. Juventude, Mirassol, Ponte Preta. O Sport de onde eu vim, tem uma grande abertura. Eu vejo como funciona, mas os nossos dirigentes não. Estão estagnados há anos. É preciso entender que é urgente melhorar. Nós praticamente não vemos evolução em nada. Ficamos tristes, mas na expectativa de que dias melhores vão vir. Eu quero o bem de Remo e Paysandu. Quem pensa pequeno, morre pequeno”, afirma.

Atletas

A ruindade também pesa na hora h

Nos bastidores, o trabalho de lapidação dos dirigentes de Remo e Paysandu tem sido quase que no escuro devido à baixíssima qualidade de atletas que passaram nos últimos tempos pelo Baenão e Curuzu. Mas isso não exime, também, a ruindade dos atletas ao desperdiçar a chance do ‘algo a mais’ na hora de defender a dupla no gramado. Quem destaca isso é o ex-centroavante Edil, que marcou época por Papão e Leão ao defender com primazia as duas potências e honrar a oportunidade com muitos gols no seu período como jogador. Highlander, nesse ponto, destacou:

“A gente, que esteve ali dentro, e teve uma carreira vencedora por Remo e Paysandu, só pode dizer que fica triste. Essa foi uma temporada medíocre, de se lamentar muito. Clubes como Remo e Paysandu, que são de Série A, têm motivos de sobra para o erro, mas o principal é o critério de contratação. Tem muitos jogadores que não podem vestir a camisa dos dois times. Essa dupla é gigante, de primeira divisão. Você traz jogadores que nunca vestiram uma camisa grande e vão tremer. Quando não, contratam de dúzias. Como se faz futebol assim?”, questionou, ao reforçar a ausência de atletas da terra como um dos pontos pela queda drástica de rendimento das equipes.

Edil seguiu com o pensamento pelo baixo retorno ao mandar recado para as diretorias de Leão e Papão. “Enquanto os times não tiverem jogadores que vistam a camisa, vai continuar nisso. Na minha época tinham de cinco a seis jogadores da terra, construídos em casa, paraenses. Eram eles que funcionavam. Os times de todos os cantos tinham medo, porque o pessoal daqui dava a vida. Hoje você vê uma tonelada de jogadores de fora e vão embora, não sentem a dor. Antigamente os clubes do Ceará, Rio Grande do Norte, do Nordeste, vinham pra cá sabendo que vinham perder. Hoje o de qualquer interior faz frente. É preciso mudar na hora de contratar um jogador”, orientou o ídolo paraense.

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