O Remo esperou 15 anos para disputar um título nacional. Alcançou isso ao cabo de brilhante campanha na Série C, que garantiu o também mui esperado acesso à Série B. Pois bem. Em apenas 90 minutos, toda a festiva expectativa criada pelo bicampeonato nacional acabou reduzida praticamente a pó. Consequência direta dos excessos na comemoração do acesso, há duas semanas.

A acachapante goleada de 5 a 1 frente ao Vila Nova, além de se constituir em ducha de água fria após a classificação para a 2ª Divisão, frustrou a torcida azulina, que acreditava na conquista da taça. Sem esquecer que, depois de 2005, o Remo não ganhou nenhum título de expressão nacional.

Cabe ressaltar que, para o primeiro jogo da decisão, as previsões não eram das melhores. Com 12 desfalques no elenco (11 após o surto de covid-19), o Leão viu-se obrigado a montar um time mesclado, com sérias fragilidades ofensivas e quase nenhuma opção no banco de suplentes.

O desastre estava anunciado. Só não se esperava que fosse tão retumbante e categórico. Depois de um começo até animador, marcando um gol logo aos 9 minutos, em cabeceio do zagueiro Gilberto Alemão, o time foi entrando no esperado processo de recuo e queda técnica.

Aguentou até os 24 minutos, quando em lance confuso e irregular, o Vila empatou. Talles, adiantado, recebeu a bola que resvalou na zaga. Bateu para as redes, sem que Júlio Rusch conseguisse bloquear o arremate.

Apenas 11 minutos depois, veio a virada. O mesmo Talles aparou um rebote propiciado pela defesa azulina e chutou no canto direito de Vinícius. A essa altura, era visível a precariedade da marcação à frente da zaga e a falta de força do meio-campo. Felipe Gedoz e Eduardo Ramos, que deveriam ser ofensivos, participavam do esforço para tentar marcar o afiado trio ofensivo goiano – Talles, Henan e Alan Mineiro.


Quando o jogo se encaminhava para o término da primeira etapa, aconteceu o lance capital, que teria reflexo direto no infortúnio remista em Goiânia. No afã de desarmar Alan Mineiro na meia-lua da grande área, o capitão Lucas Siqueira derrubou o meia-atacante.

Dali, para o camisa 10 do Vila, é quase pênalti. E foi assim que aconteceu. A barreira ainda contribuiu, não pulando para dificultar a passagem da bola, que se encaminhou à gaveta direita da meta de Vinícius. Com 3 a 1 no placar, os goianos desceram aos vestiários com a vitória encaminhada e os paraenses saíram sabendo da árdua tarefa que o 2º tempo reservava.

Curiosamente, minutos antes, Gedoz teve chance igual em cobrança de falta contra o arco de Fabrício. Mas, ao contrário de Mineiro, meteu uma rosca e a bola subiu muito. A diferença nos dois lances é que a barreira alvirrubra avançou alguns passos e pulou para dificultar a cobrança. A do Remo se manteve respeitosa e inerte, como fila de escoteiros.

Sem opções de reposição que permitissem uma reação, o Remo voltou do intervalo no mesmo ritmo, devagar quase parando. Com a boa vantagem estabelecida, o Vila cozinhava o galo, tocava para os lados, fazia o tempo passar. Não parecia nem disposto a forçar muito o jogo.

Mas, aos 13 minutos, o meia Pablo recuperou bola no meio, foi em frente e percebeu a marcação em linha dos zagueiros. Deu, então, um passe perfeito em profundidade para Henan receber e encobrir o goleiro Vinícius.

Como alternativa para tentar fazer um gol que reduzisse o grau de dificuldade para o segundo confronto, o auxiliar Renan lançou Wallace no lugar do inoperante Eron. Não adiantou muito, não havia quem criasse jogadas. Desgastado, Ramos pouco participava das jogadas.

O mesmo Pablo, minutos depois, pegou uma bola pela direita do ataque e foi avançando em direção à área. Como não encontrou resistência, arriscou um disparo forte e a bola, caprichosamente, esbarrou na cabeça de Henan e entrou no canto direito do gol remista fechando a tampa do caixão: 5 a 1.

Podia ter sido mais. Gilsinho ainda teve boa oportunidade nos acréscimos – que o árbitro potiguar decretou com requintes de crueldade. O Remo não tinha forças nem para ultrapassar a linha de meio-campo. Gedoz sentiu a perna e ficou se arrastando até ser substituído pelo garoto Pepê. Wallace desarmou um ataque agudo do Vila e acabou se lesionando.

Obrigação de despedida digna

O massacre de Goiânia foi muito mais grave que o vexame frente ao Brusque há dois anos. Desta vez, o Remo tinha muito mais a perder. O que se viu sábado foi um filme com final desenhado desde a estripulia irresponsável das comemorações na Doca entre jogadores e torcida, após o triunfo no Re-Pa e o acesso conquistado.

Um resultado desastroso causado pelas circunstâncias desfavoráveis, que deveriam ter sido previstas e evitadas. Quando está em jogo um título nacional, é inaceitável permitir tanto amadorismo e negligência com os protocolos de cuidados que a pandemia impõe.

Todo mundo sabe que o Remo foi goleado porque não tinha um time em condições de disputar a primeira final contra um adversário de qualidade. Para a segunda partida, sábado, em Belém, só resta buscar forças e dignidade para uma despedida honrosa.

Os anais do futebol estão repletos de histórias de viradas épicas, mas o Remo, ainda cambaleante em consequência dos efeitos da covid no elenco, teria que operar um milagre para reverter a situação. Não é missão impossível, mas é pouco provável que aconteça.

Quando o castigo vem a galope

Depois do entusiasmo pela vitória meio acidental sobre o Palmeiras no meio da semana, a torcida rubro-negra soltou fogos, fez fanfarras. No sábado, os jogadores e a cartolagem receberam o palmeirense Bolsonaro. A torcida reunida ali perto vaiou a presepada, mas a comitiva interrompeu festivamente o treino. Sem máscara ou compostura.

Ontem, a dura realidade. Caiu a ficha: o time de Rogério Ceni voltou ao padrão normal e caiu para o Furacão, em Curitiba. O acalentado sonho do bicampeonato fica novamente sob séria ameaça. Ninguém troca impunemente abraços e cumprimentos com um visitante indesejável.

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