Seleção Brasileira tem, nesta terça-feira, seu último compromisso do ano. Às 17h30 (de Brasília), em Milton Keynes, na Inglaterra, Tite e companhia encaram um amistoso contra a equipe de Camarões, primeiro adversário africano da gestão do comandante brasileiro. As principais atrações do duelo, porém, estarão no banco de reservas: o treinador Clarence Seedorf e o auxiliar técnico, Patrick Kluivert.

Ambos os integrantes da comissão técnica têm ligações especiais com Brasil. Especialmente Seedorf, que encerrou sua carreira como jogador, em 2014, justamente no país verde e amarelo, defendendo a camisa do Botafogo.

Relação de longa data

 

A identificação entre Seedorf e Brasil vem de muito tempo. Nascido em 1976 no Suriname, país colonizado pela Holanda, o icônico meio-campista tinha um pôster colado na parede de seu quarto quando era criança e chegou a chorar com a eliminação da seleção canarinha na Copa do Mundo de 1986.

A conexão com o país ficou ainda mais forte depois de ter se casado com Luviana, brasileira e torcedora do Botafogo, no fim dos anos 90. Por ela, ele deixou a Europa depois de quase 20 anos para retornar à América do Sul.

Se a história fora de campo já é interessante, dentro dele também não deixa a desejar. Revelado pelo Inter Moengotapoe (hoje o maior campeão do campeonato nacional do Suriname), Seedorf encantou o mundo com sua habilidade e chegou ao Ajax em 1992, se tornando o jogador mais jovem a vestir a camisa do time profissional do clube.


Três anos depois, o meia se transferiu para a Sampdoria, onde apesar de não ter ganhado nenhum título, conseguiu chamar a atenção de nada mais que o Real Madrid. Na Espanha ficou quatro anos e conquistou quatro títulos, entre eles uma Liga dos Campeões, antes de retornar a Itália, desta vez para defender as cores da Internazionale e mais tarde do rival Milan. Neste último, foram 10 anos de história. Somou 432 partidas e 62 gols, além de 10 títulos.

Depois da Itália, o destino foi o querido Brasil. Em 2012, apoiado pela esposa e pelas lembranças da infância, Seedorf assinou por dois anos com o Botafogo. No clube carioca, o holandês disputou 81 jogos e anotou 24 gols, antes de anunciar sua aposentadoria em 2014.

Do meio-campo ao banco

Apesar de pendurar as chances, Seedorf não iria deixar o futebol tão cedo e logo voltou ao Milan, desta vez como treinador. Quatro meses depois, porém, ele foi demitido do cargo. Quase dois anos mais tarde, ele voltou à ativa, agora para comandar o chinês Shenzhen F.C. Mais uma vez, no entanto, o trabalho durou somente cinco meses.

Um ano depois, o Brasil voltou à cena na vida de Seedorf. Mas também durou pouco, após uma tentativa falha do Atlético-PR em contratá-lo como coordenador e técnico. Em fevereiro deste ano, o ex-jogador assumiu o comando do espanhol La Coruña, o qual deixou ao fim da temporada depois de não conseguir evitar o rebaixamento da equipe. E um mês depois, enfim, foi anunciado como treinador da seleção de Camarões.

“É um talento incrível, um técnico buscando o início para transpor todo o talento que ele tinha”, Tite sobre Seedorf

Trabalho, tabu e história

E agora, à frente da equipe africana, é o momento em que Seedorf tenta se consolidar como técnico. Em partida classificatória da Copa Africana de Nações, sua seleção vem de derrota para Marrocos por 2 a 0. Este foi, inclusiva o primeiro revés com os Leões Indomáveis: antes, foram dois empates, com as fracas equipes de Ilhas Comores e do Malawi, e apenas uma vitória também contra Malawi. E que pode ser melhor do que vencer justamente o Brasil para dar aquela empolgada no time camaronês?

“Para nós é uma grande oportunidade poder enfrentar times de expressão da Europa e da América do Sul, pois eles podem acrescentar demais ao nosso futebol. Enfrentar o Brasil é ter um grande teste nas mãos para analisar em que estágio estamos. Por isso mesmo a minha expectativa é muito positiva”, declarou Seedorf.

A missão, no entanto, é bastante complicada. Dos 87 confrontos em que defendeu a seleção da Holanda, quatro deles o adversário foi o time canarinho. E em todas as oportunidades – três amistosos e uma semifinal de Copa do Mundo – a partida terminou empatada. Ou seja, Seedorf precisará quebrar um tabu e vencer o Brasil pela primeira vez em sua carreira.

Seedorf tenta sua segunda vitória à frente da seleção de Camarões (Foto: Fadel Senna/AFP)

Para tanto, terá ao seu lado o ex-companheiro de vestiário, Patrick Kluivert. E é exatamente esta semifinal de Copa que une todos.

No dia 7 de julho de 1998, o Estádio Vélodrome, em Marselha, na França, recebeu o duelo entre Brasil e Holanda, válido pela semifinal da Copa do Mundo. Ronaldo abriu o placar e ia garantindo a vaga brasileira até os 42 minutos o segundo tempo, quando justamente ele, Kluivert, subiu mais alto que todo mundo para balançar as redes e forçar a prorrogação. No fim, a partida acabou sendo decidida nos pênaltis e o foi o Brasil quem assegurou a vaga na final, quando perdeu para a equipe da casa, a grande campeã França.

E agora, ambos reencontram o Brasil, anos depois e em condições diferentes buscando enfim sair de campo com um resultado positivo. Um fator que joga a favor de Seedorf, porém, é que nas três oportunidades, ainda como jogador, em que enfrentou o técnico Tite, empatou duas e venceu uma. E o comandante brasileiro não poupou elogios ao seu hoje colega de profissão na coletiva de imprensa prévia ao duelo desta terça-feira.

“Falar antes como atleta que ele foi e enfrentei no Botafogo. Falei para o time que ele é muito talentoso, não pode deixar pensar, disse que a marcação tem que ser curta, rápida e forte. Ele achou uma bola, dominou na frente do Pacaembu, com o radar ligado. Ele faz o movimento para dominar na bola, dá um toque só, ficaram dois ou três da defesa olhando. É um talento incrível, um técnico buscando o início para transpor todo o talento que ele tinha”, finalizou.

Fonte: Gazeta Esportiva

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