Uma novidade deste novo desenho do mapa mundi do futebol é a ideia, defendida pela Fifa, de prorrogação automática de todos os contratos de atletas com vencimento em dezembro de 2020. Muitos clubes brasileiros, principalmente da Série A, mantêm jogadores sob acordos contratuais que encerram ao final da temporada.

A vantagem é que, em tese, os clubes teriam que negociar renovações contratuais com todos eles para utilizá-los nos jogos finais, caso o Campeonato Brasileiro adentre 2021, o que é praticamente inevitável.

A ideia ainda precisa de aprovação do Conselho da Fifa, mas o propósito é estender todos os contratos automaticamente “até a nova data de término da temporada”. A justificativa é o chamado “motivo de força maior”.

Desta forma, a Fifa pretende impor uma mudança excepcional no artigo 18 do Regulamento de Transferências e, de certa maneira, abrandar o inevitável enrosco financeiro que se esboça no horizonte.

Por tabela, a proposta acabará por beneficiar a dupla Re-Pa no Brasileiro da Série C, caso ele também seja focado a entrar na próxima temporada. A renovação automática de contratos poupa os representantes paraenses de abrir negociação para manter jogadores no elenco.

Esperanças de redenção


O futebol, do jeito como conhecíamos até fevereiro deste ano, vai passar por profundas transformações, principalmente fora dos gamados. Isso vale tanto para as grandes ligas europeias quanto para o futebol brasileiro velho de guerra, realidade na qual se insere o modesto campeonato estadual do Pará.

Todos os envolvidos no negócio futebol sabem que a mudança provocada pelo avanço devastador da Covid-19 sobre todos os campos de atividade humana. A Fifa sinaliza que o cenário pós-pandemia pode tornar o futebol mais solidário, menos arrogante e com os pés no chão.

Não há absoluta certeza quanto a essa transmutação, mas os sinais são fortes nessa direção. De cara, no Brasil, há um dilema quanto ao destino dos estaduais e a forma de disputa do Brasileiro.

Nos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste, a grana da Globo incide diretamente sobre a situação dos campeonatos, pois a suspensão implica no consequente corte das verbas de TV.

No Brasileiro, o poder da emissora segue determinando os próximos passos da competição. A ideia de encurtar o torneio com a inserção de um mata-mata nas etapas decisivas não foi bem recebida pela emissora que manda há décadas nos destinos do futebol no país.

E a dinâmica é simples: se seus planos forem de repente contrariados pelos clubes, hipótese improvável, a TV suspenderia a verba do Campeonato Brasileiro e deixaria a maioria dos clubes em situação aflitiva, até porque muitos se socorrem de “vales” de antecipação de receita para sanar dívidas.

Aliás, 40% da verba da Série A e agora usa como argumento para manter a competição no sistema de pontos corridos (com mais jogos) vigente desde 2003. Caso seja contrariada, segura os 60% restantes.

Com a ameaça de perda de boa parte do faturamento com o futebol, a emissora deve jogar pesado para não ver a fórmula ser modificada pelos clubes diante do encurtamento da temporada pelo avanço do coronavírus.

O drama aflige a todos, espraiando-se pelas empresas que patrocinam o futebol. Como não há bola rolando, não há público pagando nos estádios e a tendência é de queda também nas vendas de camisas e outros produtos.

Até o noticiário esportivo foi duramente afetado, passando a depender de apresentações no estilo videoconferência e praticamente sem assunto diário para debater. Na outra ponta, sem jogos, sumiram os clientes de pay-per-view.

Quando a Fifa diz que o mundo da bola vai sofrer reviravolta radical está obervando essas complexas relações comerciais que envolvem o jogo.

Para Remo e PSC, que não dependem do poderio financeiro da Globo, a situação parece menos crítica, mas não altera a realidade que perdura na Série C há quatro anos: não há transmissão em TV aberta e o incipiente serviço de streaming não banca os custos que os clubes têm.

O ensaio de uma mudança na situação, esboçado no começo deste ano, caiu por terra, alvejado pela chegada da Covid-19. Resta atenuar a perda de receita com a confirmação do Parazão, cujas rendas podem garantir à dupla pelo menos um reforço de caixa da ordem de R$ 2 milhões em bilheteria nos confrontos decisivos.

De repente, o torneio aparentemente menos valioso ganha uma importância inesperada no caixa dos clubes paraenses que disputam a Terceira Divisão.

(Gerson Nogueira)

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