A paixão que desbotou

Nem os inúmeros desgostos gerados pela Seleção Brasileira nos últimos 18 anos fizeram arrefecer a confiança do time de anunciantes (11), que enchem os cofres da CBF com verdadeiras fortunas anuais. Em 2019, a receita chegou a R$ 957 milhões, valor 43% maior que o de 2018. A grana só aumenta de volume, quase na mesma proporção em que o time diminui de tamanho e importância aos olhos do público.

Esse fenômeno de marketing exitoso talvez encontre explicação na fé cega que anunciantes e publicitários têm na eternização do mito da Seleção como um patrimônio do povo brasileiro. É inegavelmente um produto de forte apelo, principalmente em ano de Copa do Mundo, misturando-se com o patriotismo de pé-quebrado bem ao gosto nacional.

O fato é que os vínculos entre a torcida e a Seleção estão cada vez mais esgarçados, sem muita expectativa de recuperação a curto ou médio prazo. A essa altura, com o peso de um 7 a 1 no currículo, sofrido dentro de casa, o escrete canarinho só tem possibilidade de resgatar o antigo prestígio caso vença uma Copa. De preferência, a próxima Copa.

Torcedor de futebol não é paciente, muito pelo contrário. Tem pressa e urgência em festejar títulos. Torcedor de Seleção Brasileira tem uma capacidade de tolerância menor ainda. O fã do escrete é sazonal, cujo fervor só se manifesta de quatro em quatro anos.

Até o ato de vestir a amarelinha passou a ser um gesto de difícil acolhimento para muitos, desde que o manto da Seleção foi indevidamente apropriado por correntes político-partidárias para manifestações ideologicamente alinhadas com o pensamento conservador. Uma situação que mais divide do que agrega.

As Eliminatórias da Copa de 2022 começaram na última sexta-feira e pouca gente sabia disso. Mesmo os mais xiitas pareciam alheios à importância do jogo contra a Bolívia. Desinteresse evidente, pouco envolvimento, mas as grandes marcas estavam lá, nas placas de publicidade, agregando-se à Seleção da CBF. Algum retorno há, afinal os donos do capital não jogam dinheiro no lixo.


Em campo, Neymar e companheiros pouco surpreenderam, mas tiveram uma atuação correta, tranquila e produtiva ofensivamente. Os 5 a 0 encheram de ufanismo as transmissões da TV, apesar dos desfalques que a Bolívia teve para o jogo. Se já é limitada normalmente, imagina a seleção boliviana sem seis jogadores…

Nada disso diminui o tom de entusiasmo dos narradores e comentaristas, com aquele ufanismo que desafia a paciência, já projetando uma campanha gloriosa rumo ao hexa. A Seleção de fato sobrou no jogo, sem sofrer qualquer susto.

O segundo confronto será hoje e o adversário impõe mais respeito. O Peru tem feito boas campanhas nos últimos anos. Esteve bem na Copa do Mundo da Rússia e marcou presença na Copa América, mas é um time que sofre de complexo de inferioridade em relação aos grandes do continente.

Não haverá problema para o time brasileiro se impor, mesmo sem encontrar as facilidades concedidas pela Bolívia. Mas, ainda assim, o jogo desperta pouquíssima expectativa na torcida. A preocupação maior é com o Campeonato Brasileiro. E é natural – e até saudável – que seja assim.

Em situação ruim na tabela, Papão começa a fazer cálculos

É rotineiro no futebol o hábito de fazer contas para projetar chances matemáticas. Essa situação se acentua na reta final dos torneios, mas, desta vez, forçado pelas circunstâncias, o PSC já se dedica a cálculos para avaliar o que terá que acumular de pontos para passar à próxima etapa da Série C.

Com 11 pontos, o time ocupa a sexta colocação e pode cair para a sétima, dependendo do resultado de Vila Nova x Manaus, que jogariam ontem à noite. Independente do posicionamento atual, o time de Matheus Costa terá 24 pontos (oito jogos) a disputar.

Como a previsão – com base nas edições recentes da Série C – é de um mínimo de 28 pontos para classificar, o PSC terá que acumular mais 17 pontos. Uma tarefa hercúlea. O time será obrigado a ganhar bem mais que o dobro de pontos que conquistou até agora. Isso tudo em meio a um forte equilíbrio no grupo A, cujo único participante fora de combate é o lanterna Imperatriz.

Todos os demais participantes têm chances legítimas de acreditar no acesso. O PSC está logo atrás do Treze (13 pontos) e ao lado de Manaus e Botafogo, que têm a mesma pontuação, 11. O 9º colocado, Jacuipense, tem 10 – e um jogo a menos, contra o saco de pancadas Imperatriz.

O bloco intermediário está embaralhado e as chances de avançar ou cair são praticamente iguais para todos. É deste grupo que o PSC precisa desgarrar urgentemente. O jogo com o Vila Nova, em Belém, no próximo domingo, representa a chance de redenção e da reconquista de confiança.

A má atuação contra o Santa Cruz trouxe abatimento à torcida. Em meio ao clima de apreensão, o presidente Ricardo Gluck Paul disse ontem que o espírito deve ser de confiança na recuperação, pois nem tudo está perdido. Dois novos reforços para o ataque – Magno Cruz e Vítor Feijão – devem ser anunciados nas próximas horas.

É preciso, porém, retomar a normalidade e voltar a vencer. A correção de rumos deve começar por ajustes na defesa, que falhou muito nos últimos dois jogos – levou cinco gols, contra Remo e Santa Cruz.

Exemplo da NBA evidencia o grau do retrocesso no Brasil

Depois da conquista do título da NBA pelo Los Angeles Lakers, no domingo, o craque LeBron James proferiu um discurso político em meio aos festejos. Referiu-se à necessidade de vozes que se ergam contra o racismo e as desigualdades sociais. Belo exemplo de consciência e ativismo.

Mais rentável liga esportiva do planeta, a NBA em nenhum momento sequer pensou em punir James pelo posicionamento. Sabe que é simplesmente burrice investir contra a realidade.

Tudo muito diferente do circo armado no Brasil contra Carol Solberg, a atleta de vôlei que o STJD pretende condenar porque ousou gritar “Fora Bolsonaro!” após um torneio de vôlei de praia. O fato poderia ser encarado com a mesma boa vontade com que as declarações de voto de atletas do vôlei masculino foram vistas em 2018.

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