O Brasiliense foi heroico, disciplinado e focado. Sustentou o resultado que lhe interessava tendo um homem a menos no segundo tempo. Na série extra de tiros livres, levou a melhor, após o chute torto de Wellington Silva. A conquista é justa pelo esforço da equipe candanga, mas ficou a clara sensação de que o Remo foi melhor nos 180 minutos, embora extremamente incompetente e errático para transformar em gols a superioridade técnica.

Já na partida de ida a movimentação do Remo desnorteou o Brasiliense em parte acentuada do confronto. A derrota ocorreu em lance fortuito, com erro de marcação em cobrança de escanteio no primeiro pau. Ainda assim, o Remo teve chances para empatar e até virar o marcador.

No Mangueirão, ontem, as coisas até começaram bem para o Leão. O primeiro tempo foi inteiramente favorável. Além do gol, o time criou pelo menos três grandes chances, sendo a maior delas nos pés de Augusto, que desperdiçou o que seria o segundo gol batendo em cima do goleiro.

A tomada de iniciativa era sempre dos azulinos. Uma testada firme de Fredson para o fundo das redes, aos 26 minutos, após cruzamento de Felipe Gedoz, deu a confiança necessária para a troca de passes e até jogadas de efeito. O jogo era dinâmico e fluía bem. Por seu turno, cauteloso, o Brasiliense praticamente não saía de seu campo.

Hélio se destacava pela velocidade no lado direito e estabelecia ampla vantagem sobre o lateral Wagner Balotelli, o que acabaria provocando a expulsão do lateral. Apesar da intensidade do setor ofensivo, Augusto e Wallace não rendiam no mesmo nível de outros jogos.

Quando veio o 2º tempo, o Remo deu uma desligada e o Brasiliense se aproveitou. Logo aos 5 minutos, a bola foi cruzada da direita, Rafael Jansen não cortou e Zé Love aproveitou para testar no canto direito de Vinícius. O empate não abalou os azulinos, que continuavam envolvendo o adversário.

Veio então a expulsão de Balotelli por sarrafada em Hélio, aos 15’. Na cobrança da falta, Gedoz cruzou, Lucas Siqueira deu uma raspadinha e Jansen fechou no segundo pau para desempatar o jogo. Era cedo, o Remo teria 35 minutos para tentar obter a vantagem que lhe daria o título.


Aí o cenário repentinamente mudou para pior. Mesmo com a posse de bola, as boas ideias foram rareando. Dioguinho substituiu Pingo para reforçar o ataque. Entrou na direita, com Hélio passando para o lado esquerdo. Ambos rendiam bem, mas faltava uma referência na área.

Tiago Miranda e Laílson entraram para revitalizar a equipe, mas Wallace sumiu em campo. Gedoz cansou e os lançamentos verticais raramente iam na direção certa. Ainda assim, Lailson perdeu duas oportunidades e Dioguinho mandou um tiro forte na trave de Sucuri.

O filósofo rabugento Muricy Ramalho cunhou a célebre frase: a bola pune. Poucas vezes essa verdade foi tão óbvia. O Remo abusou da sorte e do direito de desperdiçar gols. O castigo veio nas penalidades.

Pode-se até criticar algumas substituições promovidas por Bonamigo, mas é injusto imputar a ele responsabilidade pelo revés. Se é verdade que ignorou sistematicamente o arisco e agudo Ronald, melhor jogador de lado do elenco, deve-se reconhecer que o técnico arrancou um rendimento coletivo surpreendentemente bom, mesmo sem peças à altura.

Esforçados e intensos, os garotos foram úteis na campanha, apesar de óbvias carências de fundamentos, principalmente nas finalizações. O lado positivo é que enfrentaram o peso da cobrança, inerente ao ofício. Só assim é possível evoluir e amadurecer. Mesmo sem a cobiçada taça, o Remo deve valorizar o que tem: uma juventude promissora.

Faltou acreditar mais: o título inédito era possível

O tri-vice na temporada 2020, com derrotas nas decisões do Parazão, da Série C e agora da Copa Verde, está maltratando a torcida azulina, mas não pode servir para ignorar erros e atropelos cometidos no torneio decidido ontem. O Remo chegou com méritos à decisão e tinha plenas condições de levantar o caneco inédito, mas é justo dizer que custou a acreditar que isso fosse possível.

A vida é de quem acredita nela, já disse um poeta. O futebol, como espelho das imperfeições humanas, também se deixa reger por esse mandamento.

A frustração pela perda da CV é tanto maior porque inclui um ganho substancial a menos: a bonificação de R$ 2 milhões, dada ao campeão, que entra direto na terceira etapa da Copa Brasil.

Quando encarou o Independente, nas quartas de final, o Remo quase foi eliminado. Atuou muito mal em Tucuruí e se classificou na bacia das almas, vencendo nas penalidades – as mesmas que o castigaram agora.

Todo mundo sabe que remontar um elenco nem sempre é tarefa simples. A diretoria liberou 16 jogadores depois da Série C e o grupo foi completado com os meninos da base. Paulo Bonamigo voltou a tempo de arrumar a casa e o Remo se aprumou a tempo de atropelar o Manaus nas semifinais, já tomado pela crença de que era possível chegar.

Na decisão, contra um adversário que eliminou concorrentes bem cotados, o comportamento da equipe foi satisfatório. Foi clara a evolução desde que Bonamigo reassumiu, a ponto de o Leão ser amplamente superior, praticamente sobrando no confronto com o Brasiliense.

Só não se pode negligenciar o fato de que uma decisão não permite erros fortuitos, como o segundo gol sofrido no Mané Garrincha e a desatenção na bola que permitiu o gol de Zé Love ontem.

Sei que alguns comentários pós-jogo se assemelham àquelas opiniões de engenheiros de obra pronta, mas é necessário dizer que o Remo talvez tivesse quebrado o jejum se desde o começo botasse fé na empreitada – a coluna abordou esse tema umas duas vezes.

Fica a lição. Andar com fé porque a fé não costuma falhar, ensinou Gil.

 

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