Era um sábado (23) de muito sol no Baenão. Cerca de 200 torcedores dividiam o único espaço possível para assistir a estreia das meninas do Clube do Remo no Campeonato Paraense de Futebol Feminino. A equipe enfrentava o Carajás. Sem policiamento, sem ambulância, sem estrutura necessária para receber um jogo e torcedores, o que poderia ser uma festa, como nos jogos masculinos, acaba sendo 90 minutos de muita tensão, não só pelo resultado do placar, mas pelo receio de não se ter o mínimo de estrutura para uma partida de futebol.
“Infelizmente a FPF (Federação Paraense de Futebol) não solicitou ambulância e nem policiamento para a estreia. Falha nossa mesmo”, admitiu o presidente da comissão de arbitragem da Federação, Fernando Sérgio, único representante da entidade durante o jogo.
Por sorte, nenhuma atleta precisou ser levada às pressas para um hospital, e quem estava dando o suporte médico era a comissão do Remo, mas fica o risco que deve se repetir em outras partidas e vários questionamentos. Por que as mulheres jogam com menos estrutura, onde falta salário e até público? Fernando Sérgio garantiu que a Federação não repetiria o mesmo erro, e que nas próximas rodadas iriam solicitar o policiamento e a retaguarda médica para os clubes.
Provavelmente o Remo não deve ter ficado preocupado, já que tinha uma equipe à disposição, mas os outros clubes, que muitas vezes disputam um espaço no Ceju para treinarem pelo menos uma vez por semana, com certeza torcem para que nenhuma atleta se machuque, tanto pela ausência do profissional médico à beira do gramado, quanto pela falta que essa atleta pode vir a fazer na equipe.
DESISTÊNCIAS
Com falta de estrutura, apoio e patrocínio, dois clubes já desistiram de participar da competição. O primeiro foi o Tapajós, que abriu mão da vaga dias antes do começo do certame. Na semana passada, o Tiradentes também anunciou que está fora do Parazão, o que acarretou em cancelamento de seus jogos e na reorganização da tabela do campeonato.
JOGOS DE HOJE
Em meio ao desafio acima, hoje jogam Bandeirante e Esmac, às 9h30, no Ceju. Pinheirense e Cabanos se enfrentam às 15h30, no estádio Abelardo Conduru, em Icoaraci.
LEVAR TIME AO CAMPO É UM DESAFIO DIFÍCIL
Desapontada por ver que o futebol feminino só é feito na base de muito altruísmo, a técnica do Carajás, Marcia Cristina, não esmorece, mas avalia que as condições da competição Estadual poderiam ser melhores.
“Hoje eu estou lutando para ser campeã e mesmo sem ter espaço na Federação a gente segue lutando. Para você ter uma noção, esse jogo estava marcado para o período da manhã, e eu nem sabia que tinham transferido para a tarde”, pontuou a comandante, que pela primeira vez, conseguiu um espaço no Ceju para treinar as meninas do Carajás.
O sonho da atacante do Carajás que abriu o placar contra o Remo na primeira rodada, Larissa Moraes, 23, é de chegar em uma competição nacional, mas é preciso que a organização da competição estadual abandone o amadorismo e faça a competição crescer, para que as meninas do futebol paraense sejam vistas.
“Parece que eles esquecem que o futebol feminino paraense ficou em evidência na competição nacional, e não valorizam a gente. Essa falta de apoio é muito triste. Lá no nosso time, por exemplo, a dona Marcia se desdobra para conseguir com que a gente participe das competições e ninguém ajuda ela”, diz Larissa.
FALTA DE PATROCÍNIO
Pela segunda vez no campeonato, a também atacante Maiara Ribeiro, 23, avalia que os times desistem de participar por falta de patrocínio e um olhar mais profissional da FPF para os times femininos. “Essa falta de estrutura na competição não nos dá a devida visibilidade, que só quem tem são os times grandes, como Paysandu e Pinheirense, além de, claro, as falhas graves da arbitragem com os times menores. É notório essa diferença que a Federação faz com a gente”, critica.
(K.L. Carvalho/Diário do Pará)