Escolhida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para
ser ministra do Esporte, Ana Moser tem no currículo, além de uma medalha
olímpica, um passado recente de dedicação a projetos de gestão e a políticas
públicas na área.
Foi esse perfil, dizem pessoas do setor, sob
reserva, que a cacifou para o cargo. Ela é vista com bons olhos por ONGs,
atletas e também por confederações, e o anúncio deverá acontecer nesta semana,
junto com o restante dos ministros do futuro governo.
Um dos principais desafios da futura ministra será
reconduzir a pasta ao status de ministério -o Esporte foi rebaixado a
secretaria especial por Jair Bolsonaro (PL).
Nas quadras, Ana Moser foi bronze nas Olimpíadas de
Atlanta (1996) -a primeira medalha olímpica do vôlei feminino brasileiro.
Aposentou-se três anos depois e passou a se dedicar a projetos sociais, em
especial o Instituto Esporte e Educação, fundado por ela, e mais recentemente o
Atletas Pelo Brasil, do qual é diretora.
Ela integrou o grupo de trabalho do esporte na
equipe de transição do governo Lula. Apesar de anos de trabalho na gestão
esportiva e no debate sobre políticas públicas, Moser pouco atuou dentro do
Estado.
Foi nomeada diretora do Centro Olímpico do Parque
do Ibirapuera, dentro da estrutura da Secretaria de Esportes de São Paulo, e
integrou o Conselho Nacional do Esporte, do Ministério do Esporte, ambos cargos
não tão centrais dentro das respectivas pastas.
Por outro lado, à frente da ONG Atletas Pelo
Brasil, nos últimos anos ela foi uma das articuladoras da sociedade civil em
prol da Lei Geral do Esporte e do Plano Nacional do Desporto.
Ambos, como a própria destacou em entrevista à
Folha de S.Paulo no final de 2021, são pilares para o redesenho da política
pública esportiva, junto com o Sistema Nacional do Esporte.
“O esporte brasileiro tem muito pouco em
termos de estrutura pública. Ele resiste, se vira e até se amplia por conta da
organização da sociedade civil. O que é péssimo, porque só o poder público é
capaz de criar estruturas em escala nacional”, afirmou ela na ocasião.
Como integrante do Conselho Nacional do Esporte,
ela ajudou a desenhar o projeto de política pública para o esporte baseado
nesses três pilares defendidos por ela.
Moser será a primeira ministra do Esporte de um
governo petista que não é ligada a um partido político. Desde o primeiro
governo Lula, a pasta foi ocupada por integrantes do próprio PT, do PC do B e
também já ficou nas mãos do PRB (hoje, Republicanos).
O histórico de sua atuação também indica que Moser
deverá tentar mudar o perfil do investimento estatal no esporte, dizem pessoas
da área. Por outro lado, por ter sido atleta, não deve deixar de lado o alto
desempenho.
Durante os governos petistas, o Brasil recebeu os
dois principais eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo (2014) e as
Olimpíadas (2016), e focou esforços, sobretudo, para o alto rendimento.
Reflexo disso, por exemplo, é que a maior fatia das
verbas da Lei de Incentivo ao Esporte é captada para projetos de rendimento
-atualmente, segundo o portal do governo federal, pouco mais de 50% do total
captado pelo mecanismo até hoje é para essa rubrica.
Desde que se aposentou das quadras, em 1999, Moser
vem se dedicando à democratização do esporte, à prática educacional, de
inclusão e voltada para a saúde.
Em 2001, ela fundou o Instituto Esporte e Educação,
organização que realiza projetos para atendimento sobretudo da população de
baixa renda. Em 2005, em parceria com a Unicef e com o canal ESPN Brasil, criou
a Caravana do Esporte, “movimento de ação e mobilização social pelo
direito das crianças ao esporte, ao lazer, à educação e à cultura”, como
diz a página do projeto.
Segundo seu instituto, a iniciativa já atendeu,
indiretamente, quase 3 milhões de crianças entre 7 e 14 anos, em cidades com
baixo IDH (índice de desenvolvimento humano). Atualmente, são 4.500 crianças e
jovens atendidos por ano, em três estados, e 4.000 professores.
Segundo Ricardo Leyser, ex-ministro do Esporte,
Moser foi escolhida por sua “paixão pela utopia do esporte para
todos”.
“No primeiro momento, ela terá que fazer um
movimento de reconstrução do ministério, e isso vai levar um tempo. E acho que,
como em toda transição, ela terá o desafio de manter os pontos positivos
enquanto reorienta a política da pasta. Num segundo momento, é hora de ver os
resultados das políticas públicas”, afirmou ele.
Além de Ana, também foram cotadas para a pasta a
ex-jogadora de basquete Marta e a senadora Leila Barros (PDT-DF), também
ex-atleta do vôlei.
“As três têm um perfil que combina a
capacidade técnica, a legitimidade esportiva e a sensibilidade social”,
afirmou Flávio de Campos, pesquisador do esporte pela USP e também integrante
do grupo de transição.