Lições para o Brasileiro

O Remo está fora da decisão do Parazão 2021. Vai acompanhar pela TV a festa exclusiva de Tuna e PSC, finalistas da competição. Pior que isso: chega ao terceiro revés em finais nos últimos seis meses – Série C, Copa Verde e Estadual. Conta indigesta para uma torcida exigente; número negativo para o técnico Paulo Bonamigo, respeitado e identificado com o clube, mas que ainda não acertou a mão na hora de decidir títulos.

A repercussão da derrota para o Vila Nova-GO na Série C foi atenuada pelos muitos desfalques provocados pela covid-19 no elenco, após a festa do acesso. Em seguida, veio a Copa Verde. O Remo chegou à final diante do Brasiliense e jogou as duas partidas como se tivesse o condão de resolver tudo a qualquer momento. Perdeu.

Contra a Tuna, anteontem, no Evandro Almeida, a situação se repetiu. O Remo ostentou certa soberba, como de resto em quase todo o campeonato. Terminou superado por um time tecnicamente modesto, mas esforçado e determinado a vencer.

Em vários jogos, o Leão exibiu autossuficiência, como se sobrasse na disputa. Até sobrava, pelo menos em tese, na qualificação dos jogadores. Ocorre que o futebol não é (ainda bem) pautado por uma régua cartesiana segundo a qual elencos mais caros são naturalmente vencedores.

Fatores diversos contribuem para que uma equipe avance e alcance objetivos dentro de um torneio. O Remo de Bonamigo teve três grandes momentos no campeonato: a estreia contra o Gavião, a goleada sobre o PSC e o início arrasador diante do Águia em Marabá pelas quartas de final.


Foram sempre lampejos, nunca uma atuação completamente boa. Chegou perto disso no Re-Pa, mas em nenhum outro jogo mostrou a mesma volúpia ofensiva. Fazia um gol e descansava na sombra. Se marcasse dois, tirava o pé em definitivo. Ocorreu isso em quase todas as rodadas.

Contra a Tuna, na primeira partida, o Remo foi bastante superior. Impôs seu plano de jogo, fez um gol logo de cara, mas arrefeceu e permitiu a reação. Quando foi buscar o resultado, bateu de frente com o goleiro Gabriel e enfrentou a correria da jovem equipe cruzmaltina.

Não foi o suficiente para alertar a comissão técnica. No jogo de quarta-feira, a Tuna veio mais disposta a conquistar a vaga. Deixava claro essa vontade até nas duras entradas toleradas pela arbitragem. O Remo se resguardava, tentava jogadas de efeito, era quase petulante.

O grande lance foi o passe de primeira que Gedoz deu a Marlon para o cruzamento que levou ao gol. Estranhamente, essa manobra não se repetiu mais. O ataque se perdeu em tentativas individuais de Lucas Tocantins, Dioguinho e Edson Cariús. Todos renderam abaixo das expectativas, mas é fundamental reconhecer os méritos da brava Águia do Souza.

As mudanças feitas no 2º tempo foram um tiro no pé. Erick Flores e Vinícius Kiss precisam de tempo para entrosar. Renan Oliveira já teve tempo demais para mostrar utilidade. A dura realidade é que, após tirar Tocantins e Dioguinho, Bonamigo não tinha armas para o ataque. O Leão foi eliminado provavelmente nas substituições.

O grande legado da perda do Parazão talvez esteja nas lições deixadas para a Série B. Em primeiro lugar, está claro que o grupo carece de reforços. É evidente também que algumas peças não estão à altura dos planos para a competição nacional. E, por fim, a necessidade de calçar as chuteiras da humildade, ensinamento válido para qualquer tipo de competição.

Fuga de ideia: PSC quer público na decisão

O PSC quer a liberação de público nos jogos da decisão com a tuna. Em ofício, expedido ontem à tarde, solicita à Federação Paraense de Futebol a autorização para um público de três mil pessoas, nos dois estádios, Souza e Curuzu. A ideia se inspira no que aconteceu no Maranhão, mas aqui a FPF não poderá decidir. O decreto estadual sobre a covid proíbe aglomerações em eventos esportivos e culturais.

Apesar da menção aos “severos e enormes impactos financeiros” e à “redução no quadro de associados”, o clube não apresenta argumento que garanta a segurança sanitária necessária para a volta do público aos estádios. É improvável que tal proposta seja levada a sério, principalmente diante dos números ainda altos da pandemia em Belém.

Clubes fazem picadinho do regulamento

O acordo celebrado ontem por Remo e Castanhal para realizar a disputa do 3º lugar do Parazão em jogo único constitui uma séria afronta ao regulamento da competição. Apesar de homologado pela FPF, o arranjo descumpre o que foi estabelecido pelo conselho técnico e aprovado pelos clubes antes do campeonato.

Não foi a primeira vez. Em 2019, PSC e Castanhal também entraram em acordo para fazer um jogo só, escamoteando os termos do regulamento. Na ocasião, o Castanhal ficou com o terceiro lugar após disputa de penais.

Há o pressuposto de que, como é uma disputa isolada, só interessaria aos clubes envolvidos. Ledo engano. Toda decisão envolvendo quebra de regras pré-estabelecidas deveria passar pela aprovação de todos os clubes participantes.

Curiosamente, quando se discutia a fórmula de disputa, os clubes foram contrários à ideia de jogo único para o terceiro lugar. Todos se manifestaram contra. Diante disso, como entender o recuo? Regulamentos existem para serem cumpridos. Claro que é perda de tempo fazer dois jogos, mas isso deveria ter sido definido lá atrás.

De minha parte, sempre fui contra a realização de quartas de final, semifinais e definição de 3º lugar em ida e volta. Por desnecessário e desinteressante, as fases deveriam ser disputadas em um só confronto, até por razões econômicas, diante da crise gerada pela pandemia.

Aliás, disputar 3ª colocação é uma das coisas mais enfadonhas e melancólicas do futebol. Até na Copa do Mundo é algo que causa tédio. Em certames estaduais, fica pior ainda. Terceiros, quartos e demais classificados deveriam ser definidos por critério técnico.

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