Em 2019, após 12 anos, vai ter Re-Pa no Brasileiro, mas não da forma como os torcedores de Leão e Papão sonhavam, ou seja, com as maiores forças do futebol da região Norte na elite do futebol nacional. Azulinos e bicolores se digladiarão, em dois clássicos, pela Série C, a penúltima do Brasil, o que contraria a pujança da torcida local. A falta de seriedade tanto de um lado como do outro da avenida almirante Barroso fez com que os clubes estivessem hoje no “purgatório” do Brasileiro, numa verdadeira tragédia anunciada. O pior é que ambos estão bem próximos ao inferno do Brasileiro, a Série D.
A situação poderia ser bem pior, visto que o Leão se livrou da volta à Série D, competição que disputou por três temporadas (2012/2014/2015), já neste ano, se salvando nas últimas rodadas da Série C por um verdadeiro milagre ou, como preferem alguns, na bacia das almas. Por outro lado, o Papão, depois de uma sequência de participações na Série B como mero figurante, sem a ambição de subir e o risco de cair, finalmente pagou caro pelo desleixo de seus dirigentes, sobretudo na montagem do elenco do clube, sendo rebaixado à Terceirona nacional.
A insatisfação entre os torcedores dos dois lados é inegável, embora os azulinos contem com a satisfação de ao menos ver o maior oponente lado a lado com o Leão na Terceirona. “É lógico que ver o time deles (o Paysandu) na Série C dá um pouco de alegria, mas o que eu gostaria mesmo é de ter visto o Remo subir este ano para a Segundona”, afirma o torcedor Luiz Cláudio Nogueira Mattos, de 28 anos. “Essa teria sido uma satisfação bem maior do que ver o nosso rival junto com o meu time na mesma série. A esperança é que em 2019 tudo seja diferente”, sonha o torcedor azulino.
Por outro lado, após ver seu time por quatro anos na disputa da Série B, o torcedor do Papão parece não ter assimilado ainda a recente queda de divisão. “É duro ver um clube tão bem organizado administrativamente, como está o Paysandu, trocando o acesso à Série A pelo rebaixamento”, lamenta Paulo Oliveira. “Espero que a lição tenha sido aprendida pelos dirigentes e que em 2019 a gente consiga voltar à Segundona, como foi em 2014”, comentou o torcedor.
Fiel tem motivos para acreditar
Torcida bicolor mantém a esperança num retorno a jato para a Segundona (Foto: Fernando Torres/Paysandu)
O rebaixamento do Paysandu à Série C de 2019 deixou o torcedor bicolor de cabeça inchada. Mas esse mesmo torcedor tem ao menos um bom motivo para confiar na volta por cima da equipe, com a retomada de uma das quatro vagas na Série B em 2020. E esse alento para a Fiel vem de 2014, quando o Papão esteve pela última vez na chamada Terceirona, após ter caído no ano anterior da Série B, ascendendo em 2015 à Segundona juntamente com o Macaé-RJ, Mogi Mirim-SP e CRB-AL. Um bom motivo, sem dúvida, para o torcedor se manter otimista.
É certo, porém, que nem sempre foi assim, com a queda sendo sucedida por um acesso relâmpago. Em 2006, encabeçando a última parte da classificação da Série B, o Papão amargou seis anos no purgatório do Brasileiro, ou seja, disputando a Série C. Durante esse período, o time alternou boas e más campanhas até que, em 2012, como quarto colocado, a equipe, finalmente, conseguiu reconquistar uma vaga na Segunda Divisão de 2013, caindo na mesma temporada para a Série C.
Antes do acesso de 2012, os bicolores estiveram por duas vezes bem perto da Segundona, encerrando suas participações na Série C dos anos de 2010 e 2011 na 6ª colocação, com diferença de apenas um e quatro pontos de Salgueiro-PE e América-RN, últimos colocados do G4, respectivamente. Em 2009, a campanha do time foi bem pior, ficando na oitava colocação com diferença de nove pontos para o Icasa-CE, último colocado do G4. Algo mais ou menos parecido com o que ocorreu no ano anterior, quando encerrou sua participação na 12ª colocação entre os 63 participantes.
Assim como em 2008, a temporada de 2007 só garantia acesso à Série B ao campeão da divisão inferior. E a campanha do Paysandu foi a pior da história do clube na competição. Entre os 64 participantes, o Papão ficou na 62ª posição. Campanha que já não faz parte da memória da torcida, principalmente neste momento de esperança na recuperação da vaga perdida na Série B.
É hora de reconstruir o futuro
O Fenômeno Azul merece uma diretoria profissional. Chegou a hora? (Foto: Maycon Nunes)
Dentro e fora de campo, a vida do Clube do Remo tem sido um verdadeiro “vale a pena ver de novo”: eliminações precoces, queda em confrontos com times sem tradição, elenco fraco, atrasos salariais, briga de ego/poder, modelo de gestão arcaico e por aí vai. Todavia, todos esses fatores, conforme o atual presidente da agremiação, Fábio Bentes, serviram unicamente para elaborar um plano de gestão que vá na contramão de tanta bagunça e amadorismo.
No futebol, por exemplo, a administração tomou algumas medidas que se distinguem do que vinha sendo feito até então. Com prioridade para o cuidado orçamentário, o cartola acredita piamente que o resguardo dará frutos no decorrer da temporada 2019. “Não é provar uma coisa, são princípios. O Remo não pode montar um time caro só por status. É preciso cuidado, pesquisa, investimento. Temos exemplos de times que subiram e fizeram boas campanhas com metade das nossas folhas. Paralelamente vamos correr atrás de dinheiro novo e estamos trabalhando desde já para isso”, explicou Fábio Bentes.
Outro detalhe que deverá ser de suma importância para uma guinada azulina em direção à Série B, é a volta dos jogos no seu alçapão, o estádio Evandro Almeida, o Baenão. Inutilizado para jogos oficiais desde 2014, a ausência do estádio faz o time perder, além de dinheiro, a proximidade com seu torcedor. Por isso, com previsão de reabertura para o ano que vem, a expectativa é trazer de volta essa sintonia “intimidadora” do passado.
“Desde cedo ia ao Baenão. Todo torcedor, como eu, sabe da importância do estádio. Estamos trabalhando para que até fevereiro, para o Estadual, o Baenão esteja em condições de jogo”, destacou Bentes. “Não tenha dúvida de que o retorno do nosso estádio fará toda a diferença para o time em campo”, completa.
CAMINHO DAS PEDRAS
Assim que tomou posse, o presidente Fábio Bentes já tinha toda sua equipe de diretores de futebol montada. Um dos escolhidos por Bentes para integrar a pasta foi Dirson Medeiros Neto, que já tinha exercido a função em 2015, no ano em que o Leão conquistou o acesso à Série C do Nacional. Por isso, um dos responsáveis pela ascensão da agremiação em campo reitera o conhecimento de causa como ponto determinante para o sucesso. “Nós tivemos dificuldades, sim, mas foi um ano positivo para o Remo. Aprofundamos-nos no esporte, em pesquisar, acredito que a experiência nos permitirá ter maior êxito, principalmente com o cuidado que iremos ter”, orientou Dirson Neto.
Na mesma pegada, o executivo Luciano Mancha destaca alguns fatores na preparação para o ano que vem. “Acompanhei o ano do Remo. O time contratou muitos jogadores de idade avançada, e nós sabemos que o futebol do Norte e Nordeste é muito mais físico. Não vamos deixar isso se repetir, assim como outros detalhes, como número de jogadores no grupo”, ponderou.
JUVENTUDE
Assim como nos gramados, a tão almejada modernidade azulina seguirá, na mesma proporção, na administração. Foi assim que definiu o diretor de futebol Yan Oliveira, mais jovem integrante da bancada de dirigentes, com apenas 24 anos. De acordo com o mesmo, a reformulação de mentalidade, será providencial para uma mudança de costumes e padrões no clube. “A juventude na verdade está muito mais ligada à capacidade de se adaptar a novos conceitos, metodologias. Todos estão preparados para isso, e se manter atualizado é muito importante para os resultados. É como um jogador que quer agarrar a oportunidade para fazer o melhor”, comentou.
(Nildo Lima e Matheus Miranda/Diário do Pará)