Os jogadores do Remo não se pronunciaram à imprensa nem emitiram comunicado sobre o movimento de greve. Uma fonte anônima, no entanto, explicou a situação atual da dívida do clube com atletas e funcionários.
“O elenco está há dois meses sem receber. Houve uma conversa na semana passada e o grupo combinou com a direção que, após o jogo contra o Confiança, haveria o pagamento de pelo menos uma folha em atraso. Durante a reunião, a direção afirmou que não poderia pagar uma folha em vencimento e os atletas concluíram que não havia clima para trabalho”, afirmou a fonte.
DÍVIDA GRANDE
Com o valor da folha em torno de R$ 300 mil a R$ 350 mil, o Remo precisaria de quase R$ 700 mil para quitar todo o valor pendente. Mas o movimento dos atletas não pressiona pelo pagamento integral. “Havendo o pagamento de uma folha, o grupo retoma os trabalhos”, diz a fonte.
A situação dos jogadores só não é pior que a dos funcionários do clube. Após um esforço da direção e alguns acordos, foi pago o mês de abril aos funcionários, que ainda aguardam o pagamento de mais três meses pendentes. Com um grupo bem maior de colaboradores, o valor de folha do clube é estimado em R$ 80 mil.
Dirigente questiona decisão do elenco
Membro da comissão de futebol do Clube do Remo, Milton Campos é ao lado de Marco Antônio Pina, Sérgio Dias e Paulinho Araújo um dos responsáveis por fazer os acordos e negociações com os atletas sobre a dívida azulina. O dirigente procurou a imprensa após a confirmação da greve para falar em nome da direção e afirmou que recebeu a paralisação com surpresa.
“A intenção da diretoria era pagar junho aos jogadores. Eles nos pediram que fizéssemos um esforço para quitar o mês de abril dos funcionários. A diretoria trabalhou incansavelmente para antecipar royalties e algumas coisas para não chegar só com vales na mão. E fomos surpreendidos pela notícia que o grupo só treinaria se a diretoria estivesse lá. Acredito que esse não é um caminho para se negociar”, comentou Campos.
O dirigente fez um apelo que atletas e direção se reunissem e, após uma conversa, retornassem às atividades pelo bem do próprio clube, que ainda tem chances de se classificar e arrecadar bem mais na competição. “Mas para sonhar com o acesso vou citar algo que o Cacaio acertou conosco na Série D de 2015 – O que o time jogasse era pra pagar todo mundo. O Remo não está lucrando R$ 1, tudo está sendo para pagar funcionários e jogadores! O Remo está focado em pagar suas dívidas”, afirmou Campos.
ARRECADAÇÃO
Campos afirma que da arrecadação do jogo contra o Confiança-SE, pouca coisa permaneceu com o clube após os descontos de gastos com a partida e bloqueio da justiça do trabalho. “Todo mundo sabe que boa parte das rendas é bloqueada pela justiça do trabalho”, comentou.
Por causa do atraso em alguns repasses, a Justiça aumentou o valor do bloqueio para 40% em algumas partidas.
“A folha salarial não tem dia para vencer”
Procurado pela reportagem do DIÁRIO, o presidente azulino Manoel Ribeiro afirmou que não tinha informações dos fatos ocorridos durante a tarde de ontem no Baenão. “Passei o dia na Sede Social, fiquei sabendo pela imprensa e amigos que os jogadores não treinaram, mas ainda não tive maiores informações. Até por isso prefiro não me manifestar sobre o tema”, comentou o dirigente, que pretendia conversar com os diretores do futebol primeiro.
Manoel afirmou que entende que a paralisação foi pela falta de pagamento. “A questão é sempre o dinheiro, mas é muito difícil fazer futebol sem dinheiro. Nesse último jogo a Justiça retirou R$ 118 mil da renda. Todo jogo é assim e não sobra muita coisa”, comentou.
Perguntado sobre os salários atrasados e a folha vencendo, Manoel, com franqueza, afirmou que, na prática, a folha salarial “não tem dia pra vencer” no Remo. “O pagamento vem quando é possível. A dificuldade financeira está aí há muitos anos e todos fizeram da mesma forma”, disse.
(Taion Almeida/Diário do Pará)