A definição dos grupos do Campeonato Brasileiro da Série C causou uma certa dor de cabeça para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF): pela primeira vez um dos grupos terá exclusivamente clubes da região Nordeste do pais. Já o outro contará com times das regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A intenção da CBF é diminuir os custos com logística, com viagens de ônibus entre os estados do Nordeste.

É justamente aí que surge o problema: o grupo em que a dupla Re-Pa se encontra terá um deslocamento muito maior aos clubes do grupo A; ou seja, com a intenção de diminuir o desgaste e os custos, a CBF acabou ‘beneficiando’ apenas os nordestinos.

Para entender melhor isto, devemos observar que, na primeira fase, 10 times disputam entre si, em duelos de ida e volta. Os quatro primeiros de cada grupo vão para a segunda etapa, enquanto os dois últimos são rebaixados. Para integrar a lista dos quatro mais bem posicionados, Remo e Paysandu terão que percorrer, cada um, 26 mil quilômetros. Uma volta ao mundo, para se ter ideia, é cerca de 40 mil quilômetros. Com tantas viagens, juntos, a dupla Re-Pa fará mais que isso. 

HAJA VIAGEM!

Para alguns locais, como São Luís-MA, a viagem saindo de Belém dura cerca de uma hora. O Maranhão, vele lembrar, terá dois representantes na competição: Sampaio Corrêa e Imperatriz como representantes. As passagens de avião de ida e volta para a capital do Maranhão custa em média R$ 450.

Fazendo uma busca rápida entre os sites de passagens aéreas, para o fim de abril, data estimada para o começo da disputa, é possível ver que a viagem para Rio Branco-AC, que tem o Atlético-AC como representante, dura mais de 7h, com valor das passagens de ida e volta girando em torno de R$ 1000.

Para Lucas do Rio Verde (MT), o desgaste é bem maior. O confronto com o Luverdense-MT, dará aos times paraenses mais de 10 horas de viagem. São pouco mais de 5 horas de avião até Cuiabá (MT), somadas a mais 5 horas de ônibus até Lucas do Rio Verde (MT).

Vale lembrar ainda que o torcedor paraense sempre apoia os clubes, e ter confrontos mais perto permite que eles compareçam. Porém, colocando os jogos em estados mais distante, a presença da Fiel e do Fenômeno Azul se torna mais difícil.

Imagem: Gabriel Caldas/ DOL

QUILOMETRAGEM

As viagens de Remo e Paysandu serão para o Rio Branco (AC), Caxias do Sul (RS), Porto Alegre (RS), Erechim (RS), Tombos (MG), Belo Horizonte (RS), Lucas do Rio Verde (MT) e Volta Redonda (RJ). Veja como fica:

– Belém para Rio Branco (Acre): 2397 km

– Belém para Caxias do Sul (Rio Grande do Sul): 3658 km

– Belém para Porto Alegre (Rio Grande do Sul): 4035 km

– Belém para Erechim (Rio Grande do Sul): 3496 km


– Belém para Tombos (Minas Gerais): 3.057 km

– Belém para Belo Horizonte (Minas Gerais): 2886 Km

– Belém para Lucas do Rio Verde (Mato Grosso): 3253 Km

– Belém para Volta Redonda (Rio de Janeiro): 3220 Km

DESGASTE FÍSICO

Os jogadores iniciam a pré-temporada já no início de 2019, com os estaduais marcados para janeiro, o trabalho começa bem cedo. Depois disso, várias competições são iniciadas e o trabalho segue intenso. Para atletas de alto rendimento, é importante cuidar do corpo e fazer trabalho de prevenção. Os departamentos médicos do clube trabalham para garantir o menor número possível de lesões e desgaste.

“Vai ser bem mais cansativo em relação as viagens, por isso já iniciamos uma conversa com a CBF para adicionar mais uma diária quando o período de deslocamento for maior. E eles entenderam. Mas essa questão vale pra gente e para o outro time também que vai se deslocar. Vai ser ruim para os dois lados”, explicou Fábio Bentes, presidente do Remo.

O mandatário ainda enfatizou ainda que assim que saiu os grupos da Série C, o Remo começou a estudar a melhor forma de facilitar para o clube, tudo para diminuir o desgaste físico e a recuperação, já que o período entre os jogos é curto.

Outra questão que vale a pena destacar é a falta de apoio do torcedor in loco. A Fiel e o Fenômeno Azul sempre fazem questão de apoiar os times, inclusive quando os jogos são próximos de Belém, dezenas de caravanas fazem o deslocamento para cidades próximas.

“Eu lamento muito, porque realmente ficou mais difícil ter o apoio do torcedor nesses lugares. Eu como torcedor já fiz muito isso”, concluiu Fábio Bentes. Para Thales Barra, fisioterapeuta remista, grandes deslocamentos interferem sim no desempenho do profissional.

“A maioria das viagens da delegação acontece ne madrugada, só ai já é um dia perdido de sono, o que atrapalha o atleta diretamente. O certo mesmo é viajar dois dias antes pata tentar recuperar até o dia do jogo. Como a rotina de treino já é bastante desgastante, o repouso é fundamental e faz parte do treinamento também”, explicou Thales.

TOMA LÁ, DÁ CÁ

 Para Ricardo Gluck Paul, presidente do Paysandu, a escolha dos grupos não foi injusta, já que o campeonato é caro. Mas vendo do lado bicolor, ele espera que ocorra compensações. “Não podemos olhar para uma competição com 20 clubes pensando só em Remo e Paysandu. Tem muitos custos, e quem banca é a CBF. Olhando esses clubes mais o Atlético-AC, que são os que vão fazer viagens longas, para ter equilíbrio técnico, precisa de compensações, como uma diária a mais”, disse. A visão de Ricardo é parecida ao do presidente remista.

Outra sugestão de Ricardo é aumentar o número de passagens aéreas, para que possam levar mais pessoas da equipe médica e trabalhar a questão da recuperação junto aos atletas.

O presidente ainda destacou sobre o público em jogos da primeira fase da Série C. “O público é definido muito mais pelo momento do time do que pelo rival. Se nosso time estiver bem, brigando pelo acesso, com resultado, a torcida acompanha”, avaliou.

GRUPOS DA SÉRIE C

– Grupo A

ABC-RN;

Botafogo-PB;

Confiança-SE;

Ferroviário-CE

Globo-RN

Imperatriz-MA

Náutico-PE

Sampaio Corrêa-MA

Santa Cruz-PE

Treze-PB

– Grupo B

Atlético-AC

Paysandu-PA

Remo-PA

Juventude-RS

São José-RS

Ypiranga-RS

Boa-MG

Luverdense-MT

Tombense-MG

Volta Redonda-RJ

(Bruna Dias/ DOL)

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