A alegria dos meninos

Há um vídeo na internet mostrando a chegada de Wallace à sua casa, no sábado à noite, depois de fazer o gol da vitória azulina no clássico disputado momentos antes no gramado do estádio Mangueirão. É uma cena doméstica, como tantas outras, apenas com a fundamental diferença de flagrar a vida de um jovem jogador de futebol sendo reverenciado pelos seus.

Alguém escreveu há tempos que a glória suprema de uma carreira ou trabalho está no reconhecimento de amigos, parentes e colegas. Os abraços, afagos e gestos de pura estima que Wallace recebe ao se aproximar da casa são preciosidades que a vida concede em alguns momentos iluminados.

Certamente, por mais longa que seja sua trajetória no futebol, Wallace jamais esquecerá a alegria de dar alegria a pessoas queridas. São momentos que ficam definitivamente cravadas na memória e há uma razão especial por trás disso: todos os que o recebem de maneira tão generosa são testemunhas de seu esforço e dedicação ao ofício.

Quantas vezes o menino não voltou para casa cabisbaixo, frustrado pelas dificuldades que a carreira costuma proporcionar a quase todos, observado e consolado pelas mesmas pessoas do vídeo, todas avalistas e partícipes do sucesso tão merecido que agora começa a aparecer.

Há um senhor, que deve ser o pai ou tio de Wallace, que parece o mais comovido. Uma imagem de relance flagra sua satisfação em abraçar o artilheiro. Flagrantes de um mosaico que a vida acolhe e carimba para sempre. A emoção do gol nunca é igual. Depende do momento, do ambiente, da necessidade.

Só lá na frente, quando for possível estabelecer comparação com outros feitos, aquele gol marcado no crepúsculo do clássico terá aferida sua verdadeira importância na carreira de Wallace.


A imagem que ficará na lembrança irá abranger todos os elementos técnicos envolvidos em décimos de segundos do lance consagrador: a habilidade de confundir os zagueiros, o gesto natural de aplicar a força mínima necessária no penúltimo toque na bola e o disparo definitivo seco e certeiro com destino às redes adversárias.

Wallace fez dezenas de gols na curta trajetória entre as divisões de base o elenco profissional do Remo. Está em Antônio Baena desde o começo da adolescência, tem mais vínculo emocional com o clube do que a imensa maioria dos companheiros de elenco.

É, além de atleta, um torcedor. Seria ilógico e desumano não torcer pela camisa que defende desde menino. Nessa condição, talvez sofra mais que os outros quando as coisas não vão bem em campo. E deve ter sofrido ainda mais pela demora em merecer chances reais de mostrar seu jogo.

Os clubes deveriam ser muito mais sensíveis aos jovens que formam. Raros são os que aproveitam suas joias mais preciosas. A maioria trata com fria indiferença os boleiros formados em casa. Burrice. Não há dinheiro que compre a lealdade e o afeto que os meninos devotam a um clube.

Só um moleque nascido na periferia de Belém entende de verdade o que é a essência do Re-Pa e, por isso mesmo, sabem a real importância do jogo. Só eles sentem na alma (e encaram de frente) a dor das derrotas e a consequente encarnação dos rivais, como também são eles que sabem festejar como ninguém a alegria única das grandes epifanias.

Verdades registradas na memória de um velho escriba

Registro o recebimento de “Verdades verdadeiras”, livro de Loris Baena Cunha, o mais carioca dos paraenses, segundo Eraldo Leite. Ouvi falar de Loris quando era moleque ainda. Mestre Edyr Proença falava muito sobre ele e, se Edyr falava bem de alguém, era para levar a sério.

Associado da ABI desde 1955, Loris foi contemporâneo do velho e lendário Edgar Proença, fundador da Rádio Clube do Pará e pioneiro do radiojornalismo no Pará, pai de Edyr.

O livro ‘Verdades verdadeiras” é uma reunião de matérias e artigos assinados por Loris, um dos mais longevos profissionais da imprensa brasileira, com 74 anos de carreira.

Estou começando a ler e a gostar imensamente da obra, que recomendo a quem aprecia um texto bem trabalhado e histórias saborosas. Voltarei a falar do livro e de Loris nas próximas semanas.

A quinta substituição que ficou no “quase”

Na coluna de segunda-feira, 5, um lapso terrível. Acreditei piamente que o técnico Paulo Bonamigo havia feito a quinta substituição no clássico. O anúncio foi dado, mas Eron não chegou a entrar no lugar de Eduardo Ramos, como erroneamente escrevi e saiu registrado na coluna impressa – no texto do blog, tratei de corrigir a ratada ainda no domingo.

Um vacilo lamentável, mas dentro do contexto de coisas possíveis de acontecer num Re-Pa eletrizante, que não permitia um minuto de desatenção tal a sucessão de eventos se desenrolando em campo.

De todo modo, só pela intenção de botar em campo mais um atacante, Bonamigo sinalizou que realmente vê o jogo com outros olhos. Acredita sempre na força do ataque como melhor ponto de apoio e alavanca para vitórias. Não se inscreve no numeroso rol de treinadores fãs do pragmatismo que tanto enfeia o futebol.

Eddie parte e deixa as guitarras enlutadas

A tarde de ontem reservou um toque de melancolia para fãs do rock sem compromisso, voltado para a diversão pura e simples. Eddie Van Halen, dono de solos infernais de guitarra, partiu deixando um legado inconfundível na maneira de tocar.

Era o inegável líder de uma banda que nasceu anárquica e permaneceu indomável no projeto de levar alegria a grandes plateias. Como muitos, conheci o Van Halen a partir de hits como “Jump”, “Panama” e “Eruption”.

Foram, porém, os solos e riffs de Eddie que permitiram olhar sempre carinhosamente para a banda, mesmo quando entrou em fase de baixa criatividade. Importante registrar o ecletismo dele, que o levou a emprestar seu talento a discos de outros astros, como Michael Jackson. Não há dúvida: a guitarra foi dignificada nas mãos de Eddie.

 

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