Estresse, exercícios físicos intensos, infecções e certos medicamentos podem desencadear um ritmo anormal de batimentos do coração, um quadro conhecido como arritmia cardíaca. Doenças preexistentes, como infarto, hipertensão e alterações estruturais ou genéticas do coração também são fatores de risco.
O assunto ganhou repercussão depois que o técnico do Flamengo, Tite, 63, e o zagueiro uruguaio Juan Izquierdo, 27, foram acometidos, na última quinta-feira (22), pela arritmia cardíaca durante as disputas das oitavas de final da Copa Libertadores.
Palpitações, tontura, desmaio, falta de ar e dor no peito são alguns dos sintomas mais comuns. No caso de Izquierdo, ele chegou a cair no gramado durante a partida e teve uma parada cardíaca.
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O cardiologista Antonio Amorim, especialista pela SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), explica que o coração possui um sistema elétrico que, em condições normais, gera e distribui impulsos para garantir um batimento regular.
“A arritmia ocorre quando esses estímulos elétricos são gerados em locais indevidos, causando um tipo de curto-circuito e o coração sai do ritmo normal”, afirma.
“Uma parada cardíaca pode ocorrer como consequência de arritmia. Inclusive, a maioria dos casos de parada cardíaca é desencadeada por uma arritmia severa”, acrescenta.
Segundo o cardiologista Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do InCor (Instituto do Coração) da USP (Universidade de São Paulo) e diretor geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, a arritmia cardíaca é um termo amplo que inclui diversos tipos de ritmos cardíacos anormais.
“Tem arritmias benignas, que não representam risco de vida, e as malignas, que podem ser fatais”, diz.
Em casos graves, especialmente em jovens, doenças como miocardiopatia hipertrófica e displasia arritmogênica do ventrículo direito requerem cautela na prática de atividade física.
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Kalil afirma que a necessidade de limitação ou ajuste no exercício de alta intensidade depende da condição do paciente.
“Cada caso precisa ser avaliado individualmente para determinar quais atividades são seguras e quais devem ser evitadas”, diz.
No Brasil, cerca de 20 milhões de pessoas (1 em cada 10) apresentam algum tipo de arritmia cardíaca, segundo estimativas da Sobrac (Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas). A doença é a causa de mais de 320 mil mortes súbitas ao ano no país.
A maioria delas é benigna -quando interfere no batimento cardíaco, mas raramente leva à morte. Já as malignas, potencialmente mais letais e fator de risco para AVC (Acidente Vascular Cerebral), atingem cerca de dois milhões de brasileiros.
Qualquer pessoa pode desenvolver uma arritmia ao longo da vida, especialmente sob condições físicas extremas.
“Atletas que praticam atividade física de resistência, como maratonistas e ciclistas, podem desenvolver alterações estruturais no coração, o que aumenta o risco de apresentarem uma arritmia chamada fibrilação atrial”, explica Amorim.
Esse é um tipo de arritmia benigna que ocorre na parte superior do coração (supraventricular) -o quadro diagnosticado no técnico Tite- e mais prevalente com o aumento da idade.
Apesar de não oferecer risco imediato de vida, a fibrilação atrial pode ter complicações sérias, como a formação de coágulos dentro do coração.
“Esses coágulos podem se desprender e se deslocar para o cérebro, causando um AVC”, afirma Amorim.
Existem ainda as arritmias na parte inferior do coração, conhecidas como ventriculares, e mais graves.
O tratamento vai depender do tipo específico e da gravidade da doença. Na maioria dos casos, é feito um acompanhamento clínico e uso de medicamentos antiarrítmicos.
Também pode incluir procedimentos de ablação para destruir focos anormais de impulsos elétricos no coração, e a implantação de dispositivos como o cardiodesfibrilador implantável (CDI) para prevenir morte súbita em pacientes com arritmias importantes.