O amistoso entre Brasil e Senegal, às 9h (de Brasília) desta quinta-feira, em Singapura, terá em campo um atleta indicado entre os dez melhores do mundo na eleição realizada pela Fifa. Ele estará vestido com a camisa da equipe africana e pisará no gramado com o carimbo da aprovação de Lionel Messi.

Sadio Mané, 27, recebeu do craque argentino o voto de melhor jogador no prêmio The Best, entregue no mês passado. Messi, que acabou levando o troféu pela sexta vez, não podia votar em si mesmo nem prestigiar o ex-colega Neymar -pelo segundo ano consecutivo, o brasileiro ficou fora da lista prévia de dez nomes que poderiam ser escolhidos pelos técnicos e capitães de cada seleção.

O senegalês, quinto colocado na votação, foi apontado como melhor do mundo também por Hazard, da Bélgica. Já Neuer, da Alemanha, Lewandowski, da Polônia, e Godín, do Uruguai, colocaram o atacante do Liverpool em segundo lugar. Van Dijk, da Holanda, e Guerrero, do Peru, classificaram-no como terceiro melhor.

O prestígio dá uma amostra do respeito conquistado por Mané, campeão europeu na última temporada. Ele marcou 27 gols em 56 partidas, boa média para um atacante que geralmente atua na ponta esquerda. Só no exigente Campeonato Inglês, foram 22 bolas na rede em 36 jogos, números que fizeram crescer seu moral com o técnico do Liverpool, Jürgen Klopp.

“Tratado como um filho” pelo chefe, como descreve o próprio senegalês, o jogador está vivendo um sonho no qual seus pais não acreditavam. Aos 16 anos, como detalhou em entrevista recente à revista France Football, ele precisou fugir de casa, escondendo a mala em um matagal antes de partir de Sédhiou, sua cidade-natal, para fazer testes na capital Dakar.

“De manhã, eu escovei os dentes e nem tomei banho. Saí sem falar para ninguém, a não ser meu melhor amigo”, disse Mané, recordando dificuldades como aparecer na peneira com um par de chuteiras remendadas -motivo de uma chacota logo neutralizada com um talento que saltava aos olhos.


Os próximos a se impressionar foram os olheiros do futebol da França, tradicional porta de entrada da Europa para jogadores africanos. A essa altura, a resistência dos pais já tinha diminuído, mas o atacante, então com 18 anos, só ligou para a mãe quando já estava instalado no Metz: “Estou na França”.

Mané passou ainda pelo Red Bull Salzburg, da Áustria, antes de chegar à Inglaterra no modesto Southampton, em 2015. Um ano e meio na equipe foi suficiente para lhe tornar um atleta concorrido, e a concorrência foi vencida pelo Liverpool, que, em 2016, pagou 34 milhões de libras (R$ 156 milhões, na cotação da época) por seu futebol, então o maior valor desembolsado por um jogador da África.

Diferentemente do que ocorreu com o compatriota El-Hadji Diouf, lembrado pelos torcedores do Liverpool pela retumbante decepção no clube, ele não desapontou em vermelho. Mas seu sucesso é de alguma forma ligado a Diouf, que encantou na Copa do Mundo de 2002 antes de duas temporadas e meia de fraco desempenho na equipe inglesa e uma carreira em times menores.

O que fez Senegal naquele Mundial, com direito a vitória sobre a defensora do título França na abertura, inspirou o jovem Mané, então com dez anos, a colocar o futebol profissional como um objetivo. Até hoje, ele cita Diouf como uma referência, colocando o brasileiro Ronaldinho lado a lado com o ídolo.

O Gaúcho não é a única conexão com o Brasil do senegalês, que construiu boas amizades no Liverpool com o companheiro Roberto Firmino e o agora ex-companheiro Philippe Coutinho. No estádio Nacional de Singapura, nesta quinta, ele vai encontrar os amigos vestindo uma camisa à qual dá ainda maior importância do que à vermelha.

Mané chegou a declarar que trocaria o título da Liga dos Campeões pelo da Copa Africana de Nações, mas teve que se contentar com o vice-campeonato, há três meses, perdendo a final para a Argélia. Aos 27 anos, ele ainda tem tempo para buscar essa e outras metas, com o ímpeto que o fez esconder a mala no mato em 2008.

Jogador de velocidade, que gosta de cair da ponta esquerda para o meio para marcar seus gols, ele tem semelhanças com o adversário da mesma posição que terá pela frente em Singapura, no jogo que terá transmissão da TV Globo e do SporTV. Há diferenças, no entanto, que vão além da presença ou da ausência na lista de melhores do mundo da Fifa.

“Há todo esse dinheiro, a cobertura midiática… Não quero saber disso, falando sério. Não me preocupo com isso. Claro que faço parte desse ambiente, mas sou um pouco desconfiado. Mantenho distância, evito as redes sociais e volto à minha aldeia com a maior frequência possível para manter os pés no chão. Não gosto de ser visto. Sou uma pessoa discreta que queria ser um jogador de futebol, não uma estrela.”

BRASIL

Ederson; Daniel Alves, Marquinhos, Thiago Silva, Alex Sandro; Casemiro, Arthur e Coutinho; Neymar, Roberto Firmino e Gabriel Jesus. T.: Tite

SENEGAL

Gomis; Gassana, Koulibaly, Sane e Wague; N’Diaye, Gueye e Kouyate; Sarr, Mane e Balde. T.: Aliou Cissé

Local: Estádio Nacional de Singapura

Horário: 9h (de Brasília) desta quinta

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