O jogo da ressurreição. É desta maneira que o Re-Pa do domingo (23), pela 9ª rodada da Série C do Brasileiro, está sendo encarado pelo elenco do Paysandu. E nem poderia ser diferente, afinal de contas, na opinião de todos na Curuzu, a sequência de jogos sem vitória do time na temporada já está excedendo o limite. São oito partidas sem dar alegria à Fiel, que já está “por aqui” com a equipe. Seis desses jogos são pelo Brasileiro, no qual o Papão é o 5º colocado do Grupo B – caiu uma posição após a vitória do Ypiranga sobre o Juventude ontem.
“A gente reconhece que está faltando muito ainda, mas vamos em busca de fazer nossa parte”, admite o meia Leandro Lima. “Sabemos da importância que tem um clássico como esse, contra o Remo, e vamos tentar esse resultado, que é dos mais importantes para o nosso momento”, argumenta. O fato de o Papão chegar ao Re-Pa acumulando tantos jogos sem vencer não é, na visão do volante, nenhum entrave. Pelo contrário. “Da última vez que jogamos o clássico a gente vinha de partidas que não foram muito boas”, salienta.
A opinião de que o Re-Pa é de vital importância para a recuperação da autoestima do time é generalizada entre os bicolores. “O clássico pode ser um divisor de água pra gente”, acredita o atacante Vinícius Leite. “Pode ser uma partida diferente pra gente”, projeta o jogador. “Sabemos que podemos dar a volta por cima e que essa recuperação venha nesse clássico, que é um jogo que querendo ou não mexe com toda uma cidade, todo um estado, então nada melhor do que conseguir a reabilitação agora”, diz Leite.
Seguindo a mesma linha de pensamento, o, também, volante Anderson Uchôa admite que o crédito do time com a sua torcida chegou ao limite e que não dá sequer para pensar em um novo resultado adverso, ainda mais frente ao maior rival. “Precisamos vencer porque empatar e perder, francamente, não dá mais”, afirma. “A reabilitação tem de vir agora, pois no segundo turno (da Série C), a gente sabe, as coisas são bem mais difíceis”, alerta Uchôa.
A importância de um triunfo do time no Re-Pa para o futuro do time no Brasileiro começou a ser chamada a atenção pelo auxiliar técnico Marcelo Rocha, após o empate, em casa, diante do Luverdense-MT, partida em que ele fez as vezes de treinador, substituindo interinamente Hélio dos Anjos. “Não tem nada melhor do que sair de uma fase negativa vencendo um clássico” disse Rocha, opinião que acabou sendo encampada por todos os jogadores da equipe.
Time arregaça as mangas no feriado
Hélio dos Anjos botou sua equipe para trabalhar visando o Re-Pa. Jorge Luiz-PSC
Se em véspera de jogo de menor importância, normalmente, os jogadores de futebol não sabem o que é feriado, em dias que dias que antecedem a um grande clássico, como o Re-Pa do domingo (23), aí é que não sobra mesmo tempo para o ócio. Que o digam o elenco do Paysandu, que, ontem, dia de Corpus Christi, após a folga da manhã, arregaçou as mangas e meteu a mão na massa, treinando sob o comando do técnico Hélio dos Anjos para encarar o maior rival em jogo no qual tentará, mais uma vez, acabar com o jejum de vitórias, que vem incomodando a todo mundo na Curuzu, da diretoria ao torcedor mais humilde.
Hélio tenta aproveitar o tempo que dispõe da melhor maneira possível na preparação de sua equipe, sem, no entanto, evitando sobrecarregar o grupo que comanda com carga de trabalho excessiva. Daí a folga no período matinal, após o elenco ter trabalhado, desde a segunda-feira, pelo menos uma vez no dia. Apesar da sequência de atividade, o treinador ainda segue, pelo que se imagina, com algumas interrogações na cabeça, sobretudo no que diz respeito à defesa.
Mas, além de buscar o substituto ideal ou pelo menos perto disso, para o lateral-direito Tony, suspenso, o treinador que deve improvisar os volantes Willyam ou Caíque Oliveira ou ainda atacante Elielton no setor, também poderá mexer no meio de campo e ataque. Para este último compartimento existe a disputa à parte entre Diego Rosa, Paulo Rangel e Pimentinha. Um deles poderá aparecer na escalação do time ao lado de Vinícius Leite e Nicolas, que, tudo indica, parecem “imexíveis” no grupo.
E mais…
Apesar do pouco tempo de convivência entre os paraenses, o volante paulista Caíque Oliveira, de 28 anos, parece já ter assimilado bem o significado do Re-Pa para o torcedor local. Com a experiência de ter atuado durante os 90 minutos dos dois últimos clássicos, ambos pelo Parazão, o jogador admite que a cobrança vinda dos torcedores, seja no estádio, na hora do jogo, ou mesmo no dia a dia é bastante grande, conforme reconhece o atleta. “Posso garantir que sensação, a concentração, a preparação é a mesma para um clássico, independente que seja no Paraense, no Brasileiro, no baralho, na dama”, discursa.
De acordo com o meio-campista a atmosfera do Re-Pa já vem sendo sentida entre os bicolores desde o domingo. “A gente tem de ter o entendimento de que um clássico é um jogo à parte, é um jogo diferente. A atmosfera muda. A gente já começou a semana respirando esse jogo”, afirmou Caíque. Em seguida, o jogador destacou a necessidade de uma vitória do Papão, que não vence há oito partidas. “Temos de buscar essa vitória não só por ser um clássico, mas pela nossa melhora no campeonato”, argumentou o jogador, que poderá voltar a ser improvisado na lateral-direita, substituindo Tony, o dono da posição que está suspenso pelo terceiro cartão amarelo.
Apoio: Portões abertos para ter a Fiel bem ao seu lado
Às vésperas de mais um Re-Pa e precisando, mais do que nunca, ter a Fiel ao seu lado, o Paysandu tenta trazer o torcedor do clube para junto de si. E para que isso aconteça, o primeiro passo vai ser dado amanhã, quando o elenco bicolor encerra seus preparativos para o clássico. Os portões da Curuzu voltarão a ser abertos ao público, que, costumeiramente, não pode ter acesso ao local, seja em dias de treino ou não.
A atividade do elenco começa às 9h15, com o técnico Hélio dos Anjos devendo orientar uma movimentação, sem muito compromisso dos atletas, o chamado recreativo que costuma anteceder aos jogos do time. Diferente das vezes anteriores, quando a direção do clube lançou mão da mesma estratégia, o torcedor, desta vez, não precisará fazer a doação de alimento perecível. A diretoria deve ter avaliado que seria um exagero cobrar alguma coisa do torcedor, quando quem está em dívida é a equipe.
Ontem, em contraste ao que acontecerá amanhã, a movimentação ocorreu de portões fechados ao torcedor. Até mesmo a imprensa teve sua presença no local por tempo limitada. O zagueiro Micael comentou o fato de o grupo ter trabalhado sem o acompanhamento do público e dos repórteres. “O treino fechado faz parte, ainda mais antecedendo a realização de um clássico”, argumentou o defensor. O jogador admitiu, em poucas palavras, que a cobrança do torcedor pela reabilitação do time é justa. “O torcedor está no direito dele”, resumiu.
(Nildo Lima/Diário do Pará)