A crise financeira e o desemprego assolam a vida de muitos trabalhadores, e dos jogadores de futebol não é diferente. Usado para entreter, o esporte também tem sido ingrato com os seus profissionais, tanto técnicos, assessores, jogadores, entre outras ações. Neste contexto, as discussões variam entre um calendário que atrapalha e que ajuda os atletas, que precisam se manter ativos durante pelo menos 11 meses ao ano.
Vejamos: o ano inicia com a maioria dos campeonatos estaduais. Após eles, no Pará, além de Paysandu e Remo, alguns clubes ainda disputam competições regionais e nacionais. Porém, os que estão fora dessas disputas tem seu calendário encerrado. Ou seja, cerca de 70% dos clubes param.
Uma das alternativas que poderiam ajudar nisto seria a Copa Verde, que perdeu força com a mudança de premiação (antes, vaga na Sulamericana, agora apenas vaga nas Oitavas da Copa do Brasil) e com o fim da TV Esporte Interativo. Para piorar, quem não consegue se manter nos clubes ou conseguir um novo emprego, precisa esperar o início das segundas divisões dos estaduais, que em geral ocorrem no fim do ano. Uma grande e complexa situação, não é mesmo?
“A gente tem um problema no calendário principalmente no início dos anos. Os clubes grandes reclamam muito dos campeonatos estaduais, ao mesmo tempo são nessas competições que você consegue ter o maior número de pessoas empregadas, porque os clubes dos interiores funcionam. Isso é no Brasil todo. Quando eles acabam fica o desemprego, porque fica uma camada gigantesca de pessoas fora dos times. Belém, tem centenas de profissionais, quando o Parazão acaba, fica do Remo e Paysandu, as vezes alguém do interior. O grande ponto para mim é a discussão em relação ao calendário”, avaliou Júlio Cezar Patrício, empresário.
PROBLEMAS ALCANÇAM DUPLA RE-PA
Goleiro Paulo Rafael com a camisa do São Francisco, em 2016. (Foto: Reprodução)
No Clube do Remo, que contratou 20 atletas, totalizando um plantel de 31 para o Estadual. Desses apenas 11 permaneceram para a Copa Verde e Campeonato Brasileiro da Série C. Para as disputas regional e nacional mais 12 atletas chegaram, e alguns foram embora. No Papão foram contratados 18 atletas para o Estadual, somando 32 no elenco. Desses, 8 foram embora e mais 13 foram contratados, porém, dois já foram embora.
“A questão do campeonato, na minha opinião, é uma das que mais impacta. Um atleta da Série D, se desemprega em julho praticamente. O estadual emprega muitos jogadores, no segundo semestre o número reduz pra menos da metade”, avaliou Sinomar Naves Jr, auxiliar técnico.
Volante Ricardo Capanema acertou com a Tuna Luso (Foto: Luís Carlos/Tuna)
Ricardo Capanema, 32 anos, está há quase duas temporadas sem atuar. O jogador que passou seis anos no Paysandu, disputando várias competições regionais e nacionais, retornou a Tuna para disputar a Segundinha de 2019. Martony, que atuou no Remo, segue sem clube. O meia Rodrigo, da base remista, que atuou até no Corinthians, segue sem clube. Paulo Rafael, que tem história no Paysandu, também segue sem clube. O lateral-esquerdo Edinaldo, ex-Remo, e o zagueiro Hallyson, também seguem sem time.
“As segundas divisões dos campeonatos estaduais salva muito atleta, mas tem outra questão, eles jogam por salários muito baixos ou sem receber, eles pensam que a disputa pode ser uma vitrine, mas as vezes nem é isso que ocorre. Essa é a realidade da maioria dos jogadores de futebol”, acrescentou Sinomar Naves Júnior.
O JEITO É IR PARA LONGE DAQUI?
Em paralelo a isso, o empresariado viu fora do Brasil uma opção para empregar seus atletas. É possível ver dezenas de paraenses atuando fora do Brasil, principalmente na Europa. Essa estratégia está sendo muito usada hoje. “Muitos empresários, empresas grandes, que possuem atletas top de linha e uns 20 medianos, trabalham nesse formato. Eles enviam muitos jogadores para a Europa, existem muitos casos”, destacou Júlio Cezar.
De fato o mercado da bola sofre com o desemprego e os calendários curtos para alguns clubes e longos para outros. A discursão é muito mais ampla e deve ser realizada entre os profissionais, federações e Confederação Brasileira de Futebol.
“O mercado sentiu toda a questão econômica do pais, e sofre junto. Tem muita gente desempregada. A contratação hoje está muito ligada aos números, para um atleta assinar com um clube, o empregador fica ligado em jogos com atuação, lesões, entre outras coisas. Esse fator emprega e desemprega”, finalizou o empresário.
ATLETA DISPONÍVEL NO MERCADO DA BOLA
Rogério Miranda, 33 anos, conhecido como Rogerinho, é um dos atletas disponíveis no mercado. Jogador de ponta, soma inúmeros títulos e passagens por grandes clubes nacionais e mundiais.
Revelado pelo Remo, o meia passou por Figueirense, Paysandu, Fortaleza, Ceará, ABC, Náutico, também já atuou na China, Japão e Emirados Árabes Unidos.
Sem jogar desde 2017, quando vestia a camisa do Resende, no Campeonato Carioca, Rogerinho trava uma batalha com a balança e trabalho de contras a lesões que já sofreu. Com duas cirurgias no joelho, o paraense ainda garante que tem muito gás para jogar. Atualmente, o meia cuida da parte física e realiza trabalhos específicos que previnem lesões e fortalecem a sua musculatura.
“Nunca passei tanto tempo desempregado como me encontro hoje, mas todo jogador deve saber que uma hora isso acontece. No futebol, os espaços vão se encurtando. Eu não me considero um cara velho. Tem jogadores em alto rendimento com uma idade até maior que a minha em atuação. Eu ainda tenho muito gás”, disse.
O caso de Rogerinho não é isolado, acima já citamos alguns nomes. Nilmar, Carlos Alberto, Richarlyson, Diego Cavalieri, são alguns dos atletas que não estão empregados atualmente.
“Estou longe do mercado, mas sempre estive incluído nesse cenário, mas o futebol é como qualquer empresa, e está difícil se empregar. Vários jogadores estão nessa mesmo situação. A minha questão é mais física, eu tenho encontrado muito dificuldade para voltar. Mas a ideia é voltar ano que vem”, contou Rogerinho.
(DOL)