Em uma noite memorável, no último domingo (10), o futebol brasileiro testemunhou um evento que transcendeu o esporte. Cuca, o recém-contratado treinador do Athletico Paranaense, fez sua estreia com uma vitória esmagadora de 6 a 0 sobre o Londrina. No entanto, foi o que aconteceu após o jogo que realmente chamou a atenção do país.

Após a partida, Cuca surpreendeu a todos ao abordar um tema que muitos em sua posição evitam: a violência de gênero. Em uma coletiva de imprensa, ele leu um depoimento histórico que abordava o caso de estupro de uma adolescente na Suíça, ocorrido nos anos 1980, pelo qual ele foi condenado à época, mas que recentemente teve a sentença anulada.

CONTEÚDO RELACIONADO

Contratação de Cuca gera polêmica na torcida do Athletico-PR
À sombra de acusação, Cuca é contratado pelo Athletico-PR
Cuca foi inocentado? Saiba detalhes do caso na Suíça, em 87

Visivelmente nervoso, Cuca admitiu que não estava preparado para falar livremente sobre um tema tão sério, optando por ler o depoimento para evitar mal-entendidos.

Quer saber mais notícias sobre o futebol brasileiro? Acesse nosso canal no WhatsApp.


UMA MUDANÇA DE ATITUDE

Cuca, que vinha sendo criticado por se esquivar do assunto, mostrou uma mudança de atitude que foi elogiada por vários colunistas esportivos. Ele reconheceu que, embora estivesse ciente dos problemas, inclusive os recorrentes no universo do futebol e dos homens, havia se calado porque a sociedade permite que um homem se cale.

“Entendi que isso não é sobre mim. Escolhi me recolher durante muito tempo e mesmo assim pude seguir minha vida. Uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir com a vida dela sem permanecer machucada. O impacto dura pra sempre”, afirmou Cuca. “Eu enxergava sim os problemas, inclusive recorrentes aqui no nosso universo do futebol e dos homens. Mas me calei porque a sociedade permite que um homem se cale. Aliás, permitia!!”, ressaltou.

No entanto, ele afirmou: “Agora eu entendo, mesmo sem ainda conseguir me aprofundar para falar do jeito que seria certo, eu entendo que não posso mais me recolher, ficar calado, porque silêncio soa como covardia. Venho buscando ouvir mais, aprender, compreender. Não posso mudar o passado”, admitiu.

UM CHAMADO À AÇÃO

Cuca desafiou seus colegas a olhar para o passado e rever suas atitudes. Ele ressaltou que o mundo é um lugar muito diferente para homens e mulheres e que, quando percebemos isso, algo começa a mudar.

“O mundo é um lugar muito diferente para homens e mulheres e quando a gente enxerga isso a gente pode até resistir, mas alguma coisa começa a mudar. E esse é o primeiro passo. Depois o sentimento é de real desejo de mudança. Só que as mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras”, reconheceu.

Cuca terminou dizendo que agora vai se manifestar através de ações e aproveitou para fazer um desafio aos colegas do futebol e demais homens de maneira geral. “Quantos de nós, homens, que agora me escutam, são capazes de olhar para o passado e rever atitudes?”, questionou.

MILLY LACOMBE: “VEM CUCA. VEM BATALHAR COM A GENTE.”

Milly Lacombe, colunista do UOL, observou que a luta feminista é cheia de altos e baixos, mas a noite de 10 de março de 2024 foi uma noite de renovação de esperança. Ela destacou a importância de ter aliados na luta pela igualdade de gênero e elogiou Cuca por dar um passo à frente.

“Cuca terminou dizendo que agora vai se manifestar através de ações e que podemos cobrar. Cobraremos, sem dúvida. Mas antes disso seria importante reconhecermos que precisamos de aliados e que Cuca chegaria para somar. Não vamos mudar o mundo sozinhas e notar as pessoas se transformando é evento tão bonito quanto potente”, ponderou Milly, concluindo: “Vem, Cuca. Vem batalhar com a gente.”

CASAGRANDE E KFOURI ELOGIAM ATITUDE CORAJOSA 

Casagrande, comentarista e colunista do UOL, também classificou o último domingo como um dia histórico para o futebol devido ao pronunciamento de Cuca. Ele ressaltou a importância de Cuca entender sua relevância dentro do cenário masculino nocivo para as mulheres no futebol.

Casagrande pediu desculpas a Cuca e expressou surpresa por não acreditar que o treinador chegaria a se posicionar sobre o tema da violência contra a mulher no futebol. Ele considerou a atitude de Cuca como um “tapa na cara” daqueles que tentam minimizar ou ignorar casos de violência.

Juca Kfouri observou que, ao final da coletiva, Cuca fez um pronunciamento que demonstrava compreensão da indignação que vem sendo manifestada. Kfouri destacou a atitude humilde e correta do treinador, encerrando o episódio com a conclusão de que todos precisam se educar, e Cuca demonstrou ter entendido essa necessidade.

VEJA MAIS:

Read More

DEIXE UMA RESPOSTA

Digite seu comentário!
Digite seu nome aqui