1º de maio de 2014. Último jogo oficial do Remo no Baenão. Mais de três anos depois, o estádio segue fechado e até comparado a um cemitério, recentemente, foi, algo que dói, fere o orgulho de qualquer torcedor. Desde então, três presidentes já passaram pelo clube e nenhum conseguiu tornar o alçapão azulino apto para receber partidas. Deve ser muito complexo para uma diretoria de futebol profissional buscar parcerias ou patrocínios, e bolar ações de marketing eficientes para, num prazo razoável de um ano, digamos, empreender uma boa reforma. Deve tratar-se mesmo de um projeto que apenas “leigos” sejam capazes de elaborar e executar. Só isso explica a inoperância, a passividade das gestões azulinas diante de problemas como esse, que cercam o clube, e que somente apresentam avanço quando torcedores comuns tomam à frente. Concordam? Eu, não. Há uma explicação lógica e desprovida de ironia: falta de vontade política dos dirigentes e, principalmente, a ausência de responsabilização pelos seus atos no comando da gestão.

Ao mesmo tempo em que a entrega de um dos lados da arquibancada do Baenão, marcada para o domingo, pelo pessoal do projeto “Retorno do Rei…”, é motivo de comemoração, isso escancara o descaso, a preguiça e a incompetência de quem gere, de fato, o clube. Seria engraçado se não fosse trágico, mas sabe aquela resposta infantil às críticas: “Tá reclamando, vai lá e faz melhor!”? Pois é, eles cansaram de esperar, foram lá e estão fazendo. Não há nada no projeto que seja de outro mundo. É apenas o básico, que dê para o estádio voltar a ser utilizado em 2018. Mas tudo feito com transparência e credibilidade. Aí, amigos, o jogo vira e todo mundo quer ajudar. Agora, botem aí uma assinatura de Manoel Ribeiro, André Cavalcante, Pedro Minowa, Zeca Pirão e outros chancelando o projeto… Iria “miar” na hora. Sem credibilidade não se alcança nada nessa vida.


Tem sido assim desde quando Pirão destruiu o estádio, prometendo camarotes. Quem acreditou, perdeu uma boa grana. Da mesma forma quem comprou as lajotas de Cavalcante. As que foram instaladas, formaram um painel dantesco, de puro mau gosto. E certamente sairão dali cedo ou tarde, tiradas por outra reforma ou por estarem caindo aos pedaços. Contudo, o problema não é de quem ajudou, que só queria levantar o seu clube do coração. É das atitudes dos gestores, que, no desespero para conseguir dinheiro para administrar, metem os pés pelas mãos, numa sequência de decisões absurdas e projetos sem pé nem cabeça, sempre respaldados pelo fato de que sabem que não serão responsabilizados civilmente Tópico este que, inclusive, poderia constar na pauta de discussões do simpósio da Assoremo, marcado para hoje, sobre o estatuto do clube. Medidas urgentes devem ser tomadas, que passam por uma atualização desse estatuto. Se já estiver previsto, ótimo. Caso contrário, reflitam.

Quando vemos ações como as da torcida azulina é que nos damos conta do quanto as administrações do clube têm sido ruins. Nem revitalizar uma fachada passa pela cabeça deles. E o pessoal da torcida organizada, de quem reclamo constantemente pelo histórico de violência nos estádios, e que foi responsável pela pintura da trajetória dos escudos utilizados pelo Remo, desta vez, está de parabéns. Trabalho bonito, simples e executado independentemente dos inúmeros protestos para a saída de Ribeiro do cargo. Mostraram que o que importa a eles – “Retorno do Rei” incluído – é o Remo, não o ego. Pirão, por exemplo, até prometeu concluir o que começou, desde que voltasse a ser presidente. Ridículo. E os demais se esquivam do problema, apenas jogando a culpa para o outro e não resolvendo nada. Pelo contrário, a despeito de investir tudo o que entra no futebol, no time, só tornam a situação ainda mais delicada, com novas dívidas e, o que é pior, sem os resultados prometidos – obviamente.

Pena que o exemplo da torcida, que presta conta de seu trabalho e divide tarefas, de forma bem organizada, não é seguido. A baderna se perpetua internamente, com grupos numa briga mesquinha por um poder ilusório. Ninguém ajuda ninguém e todo mundo quer ser o pai de uma criança que nunca nasce. Assim, enquanto a torcida vai reconstruindo o Baenão por conta própria, o clube segue parado, com os conselheiros, que deveriam ser os guardiões dos interesses do Remo, dando mais tempo para o presidente apresentar recibos que deveriam ter sido entregues ainda em abril, atrasando o planejamento para a próxima temporada e deixando a todos que estão de fora com um sentimento de incredulidade ao perceberem que mais vale a amizade com o Marechal do que o futuro do clube. John Milton, personagem demoníaco de Al Pacino, aprovaria. “Vaidade: definitivamente, o meu pecado favorito”. Bem apropriado, não?

(Carlos Eduardo Vilaça)

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