Bastaram os primeiros três meses da temporada para que o atacante Cassiano, prestes a completar 29 anos, caísse no gosto da torcida do Paysandu, fazendo com que Bergson, ex-ídolo da Fiel e que trocou o clube paraense pelo Atlético-PR, no final de 2017, já não seja tão lembrado pelos bicolores. O prestígio do camisa 39 do Papão, no entanto, não está acontecendo por um acaso. Assim como seu antecessor, que, por coincidência, também nasceu no Rio Grande do Sul, Cassiano, de 1m84, tem se notabilizado pelo apurado faro de gol que tem exibido desde que marcou um deles na goleada, por 4 a 2, sobre o Castanhal, pelo Estadual.

 Do jogo do dia 21 de janeiro pra cá, Cassiano, que já é apelidado pelos torcedores de Cassigol e Cassiano Ronaldo, em alusão, exagerada, ao craque do Real Madrid, da Espanha, só tem aumentado sua marca de goleador. Já são 13 tentos em 19 partidas, o que lhe dá um aproveitamento de 0,68% – sem considerar o jogo da última sexta, contra o Londrina.

A marca é superior a que foi cravada por Bergson que, no mesmo número de jogos, fez 9 tentos, com 0,59% de aproveitamento. De todas as competições disputadas pelo Paysandu, o artilheiro só não balançou a rede na Copa do Brasil, torneio em que o Papão, em jogo único, foi eliminado, por ironia do destino, justamente pelo time gaúcho do Novo Hamburgo-RS, na casa do adversário.

Foram cinco gols no Estadual, mais sete na Copa Verde, na qual Cassiano é o principal artilheiro, e um na estreia bicolor na Série B do Brasileiro e que assegurou a vitória, fora de Belém, por 1 a 0, sobre a Ponte Preta-SP. E tudo isso, com o “matador” afirmando que não está preocupado em ser o goleador do time.

“Desde que cheguei aqui, sempre disse que o meu foco não é ser o artilheiro de campeonato, mas sim ajudar o Paysandu a alcançar os seus objetivos”, afirma o jogador, que assegura, também. “Fazer gol é bom, mas não adianta nada eu fazer gol e a equipe perder e não atingir o seu objetivo”, argumenta.

COMPARAÇÃO


O atacante garante não estar preocupado com a comparação que sofre com Bergson. “Todos os atacantes quando chegaram já foram logo recebendo essa pressão da imprensa, que falava muito do Bergson”, recorda. “Mas estou muito tranquilo quanto a isso”, afirma. Cassiano não descartar a possibilidade de se igualar e, quem sabe, até ultrapassar o ex-ídolo da fiel, que anotou um total de 28 gols em 48 jogos. “Ainda temos mais 37 rodadas do Brasileiro (a entrevista aconteceu antes do jogo de sexta-feira, contra o Londrina-PR) e mais os dois jogos da Copa Verde, então vamos ver se dá pra chegar”, disse.

Primeiro contato com o Lobo foi como adversário 

Antes mesmo de vestir o manto alviceleste, Cassiano já pôde sentir a responsabilidade que representa jogar pelo Paysandu e o peso que a torcida do clube tem. No ano passado, atuando pelo Brasil-RS, seu ex-clube, o atacante teve a oportunidade de enfrentar o Papão, na Curuzu, quando marcou dois dos três na vitória do time gaúcho por 3 a 2. Naquele jogo, Bergson inaugurou o placar em favor do time bicolor. Aquela foi a estreia do “matador” atuando contra o seu atual clube. “Já conhecia o Paysandu pela história que o clube tem, mas nunca havia jogado contra aqui. Foi a minha primeira vez”, recorda. E a torcida?

“A torcida compareceu para ajudar o Paysandu. Ali deu pra ver que havia uma potência muito forte de torcedores”, lembra. Os dois gols que marcou para o Xavante foram como uma espécie de presságio para o atacante, que havia balançado a rede nos jogos contra o ABC-RN e Boa-MG, mas passado em branco diante do Criciúma-SC, partida que antecedeu a estreia do atacante em Belém.

“Foi uma coincidência. Na época, logo após os gols, comentei com os meninos (companheiros de clube) que esse estádio tinha me dado sorte”, conta. O atacante garante ter chegado a se questionar se um dia viria para o Paysandu, como um presságio. “Fiquei pensando, será que no ano que vem vou acabar vindo pra cá? E não é que, por um acaso, eu acabei vindo mesmo para o Paysandu e graças a Deus as coisas estão dando certo”, festeja o jogador, que diz ainda sentir o clima de Belém.

Cassiano revela que teve uma intuição no ano passado, quando enfrentou o Papão, sobre ser atleta bicolor este ano. Foi profético (Foto: Jorge Luiz/Paysandu)

Prefere jogar sem o peso da camisa 9 

O torcedor do Paysandu já está bem familiarizado em ver Cassiano em campo carregando nas costas o número 39. O jogador conta que resolveu abrir mão da camisa 9, tradicionalmente destinada aos goleadores, justamente para evitar maiores cobranças por parte da torcida do Paysandu.

“Tinham outros números para pegar. Até a 9 estava disponível, só que eu não quis pegar. Se eu pegasse a 9, a pressão, com toda a certeza, seria muito maior por parte da torcida”, compara. “Haveria mais cobrança para que eu fizesse gol”, ratifica Cassiano.

O atacante acredita que não tem o perfil de um autêntico camisa 9. “Como eu não jogo como um 9 mesmo, preferi não pegar essa camisa. Como tinha a 39 eu disse pode ser ela mesma. Graças a deus está dando sorte”, ressalta.

O mais importante para o jogador, independentemente do número que tem nas costas, é mesmo fazer gol, seja com ou sem estilo, como o que marcou contra a Ponte Preta. “Foi um gol de bico, que é mais difícil para o goleiro porque a bola vai mais rápida. O goleiro teve a reação de chegar a tempo na bola”, detalha o atacante, cria do Internacional-RS, grande rival do Grêmio-RS, de onde saiu Bergson, que também não usava a camisa 9, mas sim a de número 30.

CURIOSIDADES

CABELO ESTILOSO

A cabeleira que Cassiano exibe dentro e fora de campo já se tornou uma marca, digamos, registrada do atleta. Segundo o atacante, o cabelo é uma exigência da mulher dele. “Ela não me deixa cortar nunca”, revela. O goleador até tem vontade de ficar careca, mas aí acaba atendendo ao apelo ou exigência da mulher. “Ela é quem quer que fique todo tempo assim”, diz aos risos.

FASE RUIM

Com um total de 13 clubes no currículo, Cassiano tem experiência internacional. Uma delas de recordações nada positivas. Foi em 2012, quando se transferiu para o Nea Salamis, do Chipre. “Foi uma passagem muito rápida por lá. Fiquei só três meses. O clube não estava pagando os salários. Quando estava para começar o campeonato, depois de dois meses de pré-temporada, eu já não tinha mais dinheiro”, revela.

‘O FUTEBOL OU EU!’

Em outra oportunidade, a ida para o Gwangju, da Coreia do Sul. “Na época a minha mulher estava grávida e teve de ficar”, recorda Cassiano. A transferência do atleta para o futebol coreano acabou gerando, por pouco tempo, ruídos no relacionamento do casal. “A gente teve uma pequena discussão, porque eu optei pela minha profissão por mais que eu tivesse que ficar longe dela”, diz. “Hoje ela entende que eu preciso jogar bem onde esteja”, diz

(Nildo Lima/Diário do Pará)

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