Em um cenário ideal, o profissional do futebol concentra-se unicamente em chegar a sua melhor forma física, técnica e tática para driblar as adversidades nos gramados e ajudar a equipe, firmando seu nome. Durante o isolamento social, em virtude da pandemia do novo coronavírus, a preocupação dos jogadores profissionais passou a se voltar também para outras coisas, como o aspecto financeiro.
Milhares de funcionários do mundo da bola perderam o emprego durante esses três meses de paralisação nas atividades oficiais, o que inclui os protagonistas, os jogadores, sejam das grandes, intermediárias ou pequenas equipes país afora. Com os contratos suspensos ou rescindidos, os atletas viabilizam alternativas para obter renda, já que o pagamento por parte dos clubes se tornou algo incerto.
Quem tomou este caminho de buscar novos horizontes foi o lateral-direito Alisson Zizao, de 21 anos, que disputou o Campeonato Paraense 2020 pelo Carajás, da Ilha de Outeiro, e que já está rebaixado em caso de retorno da competição.
Para manter as finanças em dia, o atleta tem encarado dupla jornada tão intensa quanto às de treinos e jogos: durante o dia ajuda o irmão na entrega de açaí em Ananindeua, e pelo turno da noite no delivery de lanches.
De acordo com Alisson, que mora com os pais, o irmão, irmã e a esposa, a troca dos materiais esportivos pelos de entrega rápida se faz necessária neste momento. “Para nós que somos dependentes do futebol e, dependendo do time, ainda mais aqui no Pará, é mais difícil. Estamos desde março sem receber algo do time e, por isso, temos que nos virar como podemos. A melhor forma de se manter foi com meu irmão, que tem uma venda de açaí e entrego com ele. A noite é em um lanche, no conjunto Jardim Sevilha”, explicou o ala.
SEM AUXÍLIO
Zizao faz parte da safra de trabalhadores que não foi contemplada com os R$ 600 de auxílio emergencial do Governo Federal. O atleta, que preferiu não detalhar o assunto, comentou que não obteve aprovação do benefício. A ausência da verba faz falta. “Se caísse, iria ajudar muito. Eu moro com os meus pais, mas sou muito dependente de ter as minhas coisas, e esse é o jeito que tem pra se manter”, enfatizou.
Sem salário e auxílio, como se manter?
Enquanto alguns jogadores correm atrás para minimizar os impactos da pandemia, outros profissionais sentem o peso da interrupção da principal função apertar, dia após dia. O lateral-direito Daelson Moura, de 27 anos, um dos destaques do Independente de Tucuruí no Parazão 2020, detalhou que tem sobrevivido durante todo esse tempo de paralisação do futebol local com o pagamento do seu último salário, referente ao mês de março deste ano, portanto em atraso e sem previsão de regularização.
Natural de Mãe do Rio, mas residente na capital paraense há 13 anos, o ala ainda vive incerteza dobrada: a que gira na volta do Estadual e outra com sua continuidade no Galo Elétrico, já que teve o contrato encerrado no mês passado. Pelo fato da equipe tucuruiense ser uma das quatro do Estado (ao lado de Remo, Paysandu e Bragantino) a possuir calendário além do Paraense, na Série D do Nacional, Daelson comentou que tem feito a sua parte para não ficar parado.
“Em maio, agora, acabou o meu contrato com o Independente, então não sei como vai ficar. Mas vamos ver o que Deus tem reservado pra gente. Nesses últimos dias a gente voltou a treinar. Deu uma afrouxada nesse isolamento e estamos treinando para continuar preparados”, comentou. Sem outra renda, o jogador, que mora somente com a esposa, relatou sobre as dificuldades nesse período. Confira a seguir!
Como você tem feito para se manter financeiramente com a ausência do futebol?
Estou vivendo, sobrevivendo na verdade, com o salário de março. Graças a Deus estamos cumprindo com as nossas contas, mas a gente não sabe como vai ficar a partir de agora. Já são três meses sem receber, então está ficando difícil.
Você conseguiu o benefício do Auxílio Emergencial ou outro tipo de ajuda durante esse tempo?
A respeito do Auxílio Emergencial, nem eu e nem a minha esposa recebemos. A única ajuda que nós tivemos foi do goleiro Vinícius, do Clube do Remo, que nos ajudou com uma cesta básica abençoada.
Sem receita até o momento, você visualiza outra maneira de renda já que a tendência é que as coisas só apertem?
Outra maneira, irmão, só Deus sabe e que não deixa faltar. Mas quando chegar o final do mês, as coisas ficarão difíceis. Se não voltar o futebol, vai ficar um pouco mais difícil, porque está acabando o dinheiro. E sem a parte financeira fica tudo difícil.
(Diário do Pará)


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