Proibida desde a temporada 2008, a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios brasileiros, aos poucos, vai sendo liberada, e Belém pode estar a um passo de ter o consumo permitido dentro das arenas esportivas, já que está previsto para esta próxima semana a votação do veto do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, ao Projeto de Lei de autoria da vereadora Marinor Brito (PSOL) e do ex-vereador Pio Neto (PTB), aprovado pela Câmara Municipal de Belém, em novembro de 2015, para liberar essa comercialização.
Em vigor desde 2003, o Estatuto do Torcedor veta o porte de “bebidas ou substâncias proibidas” nos estádios. Em 2008, o ex-presidente da Confederaçao Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, realizou um protocolo de intenções, juntamente com o Conselho Nacional de Procuradores Gerais, proibindo o comércio de bebidas em competições oficiais, mas a resolução determina que a legislação estadual ou municipal sobre o tema deva ser respeitada, abrindo uma brecha para que se libere a venda.
Enquanto isso não acontece, os torcedores consomem as bebidas ao redor dos estádios, mas há uma preocupação que permeia quem frequenta os jogos de futebol: a associação da violência com a bebida alcoólica.
De acordo com o sociólogo e autor do livro “A Violência e o Futebol: Novas Pesquisas, Novas Ideias, Novas Propostas”, Maurício Murad, todas as pesquisas médicas, das associações de medicina no Brasil e na América Latina, afirmam que o etanol, da composição química do álcool, reduz a censura e autocrítica, facilitando muitas vezes comportamentos exagerados, agressivos e até violentos, que ultrapassam limites. “A violência no futebol (e não do futebol) é um fenômeno psicossocial amplo, multifatorial, com várias causas associadas. Não se pode dizer que o álcool é causa única, mas que é mais uma das causas, isto é, o álcool ajuda, potencializa a agressividade das pessoas e até mesmo atitudes de confrontos, conflitos e violência. Em determinadas pessoas e em determinadas condições, o efeito do álcool é imprevisível, extremamente danoso. É um problemão de saúde pública e de segurança pública”, pondera o sociólogo.
O sociólogo Maurício Murad afirma que o álcool não é a causa única da violência nos estádios, mas é um dos responsáveis. (Foto: divulgação)
A violência gerada por encarnações após resultados de jogos pode ser verbal e até mesmo física. São inúmeros os casos, o que faz, muitas das vezes, o próprio torcedor deixar de ir ao estádio com a família, mesmo não sendo comprovado cientificamente que essa violência tem a associação direta com o álcool. A preocupação com as agressões, que podem ou não ser geradas pelo álcool, faz até mesmo alguns torcedores passarem a ter medo de sair de casa em dias de clássico.
“O que as pesquisas são unânimes em concluir é que a violência no futebol brasileiro é uma das maiores do mundo, desde 2009, e que a maioria das pessoas pacíficas, torcedores de verdade, especialmente as famílias, que deixaram de ir aos estádios, disseram que a causa principal desse afastamento do público é a violência, entre outros fatores, é claro, mas a violência é o principal”, ressalta Maurício, lembrando também que mesmo não sendo uma tarefa fácil, é preciso que haja um plano estratégico nacional, permanente, sustentável e renovável para que esse cenário de violência por causa do futebol mude.
“Que parta de Brasília, que dê conta de nossa diversidade geográfica, cultural e social e que reúna três grandes conjuntos de medidas interligadas: medidas de curto prazo, de caráter repressivo/punitivo, medidas de médio prazo de caráter preventivo e medidas de longo prazo, de caráter reeducativo”, sugere o sociólogo.
(K.L. Carvalho/Diário do Pará)