Distante dos holofotes da grande mídia, que prioriza o que acontece nos principais centros do país, o futebol do Pará tem sido pródigo na ressurreição de jogadores que, após passagens por Remo e Paysandu, conquistaram espaço em equipes da elite nacional. O caso do atacante Bergson, de 26 anos, que, recentemente, trocou o Papão pelo Atlético-PR, é apenas mais um que entra para a história. Bem antes do artilheiro da Série B do Brasileiro deste ano, com 16 gols, outros jogadores seguiram o mesmo roteiro, alguns deles chegando até mesmo a atingir a condição de grandes ídolos nos novos clubes.

Já nos anos de 1970, o lateral-direito Nelinho teve breve passagem pelo Remo, vindo do Bonsucesso-RJ. Mesmo com tão pouco tempo de Baenão, ele foi contratado, em 1973, pelo Cruzeiro-MG e acabou explodindo no futebol, chegando à conquista da Taça Libertadores de 1976 e a titularidade da seleção brasileira no Mundial de 1978, na Argentina. Ainda na mesma década, só que em 1975, o lateral Edmilson e o atacante Jorge Luis, o Bailarino, foram cedidos, por empréstimo, pelo Botafogo-RJ ao Paysandu. Pouco tempo depois, ambos retornaram ao time da estrela solitária como titulares.

A mesma situação se deu com o ponteiro Júlio César vindo do Flamengo-RJ para o Remo, em 1977, a pedido do técnico Joubert Meira, que o havia treinado na base do rubro-negro carioca. Após dois anos de Baenão, o Uri Geller, como ficou conhecido, retornou à Gávea, onde até então não tinha vez, para ajudar na conquista de títulos importantes da história do clube. Caso sui generis é o de Luiz Müller, que após o início no São Paulo e rodar por outros clubes, veio para o Remo já em fim de carreira. Mas, devido ao sucesso com a camisa do Leão, ele acabou sendo contratado pelo Santos-SP.

Em 2005, o atacante Rafael Moura chegou à Curuzu como um jogador que havia sido devolvido pelo Vitória-BA ao Atlético-MG, seu clube de origem. Após alguns jogos no banco de reservas, Moura ganhou a titularidade, marcando 7 gols na Série A, último ano que o Papão disputou a elite nacional. A partir daí, o atacante, que se transformou em “He-Man”, passou a vestir a camisa de clubes de ponta do futebol brasileiro, entre eles Corinthians-SP, Fluminense-RJ, Internacional-RS e do próprio Atlético, em todos com muitos gols e o a fama de ídolo do torcedor.

FORÇA E APOIO DA TORCIDA FORAM FUNDAMENTAIS


Depois de 19 anos de sua brilhante passagem pelo Baenão, em 2014, o ex-atacante Luiz Müller, que foi artilheiro do Parazão de 1995, com 11 gols, vestindo a camisa do Clube do Remo, retornou ao antigo clube, mas na função de auxiliar do técnico Roberto Fernandes. O goleador, contou, na época, que o gol que marcou na decisão do Estadual, contra o maior rival, o Paysandu, jamais saiu da cabeça dele. “Foi o gol que nos garantiu o título daquele ano. Uma coisa inesquecível. Cada vez que lembro daquela decisão é como se o jogo estivesse acontecendo hoje”, afirmou. O ex-atacante ressaltou a importância do torcedor azulino para que ele, já em final de carreira, conseguisse se destacar no futebol local com a camisa do Leão. “A torcida do Remo faz com que qualquer profissional se motive e busque dar o melhor”, disse. “Existe uma troca de energia muito grande por parte desse torcedor”, emendou. Müller admitiu, na época, que o Leão tem um grande significado em sua carreira. “Depois do que consegui apresentar no Remo, acabei voltando a ter a confiança de grandes clubes, jogando pelo Santos-SP, Portuguesa-SP e Sport Recife-PE. Realmente foi uma passagem bastante gratificante essa que tive jogando pelo Remo”, comentou o ex-jogador, que segue trabalhando no futebol.

DO REBAIXAMENTO À LIBERTADORES

Quando deixou o São Paulo, o ex-volante Luis Carlos Goiano parecia estar se despedindo do futebol dos grandes centros. Puro engano. No Baenão, Goiano, nascido na cidade de Santa Bárbara de Goiás, daí o apelido, se destacou como um dos poucos jogadores do Leão a se salvar na campanha que culminou com o rebaixamento do time azulino à Série B de 1995. Jogando numa equipe que acabou caindo de divisão no Brasileiro, tudo indicava que ao deixar o time remista, o meio-campista fosse parar em um clube do mesmo nível ou inferior. Mas a sorte soprou a favor do meio-campista.

Voltante teve nova oportunidade no Grêmio, mesmo com a queda de divisão azulina. (Foto: reprodução)

Ao deixar o Leão, Goiano se transferiu simplesmente para o poderoso Grêmio-RS e lá construiu, talvez, a melhor parte da história dele no futebol. Só o tempo que ele passou no Tricolor dos Pampas já diz tudo. Foram cinco temporadas (1995 a 1999), tempo em que ele ganhou o respeito e a consideração dos exigentes torcedores do clube do Sul. Pelo Grêmio, Goiano conquistou títulos importantes para o clube e, também, para o seu próprio currículo. Logo na chegada, em 95, foi campeão da Taça Libertadores. Em seguida vieram as conquistas da Recopa Sul-Americana e Copa Sul, a última conquista do atleta no clube. Isso sem levar em conta os dois títulos do Gauchão.

Após a saída do Grêmio, o jogador ainda defendeu o Atlético-PR, em 2000, e a partir daí passou a perambular por equipes de menor porte, entre elas o Etti Jundiaí-SP, América-MG e Mirassol, entre outras. O final da carreira ocorreu em 2013, quando ele defendia o Grêmio Novorizontino-SP. Apesar das grandes conquistas da carreira, Goiano, que foi Bola de Prata, em 1996, nunca esqueceu a sua passagem pelo Baenão e sempre afirmou em entrevistas que foi no Baenão que sua carreira voltou ao cenário nacional.

À BEIRA DO GRAMADO

O futebol paraense não tem sido generoso apenas com jogadores que fazem dos clubes locais, principalmente Remo e Paysandu, verdadeiros trampolins para chegarem ou retornarem a grande times do futebol nacional. Pelo menos dois técnicos com passagem pelo por aqui acabaram chegando a clubes da elite do nosso futebol: Paulo Bonamigo e Alex Stival, o Cuca, como é popularmente conhecido. O primeiro, vindo do Sampaio Corrêa, do Maranhão, passou pelo comando do Leão, em 2000, passando, depois pelo Atlético-MG, Botafogo-RJ e Palmeiras-SP.

Assim como Cuca, Bonamigo também galgou o futebol internacional, trabalhando nos Emirados Árabes Unido por sete anos e na Arábia Saudita, no qual completará no ano que vem a sua segunda temporada. Por sua vez, Cuca atuou no futebol da China, dirigindo nos anos de 2013 e 2014 a equipe do Shandong Luneng. No plano nacional, Cuca comandou, entre outros times, o Flamengo-RJ, Botafogo-RJ, Grêmio-RS, Santos-SP, Atlético-PR e Palmeiras-SP, seu último clube.

(Nildo Lima/Diário do Pará)

 

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