Aos 2 minutos da reestreia do Botafogo no Campeonato Carioca, os atletas alvinegros ajoelharam-se por alguns instantes para protestar contra o racismo. A Cabofriense respeitou o gesto e também parou, embora sem aderir ao protesto. Foi a segunda manifestação botafoguense no jogo realizado na manhã de ontem, no estádio Nilton Santos.
Ao entrar em campo, os jogadores carregavam a faixa com os dizeres “Protocolo bom é o que respeita”, uma alusão direta ao documento “Jogo Seguro”, utilizado pela Federação do Rio para apressar o recomeço da competição.
Botafogo e Fluminense se posicionaram formalmente contra a volta do torneio em meio ao pico da pandemia, ainda em abril, nas primeiras reuniões convocadas pela federação. Por pressão de Flamengo e Vasco, a entidade autorizou a volta antes do período inicialmente previsto e a bola rolou no dia 18 de junho, com a partida entre Flamengo e Bangu, no Maracanã, 15 dias depois do pico da pandemia no Estado.
A manifestação alvinegra, importante pelo simbolismo, reafirma o posicionamento público contra o retorno dos jogos. Além dos jogadores, o técnico Paulo Autuori recusou-se a ficar à beira do gramado. Ele foi suspenso pelo TJD após criticar “o jogo de cartas marcadas” da Ferj. O Botafogo recorreu e garantiu sua participação, mas ele fez questão de cumprir a punição, como forma de mostrar insatisfação.
Na sexta-feira, atestando que Flu e Bota têm razão em questionar a sanidade dos dirigentes da federação e da Prefeitura do Rio, foi sacramentado um estrupício pior ainda: foi decretada a autorização para que o campeonato tenha um terço de público nos estádios a partir de 10 de julho. Como se o Brasil e o Rio estivessem livres da pandemia.
Caso a ordem de Crivella seja cumprida, o Maracanã (capacidade de 78.838) passará a receber 26 mil pagantes; o estádio Nilton Santos (46.831) poderá ter público de 15.600 pessoas; e S. Januário (21.880) pode ter 7.250 torcedores.
O cenário é o pior possível no Estado, que já alcançou a trágica marca de 10 mil óbitos, o que torna ainda mais escabrosa a medida determinada pelo prefeito Marcelo Crivella, em perfeita sintonia com a vontade de Jair Bolsonaro e dos dirigentes de Flamengo e Vasco.
Vale lembrar que, na Europa, os principais campeonatos foram reiniciados somente 60 dias após o pico da covid por lá. Nenhum deles, porém, sequer admite a ideia de jogos com torcida presente. Nem a Liga dos Campeões, que ainda não recomeçou, terá plateia.
O completo desapreço pela segurança das pessoas e o desamor pela vida são marcas cruéis de certas autoridades que infelicitam o país. Antes, desconfiávamos que houvesse gente assim; agora, temos certeza.
Bruno Veiga abre temporada de embates judiciais para o PSC
Bruno Veiga passou um chuvisco no PSC. Acabou premiado com uma renovação de contrato por três anos apenas – que nem grandes craques conseguem no cenário atual – pela lembrança de três bons jogos durante a campanha do acesso à Série B em 2014. Agora, findos os vínculos com o clube, apelou à Justiça do Trabalho e ganhou R$ 500 mil a título de indenização por direitos não honrados pelo Papão.
O caso é passível de recurso e o PSC vai brigar na Justiça, mas a situação é emblemática dos muitos problemas decorrentes de contratos mal amarrados entre clubes e atletas. Situações mal definidas e pouco claras quanto a compromissos e deveres de parte a parte.
Ronaldo Passarinho, que foi diretor jurídico do Remo durante vários anos, sempre pregou a necessidade da presença dos advogados do clube no momento da assinatura de contratos, e não apenas quando a situação descamba para litígios na Justiça e se torna quase irreversível.
Para o Papão, a situação é mais preocupante porque existem outras ações em curso, como a de R$ 114 mil para o lateral Cáceres, que passou pelo clube há três anos. Outras pendências envolvem o zagueiro Diego Ivo, o lateral Bruno Oliveira, o meia Leandro Lima e os volantes Nando Carandina e Renato Augusto (R$ 328 mil).
Mais problemático, ainda, é o litígio com Marcelo Costa, que cobra R$ 1,5 milhão, por uma questão de saúde. Alega que o clube teria negligenciado no tratamento da hemodiálise. A audiência inicial ainda não ocorreu.
Terrível desperdício do sagrado direito ao silêncio
Renê Simões saiu da habitual retórica de autoajuda nas redes sociais para meter o bedelho na discussão sobre a volta do futebol e soltou a seguinte pérola: “Vamos discutir o futebol como fator social para ajudar as pessoas que estão em casa enlouquecendo. Eu tenho amigos aqui que já se separaram, outros já bateram na mulher, outros batem nos filhos, estão enlouquecendo. Então se colocar futebol, pode ser que ajude em alguma coisa”.
Além do conceito enviesado sobre relações humanas, vendo o futebol como um escapismo para a insanidade, Renê dá a entender que foi conivente com agressores. Se é verdade que sabia de atos de violência em família, o único caminho era denunciar aos órgãos competentes.
Sobre a destrambelhada afirmação, o melhor comentário veio da professora Márcia Tiburi: “Violência dos homens tratada como uma lacuna de futebol esconde a lacuna de ética, de respeito e de dignidade dos agressores e dos sujeitos coniventes”.
Pode-se dizer que o problema maior aqui não é exatamente a quarentena, mas os tais amigos de Renê Simões.