Dizem que para a formação de toda boa equipe de futebol é necessária, antes, a contratação e escalação de um excelente goleiro. Nas últimas três temporadas, talvez, a única posição em que a diretoria de futebol do Clube do Remo acertou na montagem do elenco foi na meta, ao trazer o arqueiro Vinícius no final de 2017 e mantido o mesmo até hoje pelo Baenão, apesar das sondagens de outras agremiações.

Melhor atleta do Leão de forma disparada, nesta temporada a presença do camisa 1 tem sido ainda mais importante, já que o restante dos companheiros destoa da sua capacidade. Não à toa, o goleiro tem escutado a pronúncia da palavra “São” antes do seu nome, um reconhecimento raro por parte da torcida azulina, relativo aos profissionais com passagens recentes pelo clube.E a gratidão tem seu fundamento. Se o Remo ostenta a liderança do seu grupo de forma isolada no Campeonato Paraense, 90% desse rendimento, no mínimo, precisam ser atribuídos ao atleta, pois as apresentações desastrosas em campo têm feito o arqueiro se sobressair nas partidas e realizar verdadeiros milagres.

Para efeito de análise, das sete partidas realizadas pela equipe no Estadual 2019, se não fossem os reflexos do goleiro, o Remo teria vencido uma só partida, justamente contra o São Raimundo, a primeira do ano, empatado mais uma e perdido as cinco restantes. Dessa maneira, dividiria a lanterna do grupo com o São Francisco, com quatro pontos.

Para o goleiro, vestir e honrar a camisa do Remo é sem igual na sua carreira. “Nunca escondi o que sinto por esse clube, que me abriu as portas. Fico feliz pelo reconhecimento e posso dizer que não vai faltar mais dedicação nos treinamentos para que eu possa sempre estar fazendo o meu papel de forma a ajudar o meu time a conquistar os objetivos”, disse. “Não estamos apresentando um futebol de qualidade como queríamos, mas a gente acredita no potencial do grupo e sabe que pode mudar isso”, destacou.

RAIO X

Possíveis resultados do Remo sem os milagres de Vinícius no Estadual

l Resultado original: Remo 1 x 0 Tapajósl Resultado justo: Remo 1 x 2 Tapajósl Na partida, Vinícius defendeu chegada cirúrgica de Renato um minuto antes de Geovane achar o gol. Na etapa final, evitou o gol em testada à queima-roupa de Mariano.


l Resultado original: São Raimundo 0 x 2 Remol Resultado justo: São Raimundo 0 x 2 Remol Dos jogos do Leão até aqui, a partida pelo primeiro turno diante do Pantera foi a única em que os azulinos não sofreram sufoco.

l Resultado original: Independente 0 x 4 Remol Resultado justo: Independente 4 x 4 Remol Na partida, o Remo contou com a expulsão de Welington Cabeça para meter a goleada no segundo tempo. Mas, na primeira etapa, Caça-Rato, Raygol, Fazendinha e Tiago Mandi tiveram chances que, se não fosse Vinícius, certamente teriam sido convertidas em gol.

l Resultado original: Remo 0 x 3 Paysandul Resultado justo: Remo 0 x 5 Paysandul No 1° Re-Pa do ano, os azulinos deram sorte de não terem sofrido uma pisa maior do rival. Com um a menos desde o começo do primeiro tempo, Vinícius impediu um cabeceio forte de Caíque e, no segundo, também em nova testada do jogador bicolor.

l Resultado original: Paragominas 1 x 1 Remol Resultado justo: Paragominas 4 x 1 Remol Michel testou Vinícius logo aos 16 do primeiro tempo, forçando-o a espalmar a tentativa. Depois, mais dois lances com Jackie Chan, no primeiro e segundo tempo, foram evitados pelo goleiro.

l Resultado original: Remo 3 x 0 São Raimundol Resultado justo: Remo 3 x 5 São Raimundol O placar mais ilusório até aqui a favor dos azulinos. A defesa azulina foi bombardeada. Cajano, Guilherme, Irlan, e Eric, diante de outro arqueiro, certamente teriam passeado, já que todos viram suas chegadas perigosas defendidas por Vinícius.

l Resultado original: Tapajós 0 x 0 Remol Resultado justo: Tapajós 3 x 1 Remo.l O Remo merecia um gol no começo com Mário Sergio. Mas, pela mesma análise, sofreria três, dois com Silvio e um com Daivison. O Boto ainda poderia deixar o quarto se não fosse o travessão.

Lugar garantido no panteão azulino?

ÍDOLOS IMORTAIS

Na história da agremiação, o Remo conta com alguns ídolos imortalizados por seus feitos embaixo das traves. Adriano Paredão, por exemplo, chegou a marcar um gol de falta em pleno Baenão. Dico, que viveu um dos momentos áureos do Leão, com inúmeras participações na elite nacional, é outro. Também teve enorme destaque o surinamês François Thijm, que, por 15 anos atuando com a camisa azul-marinho, virou xodó do Baenão. Entre os que nasceram no estado, o clube também tem suas referências, como Ivair, da capital, e Edson Cimento, o eterno “Bola de Prata”, de Capanema.

Para esses craques, a torcida está coberta de razão em aplaudir Vinícius. No entanto, o goleiro ainda precisa de alguns detalhes para se juntar aos próprios na primeira prateleira dos ídolos azulinos. “Eu vivi um momento diferente com o Remo, onde fui melhor goleiro do Brasil. Era disputa com times difíceis e não apenas regionais. É um baita goleiro, baita homem e merece o reconhecimento, mas eu, o Dico, fizemos algo a mais”, disse Edson Cimento, que com a camisa azulina, em 1977, foi eleito o melhor da função no país.

Já Ivair, o Nego Gato do Baenão, apontou outro fator que poderia consolidar o legado do atual camisa 1. “Ele está se credenciando para ser um ídolo. É um cara que tem mostrado serviço. Mas ele precisa de um título de expressão ou uma passagem longa. No meu tempo, ficamos 10 anos, como o falecido François, o Dico, Bracalli. Ele está no caminho, mas é difícil colocar no mesmo local”, destacou.De acordo com Dico, o futebol é momento. “Para mim, o Vinicius não é apenas o maior destaque do Remo, mas como do futebol paraense. E na minha época não era assim. Para você chegar ao status de ídolo tinha que concorrer contra Nelinho, Dutra. Acredito que ele se sairia bem na minha época e que tem um espaço conquistado com louvor no Remo”, destacou.

DIZ AÍ, TORCEDOR!

– “É ídolo, sim. O que ele defendeu ano passado na Série C e está nos ajudando não pode ser esquecido. Criou uma identidade muito forte e tem jogado com raça, representando o que é ser remista”, disse Armando Corrêa, 22 anos, acadêmico de pedagogia.

– “O Vinícius é um cara que é ídolo dentro e fora de campo. Ninguém escuta história dele, e isso é muito bom. Para mim, um exemplo como jogador e profissional”, Reydson Gomes, 27 anos, autônomo.

– “Sim. Ele representa o que a torcida mais espera: amor ao clube, profissionalismo e seriedade”, Patrick Barata, 23 anos, comunicólogo.

– “Pelas apresentações, quem falar que não é, não reconhece o valor dele para a equipe. O único jogador de destaque que o Remo contratou nos últimos anos”, Maeven Souza, 29, esteticista.

– “O melhor jogador do Remo, incontestável. Sorte seria se o Remo tivesse dois Vinícius. Craque do time e ídolo, sim”, Jonatan Palheta, 32, corretor de imóveis.

(Matheus Miranda/Diário do Pará)

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