Os analistas modernosos já não chamam os atacantes de beirada pelo nome de antigamente. No Remo, alguns brilharam pelos lados do campo. Neves, Rodrigues, Leônidas, Peri, Landu, Roni. Todos ponteiros clássicos, que corriam pelas laterais e iam à linha de fundo cruzar ou cortar para o interior da área.
Hélio Borges é da novíssima geração. Já não desempenha as mesmas funções de seus antecessores. Tem outras obrigações. Ao invés de obrigatoriamente ir ao fundo, precisa ter um perfeito entrosamento com o lateral (Ricardo Luz).
Tem que saber participar das jogadas de aproximação, aparecendo no chamado ponto futuro, como defendia Claudio Coutinho. No Re-Pa do turno da Série C, seus deslocamentos confundiram a marcação e ele apareceu livre dentro da área para receber o passe perfeito de Luz.
Marcou o primeiro gol do jogo em jogada elogiada por todos, até porque começou com um detalhe singular: Hélio foi quem carregou inicialmente a bola pelo lado direito, tocou para Luz e correu para a área sabendo que a bola lhe seria devolvida em condições de finalização, como de fato aconteceu.
Aos 20 anos, Hélio teve passagem pelo sub-20 do Palmeiras há dois anos, depois de se destacar na base azulina. Ganhou traquejo e competitividade, mas os fundamentos foram adquiridos no próprio Evandro Almeida. Alguns ainda precisam ser lapidados – finalização e cabeceio, principalmente.
Apesar disso, o ponta-direita é hoje a mais destacada peça tática do técnico Paulo Bonamigo. Com Hélio jogando com Ricardo Luz, o Remo ganhou um lado direito fortíssimo, que não tinha no começo da competição.
Bonamigo percebeu a possibilidade, avaliou o potencial do jovem atacante e incutiu nele noções de posicionamento para saber atuar com e sem a bola. No último jogo, diante do Manaus, Hélio deixou o gramado extenuado após funcionar novamente como o recordista em movimentação do time.
Desdobrou-se para puxar as jogadas pela direita e ainda cobrir os avanços de Luz, quando este passava da linha de meio-campo. Com essa dupla pelo lado – que o técnico tenta também efetivar pela esquerda, com Marlon e Wallace – o Remo ganhou um acentuado poder de fogo no ataque.
Foi de Hélio o passe para Salatiel abrir o placar na Arena da Amazônia e o atacante participou ainda de várias outras manobras pelo lado direito. Há tempos o Remo não tinha um plano de jogo pela direita, que funciona tanto para agredir quanto para se resguardar.
Um dos segredos do novo Remo, que se reergueu no campeonato, é o fato de contar com um atacante taticamente tão participativo quanto Hélio.
Goleiro vence desafios e ganha prestígio
Outro importante personagem da classificação do PSC, talvez só abaixo do técnico João Brigatti, é o goleiro Paulo Ricardo, de 24 anos, que assumiu a titularidade há nove partidas e não deu mais espaço para o antigo ocupante da posição, o experiente Gabriel Leite.
Paulo Ricardo foi formado na base do clube, mas teve poucas oportunidades no time profissional antes desta Série C. Estreou encarando uma prova de fogo: defender o time e a própria sobrevivência na profissão justo num Re-Pa.
Às vésperas do segundo clássico, justificadamente tem sido um dos mais procurados por toda a mídia. Afinal, assumiu a função de protagonista do sistema defensivo do time, responsável por dar regularidade e segurança depois dos maus passos iniciais do time na Série C.
O que mais chama atenção em Paulo Ricardo é a tranquilidade e a frieza debaixo da trave. Não mostra a natural indecisão em lances importantes, nem hesitações para sair e afastar uma bola. Faz o chamado feijão-com-arroz com extremo afinco.
Todo bom goleiro deve se pautar pelas réguas da simplicidade, evitando a tentação de florear uma defesa ou apelar para a extravagância inútil. Tem se saído bem porque não complica. Fecha bem o gol quando sai aos pés de um atacante e é muito forte nos lances que exigem elasticidade.
Surpreendentemente tranquilo diante de mais um duelo com o maior rival, Paulo Ricardo explicou em entrevista que perdeu o medo depois de ter sido testado em vários clássicos pelas divisões de base. Foi lá que aprendeu a entender a importância que o jogo tem.
A concentração nas ações específicas do goleiro passa a ser dividida com os cuidados para orientar os companheiros de última linha. Todo goleiro deve ter essa capacidade, fundamental para manter o setor protegido.
Fica mais fácil quando a voz do goleiro é ouvida e respeitada por todos. Paulo Ricardo, um dos mais jovens titulares do gol alviceleste nas últimas décadas, ganhou essa condição pela competência no que faz.
Os números não deixam dúvidas. Desde que se tornou titular, Paulo Ricardo sofreu apenas um gol na Série C – contra o Manaus, na 13ª rodada, no dia 31 de outubro. O Re-Pa de amanhã é o novo desafio colocado em seu caminho.
Os perigos do apoio que pode virar infortúnio
Dos times brasileiros que ainda permanecem na Libertadores, o Palmeiras é um dos mais credenciados para brigar pelo título. Tem elenco forte e um técnico que mostrou competência ao arrumar um time que Vanderlei Luxemburgo não conseguia escalar.
Voltou a pontificar como candidato ao título brasileiro e se classificou na Libertadores com extrema facilidade, fazendo jovens jogadores brilharem. Em meio a isso, eis que o veterano Felipe Melo resolveu fazer novas mesuras ao presidente da República.
Apareceu ontem ao lado do homem, a quem presenteou com uma camisa alviverde. Devia ter mais prudência. O Flamengo que o diga, o Vasco também. Isso sem enumerar os vários candidatos apoiados por ele nas recentes eleições municipais.