A papagaiada ganhou ares de mico internacional. Não há registro na era moderna de interrupção de um clássico entre duas seleções de primeira linha pela ação de fiscais da vigilância sanitária. Brasil e Argentina entraram em campo, domingo à tarde, mas o jogo foi paralisado quando Neymar, Messi e seus companheiros começavam a trocar passes.

O que veio depois só acrescentou mais bizarrice à situação. Iniciou-se um balé de explicações fajutas envolvendo CBF, Conmebol, AFA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e até a Polícia Federal.

Chamou atenção, obviamente, a razão da demora da Anvisa para enquadrar os quatro jogadores argentinos que burlaram o protocolo existente no Brasil para pessoas vindas de países como a Inglaterra, onde eles atuam. Como a delegação argentina chegou ao país na sexta-feira, 3, os agentes da Vigilância Sanitária tiveram tempo suficiente para agir.

O papel da Anvisa, como o nome diz, é o de manter vigilância sobre situações que envolvem a segurança sanitária da população, embora no Brasil da pandemia tenha feito vista grossa para os recorrentes atos de desrespeito e deboche do próprio presidente da República em relação aos cuidados básicos de prevenção contra a covid-19.

No afã de mostrar serviço, a Anvisa meteu os pés pelas mãos extrapolando seu papel. Invadir o campo para interromper uma partida internacional válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo foi um ato inusitado, que poderia ter sido facilmente evitado.


Caso chegasse ao estádio 30 minutos antes, a equipe da agência teria tido acesso aos jogadores da Argentina, que faziam tranquilamente o aquecimento no gramado de Itaquera. Só esse detalhe faz ruir todas as explicações sobre resistência dos argentinos em atender ao protocolo.

Há, ainda, o episódio mal explicado e que compromete diretamente a Anvisa. No sábado, 4, agentes do órgão estiveram no hotel para reunir com dirigentes e a chefia da delegação. Saíram de lá sem tomar qualquer atitude mais drástica, reforçando a versão argentina quanto a um arranjo que teria sido costurado para garantir a presença dos jogadores na partida.

Vale lembrar que, caso houvesse de fato interesse em fazer valer o protocolo, os quatro atletas não poderiam nem ter entrado no país. Precisariam ficar em quarentena, obrigatoriedade prevista para estrangeiros que tenham passado pelo Reino Unido, Irlanda e Índia.

A impressão final é de que a Anvisa concordou em “deixar passar” a irregularidade, mas resolveu agir somente na hora do jogo, talvez como forma de dar um exemplo público. Se procedeu assim, errou duplamente, pois negligenciou seu papel institucional e permitiu que outras pessoas ficassem expostas a risco grave de contaminação no hotel e no estádio.

Uma lambança de alto calibre que reforça a impressão de que o futebol brasileiro é gerido por dirigentes despreparados e que até a Agência de Vigilância Sanitária é sensível a impulsos de vaidade.

Papão consegue reforço; Japiim ganha problema

O meia William Fazendinha foi apresentado ontem como reforço do PSC para o restante da disputa da Série C do Campeonato Brasileiro. Uma aquisição providencial, pois o time sofre com o crônico problema de falta de organização e criatividade no meio-de-campo. Ao mesmo tempo, a transferência enfraquece o Castanhal em momento crucial da Série D.

Aos 28 anos, Fazendinha é um sobrevivente, como tantos jogadores talentosos que o futebol do Pará produz e nem sempre sabe aproveitar. Surgiu em clubes emergentes e vivia sua melhor temporada como titular do Castanhal.

Invicto ao longo dos 14 jogos da fase de classificação, o Castanhal deve muito de sua estrutura ofensiva ao trabalho desempenhado por Fazendinha. Pecel, Kanga e Leandro Cearense devem muito a ele como construtor de jogadas para os atacantes da equipe.

É incerto o aproveitamento imediato do armador pelo técnico Roberto Fonseca. Como é típico de técnicos forasteiros, ele não demonstra muita simpatia por valores nativos. Danrlei, o centroavante baionense, que o diga. Apesar do bom desempenho, entra sempre no final dos jogos. É suplente de atacantes que não mostram qualidade e nem fazem gols.

Fazendinha corre esse risco e o Castanhal também se arrisca a ter problemas justamente na etapa mais importante da Série D, quando enfrentará os jogos de mata-mata. A perda de Fazendinha foi mais lamentada porque a direção do clube foi escanteada da negociação entre o PSC e o jogador. As regras (não escritas) de boa vizinhança foram deixadas de lado.

Baixas atrapalham busca de estabilidade no Remo

O Remo se prepara para o quarto jogo no returno da Série B com responsabilidade redobrada. Precisa quebrar a sequência de três jogos sem vitórias diante de um adversário encrespado, que luta para se recuperar no campeonato. O Vitória, que ainda está no Z4, começa a esboçar uma reação e encara a partida de sexta-feira como decisão.

Para os azulinos, o jogo também é decisivo, afinal o time não venceu ainda no returno. A comparação é amarga. Nos três primeiros jogos do turno, foram quatro pontos conquistados, com empate diante do CRB e vitória sobre o Brasil. Nas rodadas iniciais do returno, apenas um ponto foi conquistado, no empate com o Brasil em Pelotas.

O tempo para recondicionar jogadores talvez seja o maior aliado de Felipe Conceição nesta semana. O time sofre com as seguidas ausências de titulares. Contra o Botafogo já retornaram à equipe o meia Mateus Oliveira e o lateral Tiago Ennes.

Para sexta-feira, é certo o retorno de Kevem e Renan Gorne. O problema é que o time não terá seu melhor atacante: Victor Andrade, suspenso. As baixas comprometem os planos de Felipe para conquistar a sonhada estabilidade na competição.

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