Tradicionalmente, Paysandu e Clube do Remo dividem entre si os títulos estaduais, com o Papão levando vantagem de uma conquista a mais. A Tuna Luso se consolidou no passado em ser a intrusa, mas essa história de glórias está bem no passado, restando a Cametá e Independente serem os penetras na festa da capital nesse novo século. Curiosamente, os clubes bicolor e azulino alternavam sempre uma década no comando. A segunda década do novo milênio está em seu último ano e de uma forma que deve mudar todo o mundo, o que deve ter consequências nos clubes paraenses, em especial nos grandes da capital.

Foi nessa alternância de títulos que nos anos 1960 o Paysandu teve seus anos mais dominantes, com Quarentinha fincando o nome no futebol paraense. Na década seguinte, o Remo teve seu maior esquadrão na centenária história, com Dico, Marinho, Dutra, Mesquita, Alcino entre outros. Nos anos 1980 a Tuna voltou a dar as caras, mas o Papão de Chico Spina e Cabinho se sobressaiu. Já os anos 1990 trouxe a década gloriosa ao Leão, com sete títulos e um tabu histórico de 33 jogos de invencibilidade sobre o rival. Os anos 2000 começaram com o time bicolor vencendo de braçada, com as maiores conquistas de um time paraense e aquele que é, para muitos, o maior time local em todos os tempos.

O Remo dos anos 1990 e o Paysandu dos anos 2000 são bem mais lembrados pela maioria dos torcedores em especial pela memória ainda ser muito fresca, mas esses times de fato tiveram feitos superlativos. Entre altos e baixos fora do estado, o Leão chegou às semifinais da Copa do Brasil e foi oitavo colocado na Série A. O Papão venceu a Copa dos Campeões e esteve na Libertadores, ao mesmo tempo em que sempre brigava para não cair da primeira divisão.

“O segredo da década de 90 era a qualidade do grupo. Vinha e saía jogador, mas o nível permanecia muito bom. O mais importante daqueles anos foi a manutenção da uma base. Não se mudava o elenco do ano para o outro”, lembra o ex-volante Agnaldo de Jesus, ídolo do Leão Azul. “Nós tínhamos uma base e contratamos os melhores jogadores que disputaram o Campeonato Paraense, como Lecheva, Sandro, Vanderson e Valentim, entre outros. Os melhores jogadores do Estado estavam na nossa equipe e fizemos um grande elenco”, completa o ex-meia Rogerinho, jogador com mais títulos com a camisa bicolor.

Paysandu e Remo apostam na reestruturação física para dias melhores do clube. O Papão recentemente reformou a Curuzu e construiu um hotel, tendo como principal objetivo agora o CT. O Remo buscar sanear suas dívidas e reformar o Baenão. Para os ex-jogadores, são iniciativas acertadas e que têm que ser aprofundadas.

PAYSANDU


“Acho que a melhoria na estrutura do clube, com condições melhores de trabalho é importantíssimo para que se consiga formar um plantel vencedor. Hoje temos uma expectativa muito boa com a construção do CT. Será um passo muito grande na vida do clube. Um local para treinamento facilita muito no planejamento de trabalho do dia a dia, além disso o clube vai evoluir muito com sua base”, Ronaldo, ex-goleiro do time bicolor.

“O Paysandu tá se reestruturando, reformou Curuzu, adquiriu ônibus, academia, hotel e agora busca a construção do CT. Acho que com o CT o Paysandu dará um passo gigante pra reviver grandes conquistas que é o sonho de todo bicolor”, Vandick Lima, ídolo e ex-presidente do clube.

REMO

“O clube tinha que melhorar. Não dava para ficar do mesmo jeito. Acredito que a diretoria esteja se empenhando ao máximo para passar pelas dificuldades que aparecem. Mas o crescimento passa pela base. A garotada é sempre uma segurança para qualquer clube”, Ivair, ex-goleiro.

“O Remo tem que se organizar para reeditar seus anos dourados. Se o clube continuar se organizando, pensar grande, vai melhorar. Pagar em dia é bom, mas é o básico, é pouco, tem que fazer mais”, Agnaldo de Jesus, ídolo.

Palavras de ordem: Profissionalismo e continuidade

O ex-goleiro Ivair chegou aos 20 anos no Remo e teve poucas chances. Entre idas e voltas do clube, quase sempre era reserva. Mas, no final da década de 90, em especial seu último ano, em 2000, ele virou um dos principais jogadores do Leão, sendo titular por três anos seguidos, tornando-se o Nêgo Gato do Baenão, apelido dado pelo radialista Paulo Caxiado, da Rádio Clube do Pará. Para ele, não só o futebol era diferente, mas os atletas também.

“Na época tínhamos jogadores que honravam a camisa e com muito profissionalismo. Havia uma amizade e um respeito entre todos. Nosso pensamento era só de ganhar, o clube dava uma boa estrutura dentro das possibilidades. Eu cheguei ao clube com 20 anos, vindo do Elo Marítimo, e fui feliz ao lado dos meus companheiros”, disse. “Uma das pessoas que mais admiro hoje no Remo é o goleiro. O Vinícius é um cara tranquilo, dedicado, não é à toa que é capitão, vencedor e ídolo da torcida”, completa Ivair.

Ex-jogador e ex-treinador azulino, Agnaldo virou ídolo da torcida pelo bom futebol e pela garra em campo. Pelo tempo que passou no Baenão, virou uma referência daqueles anos ao lado do zagueiro Belterra. O “Seu Boneco” sabe que eram outros anos.

“Prevalecia a amizade e o profissionalismo naqueles elencos, inclusive com quem vinha de fora, mas havia um compromisso e uma responsabilidade com o clube. Vinha e saía jogador, mas o nível permanecia muito bom. Vieram Biro Biro, Mauricinho, Cacaio, Alberto, Edson Boaro, todos jogadores de alto nível. Eles vinham e davam certo. Mas, o mais importante daqueles anos foi a manutenção de uma espinha dorsal que tinha Belterra, Marcelo Silva, eu, Dema, Tarciso, esses jogadores passaram praticamente a década inteira vestindo a camisa do Remo. Não se mudava o elenco do ano para o outro”.

VELHO GIVA: PARA OS ATLETAS, LIDERANÇA FOI ESSENCIAL NA CONQUISTA

Se na década de 1960 o Paysandu conseguiu espantosos sete títulos estaduais e virou marchinha/hino do time ao vencer o Peñarol (URU), o time dos anos 2000 vai entrar pela história de conquistas inéditas e por ter todos seus jogos históricos registrados em imagem, ao alcance de qualquer busca na internet. Foi o último time a ter uma identificação muito cara aos torcedores locais, ou seja, a ter um elenco recheado de valores locais. Ronaldo, Velber, Jóbson, Magnum, Vanderson, entre outros, brilharam no time. Curiosamente, alguns dos que vieram de fora acabaram por ficar na cidade, como Rogerinho, Vandick, Robgol, entre outros. O profissionalismo é algo muito salientado por jogadores que fizeram sua história naqueles anos. “Era um elenco que tinha uma amizade muita grande inclusive essa amizade dura até hoje, nos falamos todos os dias temos grupo de WhatsApp. Mas era um grupo que tinha um profissionalismo muito grande. Éramos muito comprometidos com o clube e tínhamos um comando muito forte que nos cobrava muito e fazia entendermos que era preciso esse comprometimento para nos tornamos vitoriosos”, afirma o goleiro Ronaldo.

Vandick Lima, que brilhou como centroavante e chegou a ser presidente do clube, lembra também da liderança fora do campo por parte do técnico Givanildo Oliveira. “Acho que as duas coisas foram importantes. O grupo era muito unido e muito profissional, mas tem mais um fator importante: o Giva fazia todos se sentirem importantes, sendo titular ou não, o tratamento era o mesmo”. A importância do técnico pernambucano é uma unanimidade por quem passou pelo clube no início dos anos 2000. A liderança dele é ressaltada por Rogerinho, que já era um dos mais experientes do grupo naquele momento. “A liderança do professor Givanildo foi fundamental para o nosso sucesso e claro que tinha jogadores de alto nível técnico, tático e físico”.

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