O futebol, paixão nacional que deveria unir torcedores em torno de uma celebração esportiva, tem enfrentado um lado sombrio que mancha sua essência. A rivalidade, que historicamente alimenta as emoções nos estádios, em alguns casos extrapola os limites do respeito e se transforma em atos de violência que chocam o país. A cada novo episódio, a urgência de medidas mais severas contra grupos que desviam o propósito das torcidas organizadas fica mais evidente.
Nesse sentido, a escalada de violência entre torcidas organizadas atingiu um novo patamar com o ataque ocorrido na madrugada de 27 de outubro, na Rodovia Fernão Dias, em Mairiporã (SP). Em resposta, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) deflagrou, nesta terça-feira (3), uma operação que mira integrantes da Mancha Alviverde, grupo organizado de torcedores do Palmeiras. A ação, que ainda está em andamento, já resultou na prisão de pelo menos dez suspeitos.
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Ao todo, 13 mandados de prisão temporária e 23 de busca e apreensão estão sendo cumpridos na capital paulista e nas cidades de Osasco, Carapicuíba, Santana de Parnaíba, Franco da Rocha e Bragança Paulista. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, os presos e os materiais apreendidos foram encaminhados para a sede do DHPP.
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A operação é uma continuidade de investigações anteriores. No mês passado, dois suspeitos foram detidos em ações similares que visavam cumprir mandados judiciais relacionados ao caso. A emboscada, que chocou o país, teve como alvo torcedores do Cruzeiro que retornavam de Curitiba para Belo Horizonte. O ataque deixou um morto e mais de dez feridos.
REPERCUSSÃO NACIONAL
O ataque provocou reações imediatas. O Ministério Público de Minas Gerais recomendou à Federação Mineira de Futebol (FMF) e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o banimento temporário da Mancha Alviverde em eventos esportivos. “O risco que essa torcida organizada representa vai além das fronteiras de Minas Gerais”, declarou o promotor Fernando Abreu, justificando a necessidade de uma medida em âmbito nacional.
Além disso, o Ministério Público paulista anunciou uma investigação mais ampla sobre torcidas organizadas que atuam como “facções criminosas”. Para o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, os acontecimentos na Rodovia Fernão Dias configuram “selvageria” e demandam ações rigorosas para evitar novos episódios.
VINGANÇA TERIA MOTIVADO ATAQUE
Na madrugada do incidente, torcedores da Mancha Alviverde, armados com pedaços de madeira, interceptaram dois ônibus que transportavam cruzeirenses. Durante a ação, um dos veículos foi incendiado e o outro teve vidros quebrados. As cenas de violência e destruição evidenciam o nível de hostilidade entre os grupos.
O caso é visto como uma retaliação dos palmeirenses por um ataque realizado por torcedores do Cruzeiro contra membros da Mancha Alviverde em 2022, também na Rodovia Fernão Dias. Na ocasião, Jorge Luís Sampaio Santos teve sua carteirinha de sócio, documentos e cartões de crédito tomados pelos rivais, foi agredido fisicamente e teve vídeos da violência divulgados nas redes sociais. O confronto terminou com quatro torcedores baleados.