Na última sexta-feira (25), a atual gestão do Clube do Remo completou sete meses desde a reformulação interna, ocasião em que o futebol da agremiação passou a ser administrado por um colegiado de diretores. Ao longo do período, o carro-chefe azulino teve mudanças significativas, sobretudo na organização financeira. Como reflexo imediato, a conquista do Parazão, título que os azulinos não faturavam desde 2015. Projetos ligados à expansão da marca remista, bem como na construção de novas parcerias, foram outros pontos positivos incorporados à instituição desde a iniciativa. No entanto, apesar das vantagens, o Leão também somou alguns insucessos, exclusivamente ligados ao desempenho dentro de campo. Eliminação precoce na Copa Verde; plantel enxuto e inconstância na Série C. Embora esteja mais voltado às atividades ligadas à sede social, à náutica e aos esportes olímpicos, o presidente Manoel Ribeiro diz estar ciente de tudo o que tem rodeado os bastidores do futebol, sendo um dos mentores nas decisões. Dessa maneira, o cartola fez uma avaliação da temporada do time, bem como de assuntos ligados às finanças, reformas do Baenão, conquistas de títulos, contratações e, claro, do acesso à Série B. Confira.
P – Desde que o senhor cedeu autonomia para os diretores tocarem o futebol, pouco se ouviu falar no seu nome. Afinal, qual a sua participação nas decisões do carro-chefe azulino?
R – O que acontece é o seguinte: eu sou o presidente do Remo. Então, eu acho que tem outras coisas a serem feitas, como na garagem náutica, aqui na sede, tanto que já fizemos algumas melhorias; e o futebol toma muito tempo, tanto que eu pedi para o Milton Campos assumir o futebol com todo o respaldo. Se quiser me consultar, estarei à disposição, como tento orientar com aquilo que aprendi nesses anos no clube. Mas nunca fiz uma separação entre o futebol do Remo e o Remo, porque o Remo não aceita isso, o estatuto não permite. A colocação como departamento autônomo é apenas para efeito de retórica, que na verdade é o departamento de futebol do Remo, no qual eu sou o comandante principal, e delego ao Milton e aos companheiros toda a liberdade.
P – Na sua avaliação, os dirigentes têm correspondido à altura do que o senhor planejou?
R – Não tenho dúvidas que sim. Por exemplo, uma das metas era ganhar o Campeonato Paraense e o grupo que está comandando o futebol ganhou. Evidentemente que eu estava presente também. A nossa meta é passar o Remo para a Série B. Acredito que dentro de alguns dias a gente vai botar o time que é necessário, porque não é fácil você contratar jogador quando a Série B esta aí. Ele não quer vir para a Série C. Mas estamos procurando. O Milton e o Mileozinho (Miléo Junior) estão atrás do que é melhor e tenho certeza que vão conseguir.
P – Por falar no Estadual, como o senhor avalia a queda de rendimento da equipe na Série C, uma vez que a base do time que faturou o título com sobras permaneceu? Sapato alto seria o motivo?
R – O que eu tenho conversado com o doutor Milton e com o Miléo, é o problema do preparo físico. Ou o Remo joga bem no primeiro tempo e joga mal no segundo, ou joga mal no primeiro e joga mal no segundo. Então, isso me parece que é uma questão de preparo físico. O pessoal tem que observar bem isso. Conversar com o treinador e com o preparador para que isso seja olhado com muito mais carinho, para que a gente dê ao Clube do Remo o preparo para fazer a mesma coisa nos dois tempos.
P – Para a maioria dos cronistas e de grande parte da torcida, a oscilação do time se deve à limitação técnica dos jogadores. O senhor acredita no potencial do grupo?
R – O que eu acho é o seguinte: o time do Remo precisa melhorar. E é isso que eu vejo na disposição dos diretores, justamente a vontade de trazer um time para uma situação direta, que jogue bem. Inclusive, o próprio treinador, o Givanildo (Oliveira), tem uma posição de como jogar, mas tem que saber também se o jogador que ele tem dá para encaixar no sistema que ele quer. No momento em que as duas coisas estiverem unidas, sistema e a adaptação dos jogadores, tenho certeza que o Remo vai ganhar muito. Confio no atual plantel do Clube do Remo, até porque deu o título do Paraense e vai brigar para passar o time para a Série B.
P – Um dos pontos adquiridos com a autonomia no futebol foi quanto ao financeiro do clube. Hoje, como estão as finanças do Remo? Houve uma evolução?
R – Se o futebol não tiver dinheiro, você não faz um futebol que preste. E não pode ser só abnegação. O clube precisa se alimentar de outras formas. Pela experiência que eu tenho no Remo desde 1955, a gente vê que são necessárias algumas coisas. A gente está caminhando bem, fazendo parcerias importantes, até porque não se pode viver só do futebol também. Os diretores conseguiram levar mais transparência, o que pode ser confirmado por qualquer um. Evidentemente que para sobrar dinheiro no caixa ainda é preciso algo, mas posso dizer que o Remo está caminhando bem.
P – Quanto a parcerias, o Clube fechou negócio na última terça-feira com uma rede de farmácias. De que forma o Remo vai ser beneficiado a curto e longo prazo?
R – Todas as parcerias que estamos fechando, nós pensamos no estádio Evandro Almeida (Baenão). Toda a recuperação do Evandro Almeida é cara, quer dizer, nós precisamos abri-lo. O acordo acabou sendo útil para que o carrossel não fique abandonado e por nos dar os recursos para que a gente possa recuperar o estádio. O contrato foi de 10 anos, autorizado pelo Conselho Deliberativo, com R$30 mil mensais. A parceria, pela forma que se deu, pode gerar até a construção de um centro de treinamento, que já estamos viabilizando com novos parceiros, com um dos espaços na alça viária. A partir do momento em que o Evandro Almeida estiver pronto, vamos direcionar os recursos para as áreas mais necessárias.
P – A torcida azulina anda meio ressabiada com o desempenho do time na Série C, se ausentando dos estádios na maioria das partidas do Remo em casa. Até que ponto isso influencia dentro e fora de campo?
R – Sou presidente do Clube do Remo, mas também sou torcedor. Sei que eles têm os motivos. Mas parte de cada um. O Remo hoje precisa como sempre precisou da sua torcida. Queria que todos os jogos fossem 20, 25 mil torcedores. Porque o apoio é fora de série, evidentemente que ajudaria o time a arcar com despesas e com novas contratações. Mas o time vai melhorar e não tenho dúvida que vamos juntos para a Série B.
(Matheus Miranda/Diário do Pará)