É inegável que a Copa São Paulo de Futebol Júnior manteve o seu charme ao longo dos anos. Talvez por ser a materialização daquilo que está na essência do esporte: garotos correndo atrás não apenas de uma bola, mas de seus sonhos, de vencerem na vida como jogadores de futebol. Eles sabem que o torneio é uma vitrine e vão se esforçar para chamar a atenção, a despeito de qualquer limitação técnica ou dificuldade estrutural dos times que defendem.
Por isso, nós vemos as partidas com certa tolerância, pois não se trata de qualidade. Não mais. Foi-se o tempo que um Dener, um Falcão, um Raí, surgia ali, já pronto para brilhar. Sim, Neymar também jogou a competição, mas é a exceção que confirma a regra. E, claro, boas apresentações, consistentes, só mesmo dos grandes clubes, com maior poder de investimento nas categorias de base – e nem tem muito tempo que eles se espertaram nesse sentido. A maioria não possui aspirações quanto a título, apenas reza para que algum empresário se interesse por um destaque seu e renda uma boa grana nessa negociação.
Confesso, é bacana assistir aos jogos pelo interior de São Paulo. Tem um ar nostálgico, de várzea. E digo isso não pejorativamente, pois a várzea brasileira já produziu muitos frutos e outros tantos jogaços. Exatamente por isso a nostalgia. O clima está ali, intacto. O que está perdido no tempo é o jogo bonito.
Nem vejo o inchaço da competição como possível razão. Pelo contrário, em termos de representatividade, a Copinha desbrava o território brasileiro (só o Amazonas não mandou equipe para a disputa). E isso é muito bom. Nos permite ter uma visão geral do futebol brasileiro e dá a oportunidade para um moleque dos rincões do Brasil de aparecer e roubar a cena. Basta um jogo, um lance, e pronto. A vida do garoto muda totalmente.
O que falta ao futebol de base no Brasil é um calendário mais robusto e regras para o desenvolvimento e aproveitamento dos jovens nos clubes. Algo que proporcione um ar mais profissional. Do jeito que está, vários times treinam o ano todo para disputarem uma competição de duas semanas aqui e outra igualmente curta ali. Dessa forma não tem trabalho que prospere e muito talento será desperdiçado.
Óbvio que isso não é prioridade, afinal, não há interesse em mudar a estrutura arcaica do futebol brasileiro. Depois do 7 a 1 da Alemanha, muito se falou sobre essa mudança de mentalidade. Ficou no discurso. Bastou um técnico (Tite) que acertasse as coisas dentro de campo para que toda a discussão fosse varrida para debaixo do tapete e os péssimos resultados tratados como meros acidentes. E, assim, o nosso futebol segue perdendo valiosas oportunidades.