De jogador problemático no Paysandu a ídolo da torcida do Ceará-CE. Esta foi a rota percorrida em apenas quatro meses pelo atacante Leandro Carvalho da Silva, de 22 anos, uma das últimas boas revelações da base do Papão. Ele foi um dos pilares que deram sustentação à campanha que levou o time cearense à elite do futebol brasileiro em 2018. Grato ao seu atual clube, para o qual está apenas emprestado até o final do ano, o jogador, no bate-papo a seguir, faz juras de amor ao Vozão, revelando que seu desejo é continuar no time alvinegro. Carvalho afirma que alguns jogadores do elenco do Papão não o queriam no grupo. O atacante elogia o ex-presidente Sérgio Serra, que o afastou do elenco, e diz, entre outras coisas, ter entendido a posição do técnico bicolor da época e atual comandante do Ceará, Marcelo Chamusca, que avalizou a punição aplicada pela direção bicolor, motivada pela ausência do atleta em um dos treinos do time, fato, aliás, corriqueiro na época em que o atleta esteve na Curuzu. Confira.
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Você se sente hoje um jogador mais amadurecido, apesar do pouco tempo que deixou o Paysandu?
Não posso dizer que já tenho também experiência, afinal de contas não faz tanto tempo, como você lembrou, que saí do Paysandu para vir aqui para o Ceará. Mas, com toda a certeza, estou sim um pouco mais amadurecido. Não é nenhuma grande experiência, contudo estou amadurecendo cada vez mais, convivendo com alguns companheiros de maior maturidade e que têm me orientado a seguir o caminho certo.
Existe de sua parte o interesse em continuar defendendo o Ceará-CE em 2018?
Claro que existe um grande interesse sim. Só que é uma questão de depende do Paysandu, que ainda é o dono dos meus direitos. Se dependesse só da minha decisão, com toda a certeza já teria até renovado o meu contrato com o Ceará. Mas tudo vai depender de negociações entre os clubes. Espero que no fim dessas conversas entre as diretorias eu possa continuar aqui no Ceará.
Olhando para trás, você se considera um jogador que foi perseguido na época do Paysandu?
Na verdade, eu não era perseguido pela torcida, com a qual eu sempre tive o melhor dos relacionamentos. Eu era perseguido, isso sim, por algumas pessoas de dentro do clube que não gostavam de mim. Isso, porém, nunca me abateu. Pelo contrário até fazia com que eu me fortalecesse cada vez mais. Mas esse Paysandu é passado. O que eu quero é continuar no Ceará e ser feliz aqui.
Você guarda alguma mágoa do ex-presidente Sérgio Serra, que o afastou dos treinos do time, o colocando, ele afirmou, como “um ativo do clube”?
De forma alguma. O Serra, na verdade, foi uma pessoa que me ajudou bastante. Não tenho nada que me queixar dele. Ele sempre teve a coragem de chegar comigo e falar na minha cara o que pensava. O Serra sempre elogiou o meu talento e sei que o que ele falava era para o meu bem. Foi um dirigente que me ajudou bastante dentro do Paysandu. Sempre tive por ele e continuo tendo o maior respeito por ele ser uma pessoa sincera e que tentou me ajudar.
Qual a sua participação na campanha do acesso do Ceará à elite do Brasileiro?
Acho que pude ajudar o grupo. Não só eu ajudei, mas também fui ajudado, com certeza. Houve a união de todos e isso contou bastante para a campanha que fizemos. Acho que esse foi o ponto que mais contou na nossa participação de sucesso na Série B, a união do grupo. Espero que esse tipo de coisa continue acontecendo nos próximos anos aqui.
O fato de ter sido recomendado ao Ceará pelo técnico Marcelo Chamusca, que concordou com o seu afastamento do elenco do Paysandu, o surpreendeu?
Entendo bem o lado do Chamusca. Ele não podia ir contra a posição da diretoria, do presidente e de alguns jogadores que não me queriam no grupo. Existiam uns cinco jogadores que não me queriam no elenco. Por isso ele acabou tendo de aceitar o meu afastamento. Depois tivemos uma conversa, eu e o Chamusca, e ele me explicou o que havia acontecido.
O seu relacionamento com o treinador, então, nunca ficou abalado?
Não. A nossa relação sempre foi muito boa, tanto lá no Paysandu como aqui no Ceará. A gente sempre conversa bastante. Ele tem me ajudado bastante, me orientando com conselhos importantes. Espero que aqui ou em qualquer outro clube que eu venha a ser treinado por ele a relação continue sendo a mesma ou até melhor.
Embora você não tenha disputado ainda o Clássico Rei, envolvendo Fortaleza e Ceará, dá para sentir a mesma rivalidade que há entre Remo e Paysandu?
Tenho a impressão que aqui em Fortaleza a rivalidade entre os dois principais clubes é bem maior que as de Remo e Paysandu.
Qual a relação que você tem com a torcida do Ceará?
É muito boa. O torcedor do Ceará me recebeu muito bem. Até esses dias postei uma mensagem agradecendo esse apoio caso eu estivesse fazendo o meu último jogo pelo time, contra o ABC-RN. Recebi várias mensagens de torcedores me elogiando e, ao mesmo tempo, me desejando boa sorte. Isso mostra o quanto o torcedor do Ceará me abraçou e é uma coisa que ficará marcada para o resto da minha vida.
Como você, de longe, viu o Paysandu não chegar ao acesso, que era a grande meta do clube? Você se sentiu vingado?
Na verdade, não foi uma vingança. Como eu disse, o torcedor do Paysandu nuca teve nada contra a minha pessoa. Algumas pessoas que estão lá tentaram me jogar contra a torcida. Mas Deus fez com que eu viesse para o Ceará e pudesse dar a volta por cima. Comemoramos o acesso e pessoas lá dentro do Paysandu que me viram festejando a ida do nosso time para a Série A devem ter ficado com mais raiva ainda. Ver essas pessoas que tentaram me prejudicar enraivecidas, com certeza, me deixou muito feliz. Eles viram que não é fácil me derrubar.
(Nildo Lima/Diário do Pará)