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Grupo de risco: ídolo do passado bicolor se cuida contra o coronavírus

O indesejável chegada do Covid-19 ao Pará, mudou, assim como a de quase todos os brasileiros, a rotina do ex-jogador Carlos Alberto da Silva Cavalcante, o Beto, de 75 anos. Ídolo do Papão, pelo qual jogou durante 14 anos, conquistando seis títulos estaduais e participando de jogos memoráveis, entre eles a vitória, por 3 a 0, sobre o Peñarol, em 1965, Beto tem seguido as orientações médicas para evitar o contágio do vírus.

O ex-jogador conta que tem saído pouco de casa e adotado algumas práticas preventivas, embora algumas delas não sejam novidades em sua vida. “Hoje vejo meus filhos seguindo orientações que sempre recomendei a eles de lavar as mãos constantemente”, diz. Ele próprio tem adotado, por exemplo, o uso de três sandálias para uso dentro e fora de casa. “A gente sai, vai a rua e na volta traz, como sempre ocorreu, muita coisa ruim para a nossa saúde”, salienta Beto. Ele admite que por ter mais de 60 anos está incluído em um dos chamados grupos de risco, mas confia ter saúde de sobra. “Tem idoso forte e eu acredito ser um deles”, diz.

O ex-meio-campista acredita que por sempre ter cuidado de seu condicionamento físico leva vantagem em relação a outras pessoas de sua idade para encarar o momento de dificuldade. “Num teste físico com pessoas de minha idade e que não costumam cuidar da parte física, acredito que levo boa vantagem”, compara. “Mesmo assim procuro tomar as minhas precauções”, revela. O fato de vir passando grande de seu tempo em casa serve até como mote de brincadeira pelo ex-craque. “Se saio de casa a polícia me prende, se saio a família briga comigo, então tenho de sair só mesmo em extrema necessidade”, argumenta.

A proliferação do Covid-19, porém, não afetou apenas os hábitos domésticos do ex-atleta, digamos assim. A suspensão das partidas de futebol em todo o Brasil também vem mexendo com a rotina do ídolo da Fiel. Acostumado a frequentar os estádios, Beto admite que vem sentindo muita falta do futebol. “Vou aos estádios por gostar muito de futebol e também para encontrar com amigos. O futebol sempre foi para mim momento de diversão e reencontro com velhos e novos amigos. Isso, com toda a certeza, me faz muita falta”, explica.

Beto, pai de três filhos, entre eles uma biomédica que trabalha em Bragança, confia que a pandemia do Covid-19 será superada em breve. “Não confio que isso vá durar por muito tempo”, prevê o ex-jogador.

AVALIAÇÃO

Suspensão dos jogos foi decisão acertada

Beto acredita que a suspensão das competições de futebol, entre elas o Parazão, foi uma medida coerente adotada por parte das federações e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Acho que foi uma atitude correta”, afirma. “Nos estádios acontecem grandes aglomerações e entre as pessoas que costumam ir aos jogos existem aqueles que pertencem aos chamados grupos de risco, como os idosos, por exemplo, que estão mais vulneráveis ao contágio e que podem ser levados à morte”, observa.

Ainda sobre a suspensão dos jogos ele ratifica: “Acredito que a suspensão dos jogos foi uma medida de prevenção bastante aceitável”, diz. Ao mesmo tempo, Beto ressalta que a paralisação das competições poderá, no futuro, ser prejudicial a alguns clubes brasileiros, sobretudo aqueles que não possuem grandes torcidas e, consequentemente, sólidas fontes de arrecadação. “Os chamados clubes emergentes, que no nosso caso costumam sobreviver às custas de Paysandu e Clube do Remo, com todo o respeito, não vão ter como manter a estrutura mínima que possuem”, aponta.

O fato de a CBF já ter sinalizado de forma negativa com ajuda financeira, na avaliação do ex-jogador é mais um fator prejudicial aos clubes, sobretudo aos chamados emergentes. “Acho que a CBF deveria dar essa ajuda. A entidade, com toda a certeza, dispõe de recursos para amparar os clubes neste momento de dificuldade. Se não faz é porque não quer mesmo”, critica.

Beto tem um histórico de superação

Ex-jogador, que atuou no emblemático jogo contra o Peñarol, já passou por algumas provações na vida / fotos: divulgação

SAÚDE

Aos 75 anos de idade, o ex-jogador Beto aparenta ser uma pessoa saudável, mas ele tem em seu histórico de vida a superação de alguns problemas de saúde, alguns de relevante gravidade para a época em que ocorreram. Foi o caso, por exemplo, da tuberculose que ele adquiriu em 1965, quando ele contava com 20 anos de idade. Na época, conta o ex-jogador, ele tinha um ritmo de vida bastante acelerado, com diversas atividades e, consequentemente, pouco tempo para o ócio, conforme explica.

“Eu morava em Icoaraci, servia ao Exército, estudava à noite, fazendo preparação física tanto no quartel quanto no Paysandu, onde eu já era jogador”, detalha. “Chegava em casa, depois de pegar o último ônibus, por volta de meia-noite. Era quando eu almoçava e jantava, numa alimentação desregrada. Acabei sendo hospitalizado, recebendo o diagnóstico informando que eu estava com um desgaste muito grande. Tive um tratamento de seis meses até me recuperar, jogando por dez anos”, recorda o ex-atleta, que tinha, na época, 20 anos de idade e era, conforme afirma “um moleque fogoso”.

Em 2000, ao doar sangue para a sua cunhada, Beto tomou conhecimento que era portador de hepatite C. A partir dali, ele voltou a travar um novo duelo bem mais importante que qualquer partida disputada dentro das quatro linhas: pela sobrevivência. Até hoje o ex-jogador dá continuidade à luta contra o que ele chama de “vírus silencioso.” “Hoje estou tomando medicação que está acabando com a doença. É um medicamento mais eficaz que o outro que eu fazia uso e que não surtia tanto efeito, embora seja apenas um comprimido. É tratamento bem diferente do anterior, que apresentava efeito colateral muito forte”, explica Beto.

A hepatite C, conforme salienta o ex-meio-campista, até como um alerta as pessoas, costuma levar a uma cirrose hepática e a câncer de fígado. Beto recomenda que as pessoas façam sempre exames para evitar o contágio da doença ou o seu agravamento. O histórico médico e de superação do ex-atleta talvez seja o motivo que leva Beto a ser tão otimista quanto à superação da pandemia do Covid-19 em breve. Que ele esteja com a razão, embora o quadro da doença no mundo não seja nada animador.

E MAIS…

Ao longo dos 14 anos de carreira profissional, o ex-jogador Beto acumulou conquistas que o fazem figurar, hoje, na galeria de grandes craques que vestiram e vestem a camisa do Paysandu nos mais de 100 anos de história do clube. Só campeonatos estaduais, ele conta com seis títulos: 1965, 66, 67, 69,71 e 72. Antes, porém, ele já havia tido outras conquistas no juvenil do clube, categoria em que começou na Curuzu, vindo do modesto Santos, de Icoaraci.

O ex-meio-campista, nascido na passagem das Flores, quando essa, segundo ele, “ainda tinha realmente flores”, chegou à Curuzu quando tinha 19 anos. Sua primeira missão ao deixar o juvenil do Papão foi das mais espinhosas: substituir nada mais, nada menos a legenda do clube chamada pelo apelido de Quarentinha, que havia se submetido a uma cirurgia. Mas Beto não negou fogo e tanto que após a volta de Quarenta, o treinador da época foi obrigado e encontrar uma vaga para o jovem meio-campista na equipe.

Em 1965, lá estava Beto enfrentando o Peñarol, em jogo que entrou para a história do clube e do futebol brasileiro. A partida, claro, apesar de passados tantos anos, ainda está viva na memória do ex-craque. “Vencemos por 3 a 0, gols do Ércio, Milton Dias e do Pau Preto”, recorda Beto, que é um dos responsáveis pela preservação da história do Paysandu, promovendo todos os anos a vinda a Belém de craques que defenderam o clube nas mais diferentes épocas. Este ano ele espera dar continuidade a promoção sem nenhuma preocupação com o Covid-19. Que assim seja.

 (Diário do Pará)
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