É uma trajetória única no futebol do Pará. João Brigatti fez tudo ao contrário do que os manuais recomendam em termos de relação profissional com um clube. Senão, vejamos: ele era o técnico que comandava o PSC no rebaixamento da Série B em 2018, realizando uma campanha errática, com direito a eliminação na última rodada – e com goleada (Atlético-GO 5 a 2, na Curuzu).

Não ficou nisso. Quando todos esperavam que fosse dispensado no final da temporada, ele novamente contrariou a lógica. Contra todas as previsões, ele foi mantido pela diretoria para a disputa do Campeonato Paraense de 2019. Depois do primeiro Re-Pa, acabou demitido intempestivamente.

Um episódio até hoje mal explicado envolvendo o zagueiro Micael tornou ainda mais conturbada a saída do técnico. Mais ou menos como ocorreria depois com Hélio dos Anjos, Brigatti caiu atirando. Em meio a críticas generalizadas à diretoria, atacou diretamente o mandatário bicolor.

Criou-se uma situação que os especialistas em conflitos laborais classificam de um caso perdido, principalmente pelo fato de o técnico ter queimado pontes após a rescisão de contrato.

Mas, de repente, para atestar que o futebol tem razões que a própria razão desconhece, eis que Brigatti foi procurado para reassumir o comando técnico depois que Matheus Costa saiu e levou com ele o auxiliar Leandro Niehues. Reabilitado, o ex-técnico da Ponte Preta protagonizou na segunda-feira uma reapresentação que nem os maiores adivinhos teriam dificuldade em prever um ano atrás.

Com as juras de amor protocolares, incluindo beijo no escudo, Brigatti assumiu oficialmente o elenco disposto a recomeçar sua história na Curuzu após duas passagens – a primeira foi como auxiliar de Dado Cavalcanti.

Tão pavio curto quanto Hélio dos Anjos, embora mais midiático, Brigatti tem boas chances de recolocar o Papão no trilho, o que significa voltar a brigar diretamente pela classificação à próxima fase, ambição que havia sido deixada de lado quando o time caiu para a oitava colocação.


Com a vitória sobre o Treze, ainda com Niehues, o time voltou à disputa. Com 15 pontos, ganha vida nova no grupo A e entra no bolo dos que brigam pela última vaga do G4 – levando em conta que Santa Cruz (27), Vila Nova (23) e Remo (22) já têm a classificação encaminhada.

Brigatti vai estrear contra o Manaus, um concorrente direto pela vaga. Tem a semana toda para treinar e conviver com o elenco, quase todo renovado em relação ao começo do ano passado. Será uma das últimas apresentações de Vinícius Leite, cuja saída já foi confirmada. Achar uma alternativa para o atacante é um dos grandes desafios do novo-velho comandante.

Uma coisa é certa: Brigatti já demonstrou, com o próprio retorno ao clube, grande capacidade de sobrevivência e até de ressurreição.

Uma nova oportunidade para o ex-xerife azulino

Mimica nunca foi capitão efetivo no Remo. Apesar disso, sempre representou segurança e liderança no setor defensivo, tendo a regularidade como maior credencial. Em 2019, foi prejudicado por lesão grave, que o tirou de vários jogos. Com Mazola, teve poucas oportunidades. No único momento de instabilidade, acabou perdendo espaço. Com Bonamigo, reapareceu contra o Imperatriz, fazendo dupla com Rafael Jansen.

O rendimento da defesa foi tranquilo e seguro, mesmo levando em conta as limitações do adversário. A combinação do estilo técnico de Jansen com a seriedade do jogo de Mimica foi posta à prova por 90 minutos e o resultado parece ter sido bem avaliado pelo técnico.

É interessante a maneira como o treinador vem observando seus zagueiros. Deu chance a todos e criou duplas diferentes ao longo dos cinco jogos em que comandou o Remo: Jansen/Alemão, Jansen/Fredson e Jansen/Mimica. Por óbvio, Jansen é o titular e os demais brigam pela segunda vaga.

Mimica ganhou pontos pela partida contra o Imperatriz, principalmente pelo entendimento com Jansen. Até a virada do ‘turno’, a defesa remista era a menos vazada, com apenas cinco gols. Agora, com oito gols sofridos, continua bem situada: ocupa o 2º lugar, atrás apenas do Vila Nova, com 6.

Por coincidência, o Vila é o próximo adversário do Leão. O time goiano está na vice-liderança e conta com um time bem entrosado, dirigido por Bolívar. Além da zaga ajustada, a parte ofensiva merece respeito. É aí que entrada a necessidade de um forte bloqueio de última linha. Pela seriedade, Mimica é forte candidato a entrar jogando.

Um pandemônio chamado Campeonato Brasileiro

Quem pega a tabela de jogos do Brasileiro fica confuso com os buracos existentes, provocados por sucessivos adiamentos, o que torna a classificação desigual e enganosa. A pandemia causou um pandemônio, não que a CBF não esteja acostumada a bagunçar com datas e horários das competições. Desta vez, porém, a coisa extrapolou todos os limites.

No momento, 10 times da Série A têm partidas em atraso na reta final do turno. A confederação demora a reprogramar e, por esse motivo, os clubes vivem a estranha situação de atrasos ainda da primeira rodada.

O adiamento de três jogos para priorizar as finais dos campeonatos mineiro, gaúcho e paulista complicou de vez a situação. Palmeiras x Vasco, por exemplo, lá da 1ª rodada, ainda não tem data confirmada.

Para suportar o impacto da pandemia, a CBF diminuiu o intervalo entre as partidas, passando de 66 horas para 48 horas, expediente ainda não utilizado. Mas, pelo jeito, será inevitável colocar a regra em prática.

Não há ilegalidade no retardamento de jogos, mas é fato que partidas atrasadas podem influir no resultado final dos campeonatos e na definição de vagas para a Libertadores, assim como para rebaixamento.

Direto do Twitter

“O treinador argentino Coudet, do Inter, falou que acha um absurdo o Brasil sacrificar seu talento, os jogadores, com um calendário em que não descansam, e gramados ruins em que se contundem. Só pensei numa coisa: eternamente uma sociedade escravocrata”.

Marcelo Rubens Paiva, escritor

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