Morre o gênio da tabelinha
O mundo do futebol perdeu ontem um gigante. Morreu Coutinho, grande parceiro de Pelé nas diabruras que aquele fantástico ataque do Santos aprontava nos anos 60. Nos últimos tempos, quase não se falava mais nele, como também pouco se fala em Pelé. Coisa absolutamente normal nestes tristes tempos de memória esmaecida e pouco carinho pelos cracões do passado. Só há o impulso de homenageá-los quando já estão partindo, o que soa inevitavelmente injusto e até ingrato.
Coutinho foi um gênio da grande área, acima de Ademir Menezes, Pagão e Baltazar, seus antecessores naquela faixa de campo tão disputada. Maior que Vavá e Toninho Guerreiro, contemporâneos seus. Veio um pouco antes de Tostão aparecer, fulgurante e cheio de estilo, no Cruzeiro e na Seleção do tricampeonato mundial. Como ele, o mineiro era um camisa 9 que fazia da habilidade sua marca registrada para abrir defesas.
Depois de Coutinho, o Brasil viu o surgimento de Reinaldo, Romário, Bebeto e Ronaldo, que confirmaram a vocação brasileira para produzir centroavantes de perfis absolutamente diferentes. O próprio Coutinho era um jogador diferenciado, de toque refinado e disparo sempre de primeira, como se estivesse sempre com o dedo no gatilho.
Tinha extraordinária capacidade de driblar e trocar passes em frações de segundo. Tão genial que só conseguiu estabelecer diálogo com outro gênio da bola, sua majestade, o Rei Pelé. Ambos eternizaram a tabelinha como gazua capaz de furar qualquer bloqueio de marcação. Dupla tão afinada quanto Lennon & McCartney, que, por sinal, estavam surgindo naqueles anos incríveis. Integrante imortal da linha clássica do Peixe: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.
Ao contrário do Rei, Coutinho não foi valorizado como deveria. Seus gols não são reprisados na TV, mas estão no YouTube para quem tem tempo e paciência para procurar preciosidades. Por ironia, a parceria que o consagrou talvez seja responsável pelo ostracismo porque Pelé, sendo Pelé, acaba sempre visto em primeiro plano.
Um de seus grandes momentos foi em setembro de 1962, pelejando contra a violenta defesa do Benfica, no Maracanã. O segundo gol santista teve até balãozinho dentro da área. Muitos narradores de rádio chegaram a cantar a sensacional jogada como de autoria de Pelé. Não era. Na verdade, Coutinho foi o executor do inspirado lance, tão brilhante que parecia coisa de Rei.
Naqueles tempos, circulava em tom de piada uma quase verdade: como eram muito parecidos fisicamente, quando uma tabelinha funcionava espetacularmente o mérito era atribuído ao Rei; quando algo saía errado, Coutinho era apontado como o autor da jogada ruim. Por isso, às vezes, usava uma fita branca de esparadrapo para se distinguir do parceiro mais famoso.
Apesar do esquecimento a que os heróis santistas foram relegados, Coutinho continuou vivo na memória dos cultores do futebol bem jogado, das fintas rápidas, do chute de primeira e das manobras de alto nível na área, embora longe dos olhos da molecada que hoje se encanta ao ver qualquer perna de pau de fim de semana.
Hoje, como tributo e obrigação histórica, deve-se lembrar aos mais jovens que Coutinho era um monstro correndo em direção ao gol. Letal dentro da área, um azougue com e sem bola. Marcou 368 gols em 457 jogos pelo grande Santos, ficando em 3º lugar na lista dos artilheiros do clube.
Papão ensaia processo de qualificação do elenco
Correm notícias a respeito do interesse que o Papão tem em reforçar elenco trazendo mais quatro jogadores: um zagueiro, um volante, um meia-armador e um atacante. A situação tranquila no Campeonato Paraense favorece a prospecção sem açodamentos e longe da pressão que vem da necessidade imediata.
Líder em seu grupo, praticamente classificado às semifinais do Parazão, o PSC se mantém invicto e jogando na medida certa para não tropeçar diante de adversários tecnicamente inferiores. É, portanto, o momento ideal para começar o esforço final de preparação para o Brasileiro da Série C, que começará uma semana após o fim do Estadual.
Estranhei apenas a falta de um lateral-esquerdo na lista dos jogadores a serem contratados. Tendo Bruno Oliveira como único especialista na posição, o técnico João Brigatti tem sido obrigado a improvisar o zagueiro Fábio Alemão nos últimos jogos, devido à contusão sofrida pelo titular.
Para o ataque, onde Paulo Rangel começou bem e depois caiu de rendimento, há a necessidade de outro jogador de referência. João Leonardo, ex-Bragantino, não conseguiu se destacar a ponto de merecer uma chance entre os titulares. Os demais seis atacantes do elenco não têm o perfil para jogar no centro do ataque.
É na meia-cancha, porém, que reside a grande carência. O campeonato não fez o problema se manifestar de forma aguda, até mesmo pela baixa qualidade técnica dos competidores, mas é óbvio que o setor de criação segue em aberto, sem um ocupante confiável. Tiago Primão e Leandro Lima ainda não se mostraram capazes de garantir ao time a criatividade necessária para propor um jogo mais envolvente.
Brigatti certamente estará envolvido na busca pelos reforços. Ele demonstra sua inquietação ao lançar um olhar de observação sobre jogadores que atuam no Parazão. Alexandre, do S. Francisco, e Michel, do Paragominas, estariam no radar do treinador. Ao fazer isso, mesmo que os negócios não se concretizem, o treinador mostra profissionalismo e noção de realidade.