Rodada de tédio e desespero

O Campeonato Brasileiro terminou ontem com a confirmação de mais um recorde palmeirense: foi a primeira vez que um clube venceu o returno da competição de forma invicta. O título já estava garantido e o triunfo sobre o Vitória serviu apenas para a entrega da taça. O que seria a rodada de coroamento do torneio voltou a ser um evento esvaziado, sem qualquer apelo, a não ser para os torcedores campeões e para os aflitos adeptos de times que corriam perigo de descenso.

A emoção ficou por conta da definição dos times rebaixados, como já se tornou quase hábito nas competições de pontos corridos. Dos cinco times que entraram na rodada final lutando para escapar ao rebaixamento dois eram times tradicionais, da chamada linha de frente do futebol no Brasil.

Fluminense e Vasco proporcionaram às suas torcidas momentos de exasperação e angústia, ontem à tarde. Ambos já foram rebaixados antes. O Vasco caiu três vezes e o Tricolor uma vez, sendo que foi salvo por viradas de mesa em outras duas.

América-MG e Sport Recife acabaram preenchendo as duas vagas do rebaixamento – Vitória e Paraná Clube caíram por antecipação. Os mineiros tinham o desafio de passar pelo Fluminense no Maracanã. Quase conseguiram, mas a falta de pontaria impediu que duas grandes chances de gol fossem aproveitadas logo quando o placar estava 0 a 0.

Luan perdeu uma penalidade aos 24 minutos, batendo fraco e rasteiro, para boa defesa do goleiro Julio César. O mesmo Luan desperdiçou uma oportunidade dentro da pequena área, tocando muito fraco e facilitando a cobertura da atrapalhada defesa tricolor.


Depois do jogo, Givanildo Oliveira estranhou que o pênalti não tenha sido cobrado pelo batedor oficial da equipe, o centroavante Rafael Moura. Soube-se depois que He-Man preferiu passar a bola (e a responsabilidade) para Luan.

Em Fortaleza, na Arena Castelão, o Vasco – sem Pikachu – penou para segurar o empate sem gols contra o Ceará, que buscava conquistar vaga na Sul-Americana 2019, com o incentivo de mais de 55 mil torcedores.

Acompanhei os dois jogos e a baixa qualidade das equipes fazia pensar em muitos momentos que os emergentes eram justamente os donos das camisas mais pesadas, tal a infinidade de erros de passe, posicionamento e incapacidade de chutar corretamente na direção do gol.

O Flu ainda se safou aproveitando uma cobrança de escanteio, mas viveu mais da atuação inspirada do goleiro Júlio César. O Vasco também bateu cabeça em muitos momentos e ainda abusou das falhas de finalização.

Pode-se dizer, sem erro, que os dois representantes cariocas laçaram o boi na rodada, salvando-se mais pela incompetência de seus concorrentes diretos do que por seus méritos. O Sport até venceu o Santos, mas dependia de tropeços dos adversários para escapar da degola.

Vasco e Flu ganham mais um ano para tentar readquirir o respeito de suas torcidas e do mundo do futebol. Será preciso, porém, um trabalho hercúleo para sair do estágio atual.

 Negócios que a CBF tenta, mas não consegue explicar

Há poucos dias, comentei aqui o esquema envolvendo a comercialização de direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro para o exterior. A licitação premiou uma ex-empresa do ramo de móveis e o contrato terminou sendo firmado com um grupo sediado nos Estados Unidos.

Ontem, a Folha de S. Paulo publicou reportagem de Diego Garcia e Sérgio Rangel informando que a empresa escolhida pela CBF para a exploração das placas de publicidade dos jogos da Seleção nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, a Propaganda Estática Internacional, é antiga parceira de negócios do ex-presidente, Marco Polo Del Nero.

Com o cartola à frente da Federação Paulista de Futebol, o grupo presidido pelo empresário Ronaldo Montenegro intermediou a publicidade nas placas ao redor do campo nos jogos do Paulistão por mais de uma década.

A matéria mostra que a Propaganda Estática tem contratos com a FPF desde 2003, mesmo ano em que Del Nero virou presidente da instituição. A empresa foi a vencedora de todas as licitações desde então, com faturamento líquido de R$ 50 milhões no negócio.

Del Nero deixou a federação em 2015 para assumir a CBF, de onde saiu três anos depois, banido pela Fifa por suborno e corrupção. Mesmo depois de sua derrocada, o cartola conseguiu que Propaganda Estática Internacional fosse vencedora na licitação da CBF com oferta de US$ 1,25 milhão (R$ 5 milhões) por partida da Seleção em casa no torneio classificatório para o Mundial de 2022, no Qatar. Como são nove jogos, a empresa vai desembolsar R$ 45 milhões pelo contrato.

Curiosamente, a Folha informa que a Propaganda Estática atualmente está em situação de pendência judicial na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), por briga entre os sócios. Ronaldo Montenegro garante que não tem relação de amizade com o ex-chefão da CBF.

Desde 2010, o empresário investe nos EUA. Nos últimos anos, teve mais de 30 companhias no país de Donald Trump. Atualmente, seis ainda estão em seu nome. Uma delas, a Guijulu LLC, possui como endereço principal a rua Kingspointe Parkway, 7901, suíte 17, em Orlando.

Vem a ser o mesmo endereço no qual está registrada a Finview Real Estate LLC, de propriedade de um dos filhos de Del Nero e que tem possui em seus registros americanos um imóvel em nome do cartola.

A firma de Marco Polo Del Nero Filho nos EUA possui um braço em Tortola, nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal onde eram distribuídas propinas de cartolões da Fifa. Tantas coincidências fazem pensar – e desconfiar, principalmente quanto à condução de negócios milionários pela CBF, que já foi propriedade de Teixeira, Marin e Del Nero.

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