Certa vez, o cantor Dinho Ouro Preto lamentou em suas redes sociais que a cena do rock estava muito dividida nos tempos atuais. Ele pregava: “Falta uma banda que una todas as tribos, como foi o Norvana!” dizia, se referindo à banda Nirvana. No futebol paraense, onde o mais leve sinal de aliança entre Remo e Paysandu gera onda de choques e conflitos entre os torcedores mais fanáticos, o Pinheirense fez o papel de “Norvana” da vez. Para apoiar a conquista inédita das meninas de Icoaraci, as tribos de torcedores de Paysandu, Remo, Tuna e companhia se uniram e fizeram um grande e pacífico pavilhão de mais de 10 mil pessoas no estádio da Curuzu.
Na família Pantoja, o pai José Maria, 53, e a filha Laura, 14, trajavam azul-marinho. No meio dos dois, a mãe Josiane vestia uma camisa alviceleste comemorativa da vitória por 7×0 sobre o Remo. “Na verdade, é a primeira vez que eu venho aqui. Como em casa eles são todos azulinos, acabam me levando só nos jogos do Remo”, explicava Josiane. O pai, apesar da paixão clubística, não negava que o clima era ótimo no estádio do rival. “Olha, havia tempo que eu não vinha aqui. Já tinha vindo em outros, mas tinha muito tempo. E está bom, está muito bom. Especialmente pela torcida”, afirmou José Maria.
Para a filha do casal, que atua como goleira no time sub-16 de futsal do IFPA, assistir a partida tinha um plus. Era uma forma de valorizar o trabalho de colegas que militam no futebol feminino. “Eu sempre acompanho. Tenho amigas que jogam no feminino do Paysandu, hoje estão no Pinheirense. Meu treinador sempre elogia muito a Aline Costa, e o trabalho dela”, comenta.
Laura espera que o título do Pinheirense sirva de suporte para uma mudança no panorama do futebol feminino em nível local. “Acho que o futebol feminino é muito discriminado. Pelo fato de sermos mulheres, acham que somos indefesas, frágeis, que somos incapazes. E estamos aqui para mostrar que não é assim!”, definiu a torcedora.
(Taion Almeida/Diário do Pará)